Publicado em 17 de maio de 2020 às 07:32
Militantes bolsonaristas têm mudado a estratégia para os atos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em vez de grandes manifestações, os organizadores agora optam por eventos menores e mais frequentes. Eles reconhecem que houve uma mudança de tática, mas negam que seja para mascarar uma perda de base para aglomerações de maior porte.>
Fato é que, em termos de números, os protestos perderam força, sobretudo na capital federal. Há, de todo modo, receio de que a pandemia de Covid-19 e a perda de apoio a Bolsonaro resultem em atos esvaziados.>
"A gente está considerando que os ataques ao nosso presidente estão sendo feitos de maneira muito sistemática. E a gente percebe a importância de o povo estar nas ruas e mostrar que está com nosso presidente", afirma Winston Lima, do Movimento Brasil. "Se a gente espaçar muito, em um mês vai acontecer muita coisa contra o nosso presidente, muitas vezes até de maneira arbitrária.">
Comandante Winston Lima, como é chamado o militar reformado, acrescenta que os protestos mais frequentes, mesmo que menores, apresentam impacto maior. Isso porque seria possível manter na mídia e nas redes sociais o clima de mobilização.>
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O militante reconhece que o número de pessoas nos atos pode ser menor, mas defende que isso também ocorre porque muitos não descem dos carros, por causa do coronavírus. Ele defende que de 15 mil a 20 mil veículos participam das carreatas número que não pode ser confrontado pois não há medição oficial.>
Este fim de semana será o quinto seguido com manifestações em Brasília. O roteiro será o mesmo: começa com uma carreata e depois segue-se um ato na região da Esplanada dos Ministérios.>
Os protestos agora semanais também em geral terminam com algumas centenas de pessoas em frente ao Palácio do Planalto, na esperança de que Bolsonaro apareça para cumprimentá-los. No dia 3, na última participação do presidente, ato com faixas pedindo intervenção militar terminou com jornalistas agredidos.>
A Polícia Militar do Distrito Federal informou que não divulga mais estimativas de público em eventos. Imagens aéreas das aglomerações, no entanto, sugerem redução no número de participantes.>
Além disso, uma análise dos protestos deixa claro que muitas caravanas presentes nos atos se repetem. Nas últimas semanas, grupos passaram a se estabelecer permanentemente em Brasília. O exemplo mais notório é o 300 do Brasil, que chegou a ter um acampamento em frente ao estádio Mané Garrincha e vem participando de todos os atos.>
Um militante também relatou à reportagem que bolsonaristas de diversas partes do país viajaram por conta própria para a capital federal, onde foi criada uma rede de apoio. Dezenas deles são hospedados por moradores de Brasília, a fim de manterem sua militância por período prolongado.>
Esses grupos também passaram a figurar no dia a dia do presidente: parte segue até o Alvorada para cantar gritos de guerra por ele e uns poucos ficam a postos para quando Bolsonaro aparece de surpresa na rampa do Planalto.>
Especialistas afirmam que Jair Bolsonaro ainda mantém uma base considerável, mas que a fase de adesão ao bolsonarismo ficou para trás.>
"Em 2018, nós tínhamos um encontro do bolsonarismo raiz com a classe média, presente no lavajatismo, que resultava numa grande massa de eleitores e nas ruas", diz o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco Antonio Lavareda.>
Ele explica que essa massa sofreu duas defecções. A primeira resultante do desgaste natural de um governante. A outra, mais expressiva, envolve admiradores da Operação Lava Jato, desiludidos com a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça.>
Três dias após a demissão do ex-juiz do governo, pesquisa Datafolha mostrou que Bolsonaro era aprovado por um terço dos brasileiros. Além da queda de popularidade, o surto de coronavírus também desestimula a participação em atos públicos.>
"Mesmo entre bolsonaristas, a maioria é cautelosa em relação ao tratamento dado ao vírus. No nível pessoal, o medo se sobrepõe", diz Lavareda. Por outro lado, apoiadores do presidente acreditam que o governo se encontra sob intenso ataque, sobretudo por parte do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.>
"Manter manifestações e carreatas constantes é uma espécie de aviso contra qualquer iniciativa de impeachment", afirma o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio.>
Ismael avalia ainda que Bolsonaro perdeu força com as demissões de ministros populares --ele cita também o ex-titular da Saúde Luiz Henrique Mandetta. No entanto, afirma, uma das formas para compensar a situação seria a politização do enfrentamento ao coronavírus. "Ele tem um jogo político que consegue manter apoio.">
A também organizadora de protestos Meire Cruvinel, por sua vez, diz que os atos mais frequentes se devem à luta para reverter as políticas de isolamento social para evitar prejuízos para a economia.>
"Os empresários não estão mais conseguindo ficar com o comércio fechado e está indo todo mundo pra rua, em carreata, solicitando que o comércio seja aberto e que volte, segundo o protocolo de saúde, o mercado econômico", diz.>
Questionada se uma eventual convocação para grandes protestos atingiria o mesmo número de participantes no passado, Cruvinel responde: "Seria muito maior". "Os governadores [responsáveis pelas políticas de isolamento social] estão despertando no povo um patriotismo. A fome dói.">
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