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Sempre alerta diante das atuais ocorrências políticas

Surpreendo-me com a convocação pública para um desagravo em massa em favor do presidente da República e, em consequência, em hostilidade ao parlamento brasileiro

  • Cariê Lindenberg
Publicado em 27/02/2020 às 17h37
Congresso Nacional, em Brasília. Crédito: Arquivo/Agência Brasil
Congresso Nacional, em Brasília. Crédito: Arquivo/Agência Brasil

Quando ainda criança, desfrutei da alegria cívica ao participar, sempre alerta, de um dos inúmeros grupos de escoteiros que existiam para jovens ligados à terra e outros ao mar. Foram permanentemente auspiciosas aquelas primeiras lições de conduta e de obediência civil hierárquica que ali recebemos. Esses memoráveis tempos se constituem em um permanente ensino adequado de relacionamento cívico-humano.

Em um segundo momento, ainda mais duro e rico, ainda tive a alegria de estudar durante dois anos na cavalaria do Centro Preparatório de Oficiais da Reserva, CPOR-RJ. Lá convivi com uma rígida disciplina comum aos militares, que nos impregnam do fervor pertinente ao valor cívico da hierarquia, algo que é essencial ao relacionamento humano.

Bem mais tarde, outrossim, estive também muito próximo ao poder civil central enquanto assistente do ministro da Justiça Dr. Eurico Aguiar Sales, no governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira. Circunstancialmente, apenas pelo tempo de um mandato, ainda assessorei o meu pai, durante três anos e meio, enquanto governou o Espirito Santo. Experimentei ainda, por cerca de dois anos, a chefia de gabinete de Dr. Napoleão Fontenelle da Silveira, presidente do Serviço Social Rural, hoje Incra.

Da mesma forma que acatei e aplaudi a hierarquia militar, presumo que todos os demais colegas se mantiveram convictos de que a vida civil dos povos requer também atenções especializadas. Isso é essencial não apenas em relação à conduta de quaisquer dos profissionais que fazem o país. Todos os brasileiros deveriam manter como primeira preocupação o mais completo bem-estar e satisfação dos seus compatriotas. Especialmente, é claro, quanto aos que detenham carreira pública.

De uns tempos pra cá, tenho me sentido mais desnorteado e surpreso à vista das impensáveis ocorrências políticas de civis e certos militares, na ativa ou reserva, ora desorganizadas e desordenadas, ora irreverentes ou desproporcionalmente rudes e deseducadas em suas intervenções. Com elas o Brasil vem agredindo alguns povos de nossa melhor relação, bem como categorias tidas como menores em nossa sociedade.

Há algum tempo, digamos que pouco mais de um ano, aguardo inerte e expectante uma providência legal de quaisquer das entidades sociais, ou de algum brasileiro, quanto à manutenção dessas circunstancias ridículas e empobrecedoras que insultam, desmoralizam e apequenam o nosso país.

Muito ao invés disso, aterrado, surpreendo-me com a convocação pública para um desagravo em massa em favor do presidente da República e, em consequência, em hostilidade ao parlamento brasileiro. Essa pretensão certamente se constituirá no ápice das provocações permanentes que nos promovem os insistentes sectários de uma ideologia retrógrada que se aprimora, mas que se quer impor ao país, sem que se dimensione paralelamente os desastres e os riscos que representarão para a tranquilidade pública da nação.

O autor é empresário

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