Autor(a) Convidado(a)
É sócio, gestor comercial e assessor de Investimentos Alta Renda da Forttu Investimentos; advogado; autor dos livros: “Investe Logo: Compartilhando experiências com o investidor iniciante” e “O Caminho para o sucesso na Assessoria de Investimentos: Processo, Relacionamento e Intensidade” (Em pré-lançamento)

Quando empresas têm rating melhor que o próprio Brasil

Esse cenário deixa clara uma vulnerabilidade macro: enquanto o setor privado avança em eficiência (em alguns casos), o Estado brasileiro ainda não ajustou seu modelo fiscal para sustentar um crescimento saudável e previsível

  • José Neto Rossini Torres É sócio, gestor comercial e assessor de Investimentos Alta Renda da Forttu Investimentos; advogado; autor dos livros: “Investe Logo: Compartilhando experiências com o investidor iniciante” e “O Caminho para o sucesso na Assessoria de Investimentos: Processo, Relacionamento e Intensidade” (Em pré-lançamento)
Publicado em 19/09/2025 às 15h54

O Relatório de Projeções Fiscais do Tesouro Nacional de agosto de 2025 revelou um quadro preocupante: a dívida pública bruta brasileira deve chegar a 84,3% do PIB em 2028, partindo dos atuais 79% em 2025, um indicativo de que a trajetória fiscal segue sem controle aparente. A própria Moody’s, em recente revisão, rebaixou a perspectiva do país de “positiva” para “estável”, citando a rigidez dos gastos obrigatórios e a lentidão nas reformas estruturais.

Atualmente, o Brasil mantém uma classificação abaixo do grau de investimento: BB pela S&P e Fitch, e Ba1 pela Moody’s, todas com perspectiva estável. Isso significa que, para o investidor internacional, o país é visto como risco especulativo, exigindo prêmio adicional de juros para a compra de títulos públicos. Na prática, um título soberano brasileiro precisa oferecer taxas mais altas para competir por capital global, o que encarece o custo da dívida e retroalimenta o problema fiscal.

O dado curioso é que algumas empresas privadas brasileiras possuem ratings mais elevados que o próprio país. O Banco XP S.A., por exemplo, ostenta rating Nacional de longo prazo AAA(bra) pela Fitch e brAAA pela S&P, ambos com perspectiva estável. É fundamental entender que são tipos de risco diferentes: o soberano mede a capacidade do governo de honrar suas obrigações, afetado por fatores macroeconômicos, enquanto o corporativo avalia a saúde financeira, liquidez e governança de uma empresa específica.

Ainda assim, o contraste chama atenção: uma instituição privada ser considerada mais segura que o Estado onde opera é um indicativo de robustez de gestão e disciplina financeira.

Sob a ótica do investidor internacional, essa diferença de percepção tem peso estratégico. Ao avaliar onde alocar capital, ele olha para três pontos principais: risco de crédito, que no caso soberano está atrelado a política fiscal e estabilidade institucional; segurança jurídica, que é a previsibilidade do ambiente de negócios, onde empresas bem avaliadas podem sinalizar “ilhas de segurança” mesmo em países com ratings baixos; e relação risco-retorno, empresas com bom histórico de governança e performance podem captar recursos no exterior a taxas mais baixas que o próprio Tesouro Nacional, tornando-se opções atrativas de investimento direto ou via mercado de capitais.

Notas de dinheiro, cédulas de Real
Notas de dinheiro, cédulas de Real. Crédito: Reprodução

Esse cenário deixa clara uma vulnerabilidade macro: enquanto o setor privado avança em eficiência (em alguns casos), o Estado brasileiro ainda não ajustou seu modelo fiscal para sustentar um crescimento saudável e previsível. Para o investidor global, isso significa separar o joio do trigo, evitar exposição excessiva ao risco soberano e buscar oportunidades em empresas que demonstram resiliência e boa gestão, independentemente da nota do país.

O contraste entre a nota soberana e a corporativa não é apenas um detalhe técnico. É um recado: disciplina, transparência e governança são ativos que geram confiança, para uma empresa ou para uma nação.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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