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É escritora e jornalista

Quando admitir um erro faz bem para o coletivo

Um grupo de alunos suecos ficou maravilhado ao entrar em contato pela primeira vez com um livro físico na sala de aula. Que bom que as autoridades de lá reconheceram o erro e trouxeram os livros de volta às escolas

  • Isa Colli É escritora e jornalista
Publicado em 29/02/2024 às 14h10

Reconhecer o próprio erro é uma atitude nobre que demonstra humildade. Se para o relacionamento entre pessoas, a humildade tem tanto valor, imagine para um gestor público, cujas decisões impactam diretamente na coletividade. O recuo em uma medida inadequada pode fazer toda a diferença para a população de um determinado lugar.

Essa semana, uma situação inusitada chamou a atenção na Suécia. Um vídeo da Deutsche Welle que acabou viralizando, inclusive no Brasil, mostra a reação de um grupo de alunos maravilhados ao entrarem em contato pela primeira vez com um livro físico na sala de aula.

A surpresa da garotada tem um motivo: o livro digital é a norma nas escolas suecas há anos, mas agora o governo do país escandinavo percebeu que a dependência excessiva das telas no processo de aprendizado traz prejuízos e, por isso, decidiu retomar com os materiais didáticos em papel no cronograma escolar.

Os depoimentos das crianças são surpreendentes. Uma delas diz que os livros têm mais explicações que o laptop. “O que pode tornar mais difícil é que agora nós mesmos temos que ler. Antes, o computador falava os exercícios em voz alta". É espantoso ver toda uma geração perdendo a capacidade de leitura, interpretação e desenvolvimento da escrita.

O retrocesso era previsível. Que bom que as autoridades reconheceram o erro e trouxeram os livros de volta às escolas. Aqui no Brasil, muitos governos também enfrentam dilemas em relação à tecnologia no ensino. No ano passado, o governo de São Paulo anunciou que as escolas estaduais teriam, a partir do 6° ano do ensino fundamental, apenas o uso de material 100% digital. Com isso, as unidades de ensino não iriam aderir ao Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) para 2024.

Pouco tempo depois, após a repercussão do caso e a apuração do Ministério Público, o governo recuou e anunciou que os livros impressos estariam garantidos.

Não há dúvidas de que os livros fazem falta ao aprendizado e a Suécia nos deu essa resposta na prática. Como gosto de fazer trabalho de campo, resolvi bater um papo com o autor mirim Tiago Vilariño, que está no quinto ano do ensino fundamental. Aos 10 anos, o jovem escritor mostra que tem uma visão sobre o tema mais amadurecidado que muito adulto. Ele disse que acha importante estudar com livros físicos.

livros
livros. Crédito: freepik

“Os estudos comprovam que se você fica muito tempo no computador, começa a ter problema por causa do excesso de tela. Então, é recomendado usar mais o livro físico para ler e escrever porque senão o cérebro pode ficar preguiçoso. Pelo computador, a criança se acostuma a ver tudo no Google. Com o livro, não tem onde você ver respostas pela internet, você não compromete sua vista e nem a sua mente. Por todos esses fatos, eu acho que o livro é melhor”, disse Tiago em nossa conversa.

Quanta sabedoria esse menino nos traz. Consegue enxergar o que as autoridades suecas levaram anos para perceber. Que esses exemplos sirvam para outros gestores que andam seduzidos pelos avanços da tecnologia. Os computadores são importantes e podem fazer parte do ensino. No entanto, os livros jamais devem ser abolidos do ambiente escolar. A educação agradece!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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