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É sócio-proprietário da Pedra Azul Investimentos, planejador financeiro da Certificação CFP® e Ancord, formado em Administração de Empresas pela UERJ e pós-graduado em Engenharia Econômica pela UERJ

Quais são as novidades com a alta da taxa Selic?

O que temos neste momento é o Banco Central ajustando a taxa no novo cenário de inflação, mas ainda mantendo a Selic em patamar estimulativo. Tem mais cara de ajuste do que de alta efetiva

  • Lélio Monteiro É sócio-proprietário da Pedra Azul Investimentos, planejador financeiro da Certificação CFP® e Ancord, formado em Administração de Empresas pela UERJ e pós-graduado em Engenharia Econômica pela UERJ
Publicado em 10/08/2021 às 02h00
Edifício - sede do Banco Central do Brasil no Setor Bancário Norte
Sede do Banco Central: instituição não pode perder o controle da situação. Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Taxa Selic em alta, e já não é novidade. A magnitude da alta, no entanto, surpreendeu, com aceleração da elevação, agora, para 100 pontos (de 75 na reunião anterior), com a meta Selic indo a 5,25% ao ano. A dúvida que fica é sobre a relação entre a Selic maior e os investimentos, e sobre o quanto o Banco Central do Brasil (Bacen) tem demonstrado preocupação com a inflação.

Na nossa visão, talvez o Banco Central não esteja tão preocupado, e explicamos: mesmo que o cenário prospectivo relevante para a inflação seja dos próximos 12 meses (IPCA projetado em 4% a 5% ao ano,) olhando para o retrovisor (últimos doze meses, com IPCA a mais de 8,50% ao ano) temos a impressão – verdadeira - de termos experimentado juros reais negativos. Na prática, foi isso.

Se a inflação tem subido por conta de fatores externos, como o dólar e as commodities - e isso acaba contaminando a alta dos preços como um todo - a Selic vem correndo "atrás da curva", e não é porque o Banco Central aumentou 100 pontos que ele está indo na frente agora.

O que temos neste momento é o Banco Central ajustando a taxa no novo cenário de inflação, mas ainda mantendo a Selic em patamar estimulativo. Tem mais cara de ajuste do que de alta efetiva.

A aceleração dos preços das commodities e do dólar tem trazido lucros maiores para muitas empresas brasileiras relevantes, principalmente exportadoras, e temos visto surpresas positivas no campo da arrecadação de impostos. Isso também pode estar ocorrendo pelo efeito inflacionário de curto prazo.

Enquanto isso, a dívida pública em parte é corrigida pela Selic, e, portanto, o governo acaba se beneficiando de uma inflação alta e juros baixos. O custo de carregamento da dívida pública acaba sendo proporcionalmente menor.

A questão é que isso não se sustenta no longo prazo. Se tivermos Selic de 7% ao ano com inflação de 5% ao ano, ela ainda será uma taxa estimulativa, que incentiva a economia a girar mais rápido. O que não pode acontecer é o Banco Central perder o controle da situação. Pior ainda, é lembrarmos que o impacto da alta da Selic na baixa da inflação (grau de transmissão de política monetária) tem sido cada vez menor. Mais importa o controle fiscal e da base monetária, o grau de estímulos do governo e eventualmente os gastos públicos e como a demanda da economia tem sido sustentada de forma artificial.

Na nossa visão, pouco muda uma elevação de 100 pontos na Selic, por isso o Banco Central fez o que fez. O CDI continua rodando abaixo do IPCA e apenas dá uma falsa sensação de que os investimentos conservadores estão pagando melhor.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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