Aprendemos que as adversidades do transporte urbano têm uma dimensão social que afeta a saúde e a qualidade de vida da nossa população. Na nossa região metropolitana, os transportes coletivos são pouco eficientes e caros, tanto pelos fartos subsídios neles aplicados, quanto pela baixa qualidade dos serviços oferecidos, promovendo uma fuga progressiva de passageiros.
Apesar da insustentabilidade financeira e operacional do nosso transporte de massa ser anterior à pandemia Covid, se agravou com ela e até agora nenhuma discussão abrangente sobre a mudança do sistema foi trazida ao debate com a sociedade civil organizada.
Nos tempos de Covid, o colapso do sistema foi uma sentença proferida. As restrições atingiram impiedosamente nosso já fragilizado serviço de transporte coletivo e ameaçou a mobilidade da população das nossas cidades.
Mesmo com a atividade econômica retornando ao normal, o transporte coletivo ainda levará mais tempo para se recuperar, pois a população foi se adequando a outras opções de deslocamento.
Concomitantemente, concessionários do transporte público negociam pacotes de salvamento financeiro de forma a permitir a continuidade dos seus serviços em modos tradicionais. Observamos esforços dramáticos na tentativa de sobrevida de algumas empresas, que dificilmente subsistirão ao impacto recebido. A resolução exclusivamente financeira de um sistema que já estava à beira do colapso se torna inviável a curto, médio e longo prazo. Será apenas uma luta quixotesca.
A realidade não sabe esperar, exige mudanças estruturais de todo o sistema de transporte público. Novas licitações sobre os sistema de transporte coletivo obrigatoriamente terão que ser feitas sob novas bases, com dados atualizados de origem e destino, com novos modelos contratuais e metas operacionais claras, já que não se pode evitar o financiamento público a esses serviços.
Além disso, todos os modais em operação terão que ser integrados ao sistema de transporte público de massa. Também será imprescindível a coordenação e regulamentação pelas prefeituras dos transportes alternativos para pequenas distâncias, devidamente integrados, facilitando o acesso dos usuários à rede, além de resolver o “gap” da primeira e última milhas.
Neste olhar, incluem-se as soluções com baixa capacidade, que terão papel relevante na eliminação de gargalos, pois são seguras, rápidas, sustentáveis e não promovem aglomerações.
Arrazoamos apenas situações que, entre tantas, requerem um enfrentamento sério, abrangente, transparente e pragmático. Trouxemos algumas propostas alternativas para a reestruturação e sustentabilidade de um sistema que enfrenta problemas históricos de eficiência e qualidade do serviço. Seguramente não poderemos negligenciar a perspectiva da otimização do uso das vias, melhorando o fluxo de tráfego, reduzindo o tempo de viagem dos coletivos e proporcionando melhores atributos aos serviços ofertados.
Nossa visão crítica não tem a pretensão de fazer um trivial juízo de valor, mas sim a intenção de provocar as autoridades e os cidadãos a um debate mais contundente que poderá amenizar e, talvez, nos livrar do perigo que estamos correndo em um futuro imediato.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.