Durante décadas, o bronzeado foi associado à saúde, à vitalidade e à beleza. Na cultura brasileira, essa ideia ganhou ainda mais força: pele dourada virou símbolo de férias, juventude e bem-estar. Mas é importante reforçar com clareza uma realidade que a ciência já comprova há muito tempo: a exposição solar sem proteção pode causar câncer de pele.
É preocupante ver que ainda haja glamourização do bronzeado e negligência com o protetor solar, especialmente entre jovens. O câncer de pele, o mais frequente no Brasil, não surge do nada: ele é resultado de anos de exposição inadequada.
O dano é cumulativo e silencioso. Mesmo caminhando até o trabalho, dirigindo ou esperando o ônibus, a pele recebe quantidades significativas de radiação UVA, a mesma que causa envelhecimento precoce e aumenta o risco de câncer de pele, incluindo o tipo mais agressivo e com maior risco de letalidade, o melanoma.
Neste último mês do ano acontece a campanha Dezembro Laranja, com foco na prevenção do câncer de pele. Apesar dos avanços em informação e movimentos de conscientização, muitos ainda ignoram os riscos alegando que querem “pegar uma cor” para o verão.
Esse comportamento não é apenas um desleixo individual, mas fruto de uma pressão cultural que ainda glamouriza o bronzeado. Nas redes sociais, celebridades e influenciadores continuam exaltando dias de sol, pele dourada e exposição intensa como símbolo de felicidade. Pouco se fala sobre as consequências a longo prazo, como rugas, manchas, envelhecimento precoce, mas, acima de tudo, o câncer de pele.
O que mais preocupa é que parte significativa desses casos poderia ser evitada. Erros e negligências com relação à saúde de pele são comuns. Boa parte da população ainda ignora o uso do filtro solar, não fica atenta a manchas e pintas que mudam de forma ou cor e outras alterações na pele. Somado a isso, há o atraso em procurar atendimento: muitos pacientes chegam aos consultórios com lesões que começaram pequenas, mas foram crescendo até se tornarem um problema muito maior.
O câncer de pele é subestimado, muitas vezes, porque, historicamente, é interpretado como “menos grave”, mas a realidade clínica não confirma esse mito. Lesões avançadas podem exigir cirurgias extensas, reconstruções complexas, mutilações, tratamentos prolongados e, em casos de melanoma, tratamentos mais invasivos pelo alto risco de metástase e letalidade.
O diagnóstico precoce é determinante: quando identificado no início, as chances de cura ultrapassam 90%. A prevenção é indispensável, e reconhecer a gravidade real desse câncer é o primeiro passo para reduzir sua incidência e evitar consequências que poderiam ser totalmente evitadas. Tratar a prevenção com seriedade pode salvar dezenas de milhares de vidas nas próximas décadas.
O câncer mais comum do país não pode continuar sendo o mais negligenciado. Precisamos urgentemente transformar o modo como enxergamos o sol. Não se trata de demonizá-lo, mas de respeitá-lo e reconhecer que proteção é um ato de responsabilidade e amor-próprio.
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