O futebol, mais uma vez, provou ser muito mais do que um esporte. Ele é linguagem, identidade, política — e, principalmente, emoção coletiva. A recente comoção em torno da suposta nova camisa vermelha da Seleção Brasileira revelou o que há de mais pulsante na era digital: o poder simbólico das cores, o impacto das imagens não oficiais e a velocidade brutal com que a narrativa pública se forma — mesmo antes de qualquer comunicado oficial.
Bastou uma imagem circular nas redes para transformar uma peça de roupa em manifesto. Em menos de 24 horas, mais de 4,3 milhões de menções se acumularam em plataformas sociais, segundo dados da Ativaweb. Vídeos sobre o tema ultrapassaram os 12 milhões de visualizações. No Google Trends, o termo “camisa vermelha seleção” atingiu pico de 100 — uma marca raramente alcançada, que indica buscas na casa de centenas de milhares a milhões em um único dia.
O que está em jogo não é apenas o design de um uniforme, mas o imaginário de um país em permanente tensão ideológica. Expressões como “O Brasil não será vermelho” e “Camisa do PT” dominaram os trending topics, mostrando que símbolos visuais, em tempos polarizados, são lidos também como posicionamentos políticos.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se apressou a esclarecer: o uniforme vermelho não substituiria as cores tradicionais — verde, amarelo e azul — mas faria parte de uma campanha social pontual. Tarde demais. A imagem já estava consolidada, a crise simbólica instaurada. E aí está a primeira lição para marcas e instituições: em um mundo onde a viralização é instantânea, o timing da explicação precisa ser igual ao da especulação.
As redes sociais, com sua lógica acelerada, ignoram os processos formais de validação. Enquanto a mídia tradicional apurava, o TikTok e o Twitter/X já haviam transformado o debate em batalha cultural. Hashtags como #NaoEMinhaSelecao e #BrasilNaoESeraVermelho inflamaram um sentimento nacional que vai muito além das quatro linhas.
Como especialista em marketing e inteligência artificial, vejo nesse episódio um alerta potente: a comunicação simbólica é também comunicação política. Cores, nomes e formas não são neutros. E quando envolvem ícones como a Seleção Brasileira, o cuidado deve ser redobrado. Não basta lançar uma ideia. É preciso preparar terreno, escutar os sinais do público, antecipar reações e, acima de tudo, contextualizar.
Este não foi um erro da CBF. Foi um aprendizado coletivo — sobre o poder das narrativas espontâneas e a força das percepções. Em um mundo hiperconectado, a ausência de explicação vira espaço para projeções. E essas projeções não seguem planos de marketing: seguem as emoções.
A camisa vermelha jamais foi vestida em campo. Mas entrou para a história como um dos maiores cases de impacto digital do futebol nacional. Um lembrete de que, na arena da internet, quem não comunica, será comunicado — e interpretado.
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