As instituições financeiras privadas vinham ganhando cada vez mais destaque no cenário econômico nacional, desde 2015. No início do governo Michel Temer, os bancos privados nacionais e estrangeiros vinham gradativamente ganhando participação no total de crédito concedido no Sistema Financeiro Nacional, passando de uma fatia de 44% em 2015 para 57,7% em 2022.
Contudo, observamos no último ano uma modificação nesse cenário, com os bancos públicos ganhado participação no mercado de crédito, com um aumento pequeno de 0,6%. Pode parecer pouco, mas indica a ruptura de uma sequência importante e pode sinalizar uma tendência de crescimento da participação dos bancos estatais na economia brasileira nos próximos anos, o que não é desejável, por várias razões, como veremos.
Nesses últimos oito anos, além do aumento do volume de recursos concedidos, o mercado privado de crédito também teve uma grande evolução no que diz respeito à quantidade e qualidade dos produtos ofertados, tanto para pessoa física como para crédito para as empresas.
A abertura de novas instituições financeiras, com grandes investimentos tecnológicos, e o surgimento de novos produtos, motivados principalmente por novas regulamentações, fez com que o mercado privado ganhasse participação em nichos antes dominados pelo crédito público, como no mercado imobiliário com o CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e com o Fundo Investimentos Imobiliários, e o mercado agrícola com o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e o Fiagro (Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais), que capta recursos de investidores para aplicar em ativos do agro.
Outra característica importante para o setor nesses últimos anos foi a maior democratização de determinados produtos financeiros, que anteriormente eram restritos a grandes empresas, especialmente as de capital aberto. Esses produtos passaram a atingir um maior número de empresas e projetos, possibilitando acesso de empresa com menores faturamentos.
Um mercado financeiro maduro é essencial para o crescimento econômico sustentável, porque promove a alocação eficiente de recursos, leva à profissionalização da governança corporativa, estimula a inovação financeira e a resiliência a choques econômicos.
Isso cria um ambiente propício para o desenvolvimento de empresas sólidas e prósperas, resultando também em maior prosperidade a longo prazo para a economia como um todo.
Já uma economia com crédito baseado em dinheiro público, direcionado sem critérios claros para empresas privilegiadas, cria sérios riscos de ineficiência econômica, gerando distorção da concorrência e desincentivo ao empreendedorismo, sem mencionar o risco de um ambiente mais favorável ao compadrio e à corrupção.
É essencial que o país promova políticas que garantam um ambiente de negócios mais equilibrado, justo e transparente, onde o crédito seja alocado com base no mérito econômico e na competitividade das empresas, em vez de conexões políticas.
Já vimos esse filme recentemente no Brasil e não podemos permitir que os mesmos erros sejam cometidos.
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