
É regular, na imprensa capixaba, a produção de artigos do professor José Antônio Martinuzzo, como também é sistemática a publicação de suas ideias em redes sociais. Afinal, é o principal canal de socialização de suas reflexões. São textos sempre eruditos, bem escritos e plenos de uma força vital que ele retira de fundamentos filosóficos.
Sim, filosóficos, porque tratam da essência desses tempos estranhos – de negação da ciência, de dúvidas sobre a forma da terra, tempo de mentiras, mentiras e mentiras – que estamos atravessando.
Lá, do fundo de seu olhar generoso e das profundezas de seu conhecimento da psicanálise – essa filosofia contemporânea da verdade – ele extraiu os temas de seus artigos. Agora, ele os reuniu em um livro. Um saboroso livro, “Tempo Contado”. Seu pretexto é o aniversário de 50 anos, mas sua motivação mais profunda creio ser a de oferecer temas para a compreensão desses tempos.
Temas para tentarmos suportar as dores contemporâneas, em seu sentido filosófico. A ideia de reuni-los na forma de livro impresso, na memória vegetal de que nos fala, é muito forte. Eu mesmo já havia lido a maior parte dos artigos, mas vê-los todos juntos, ler com mais calma, fora da pressa do dia a dia, lhes dá outro sabor, outra vivência. Outra densidade.
Quanto ao tempo, ele é criação, como nos ensinou Cornelius Castoriadis. O tempo muda e transforma todas as significações imaginárias. É dessas transformações cotidianas, ou melhor, desse cotidiano criado e transformado pela ação humana, nem sempre sábia, que nos fala Martinuzzo de forma brilhante.
A fundamentação aristotélica da primeira parte do livro, quando trata das virtudes como coragem, prudência, justiça ou temperança, é quase um manual de sobrevivência. Refletir sobre elas muito nos orienta a nossa construção. Afinal, como afirma Martinuzzo, “a verdade é que somos uma invenção de nós mesmos”.
“Tempo Contado” está dividido em quatro capítulos, mas eles são tão próximos um do outro, são elos tão fortes de uma corrente de pensamento, baseados na ideia da construção da autonomia de cada um, que podemos lê-los em qualquer ordem. Falam, paradoxalmente, de um tempo atemporal, posto que é invenção. É disso que trata com força e maestria o professor Martizuzzo, da alegria de nos construirmos com o espírito de todos os tempos. Por isso são fundamentais Aristóteles, Freud, Sartre e tantos outros.
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O lançamento próximo da obra é um importante momento na sua trajetória. Mas o convite que tem que ser feito mesmo é para a sua leitura. Enriquecedora, atual, profunda. É o que estou fazendo nesse momento. Leiam Martinuzzo, isso os fará mais atentos às encruzilhadas dos nossos labirintos.
O autor é doutor em Sociologia Política, professor emérito da Ufes, autor de “A Invenção do Coronel: ensaio sobre as raízes do imaginário político brasileiro” e diretor da Saber Capixaba
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- Tempo Contado (Atualização)
- O lançamento foi cancelado por conta das recomendações sanitárias para evitar o coronavírus. Uma nova data será agendada assim que a situação se normalizar.
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