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É pastor, doutor em Ciências da Religião, professor e escritor

Lula x Bolsonaro: a briga pelos evangélicos se acirra

Nessa guerra de narrativas e interesses a consciência e o coração evangélicos são colocados no mercado eleitoral. Por enquanto, só uma coisa é possível afirmar: nada disso tem a ver com o Evangelho de Jesus!

  • Kenner Terra É pastor, doutor em Ciências da Religião, professor e escritor
Publicado em 23/03/2022 às 02h00
Religião
Bíblia: pesquisas indicam que evangélicos, a despeito do senso comum,  não são facilmente dirigidos por pastores midiáticos . Crédito: Reprodução/Internet

Os evangélicos, segundo Datafolha (2020), são 31% da população. Em 2018, o atual presidente tinha uma média de 60% dos eleitores dessa parcela do Brasil. No entanto, pesquisas de 2021 e 2022 mostram os dois presidenciáveis empatados tecnicamente e a popularidade de Bolsonaro caindo entre os membros desse grupo. Em outros dados expostos pelo Datafolha (2021), 43% dos evangélicos responderam que Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve, enquanto 19% indicaram Bolsonaro.

Não obstante, essa diferença é menor em relação aos demais brasileiros, revelando que em geral os evangélicos são menos simpáticos ao Lula do que o resto do povo. Os números indicam que evangélicos, a despeito do senso comum, não são majoritariamente eleitores ou cabos eleitorais de Bolsonaro, não são facilmente dirigidos por pastores midiáticos e seus votos podem ser disputados.

Sabendo disso, no último dia 8, Bolsonaro recebeu pastores no Palácio da Alvorada. No encontro, alguns dos líderes tiveram falas e expressaram seu apoio irrestrito ao atual mandatário do executivo. Em uma delas, Agenor Duque, presidente da Igreja Plenitude do Trono de Deus, afirmou que a “luta” (este ano) não é simplesmente política (direita contra esquerda), mas “céu contra inferno”.

Outro apóstolo, Cesar Augusto, defendeu que Bolsonaro teria sido “levantado por Deus”, o que significa dizer ser ele um tipo de escolha divina para o cargo. Bolsonaro, por sua vez, aproveitou o ensejo e disse: “Eu falo ‘nós’ porque a responsabilidade é de todos nós. Eu dirijo a nação para o lado que os senhores [pastores presentes] assim desejarem”.

Do outro lado, Lula também tem se reunido com lideranças evangélicas, criado núcleos evangélicos e procurado se reaproximar de pastores. O Pr. Paulo Marcelo, que já pregou em importantes eventos da maior denominação evangélica do Brasil, Assembleia de Deus, é um exemplo. Em vídeo, o pastor itinerante, usando estratégias interpretativas e linguagem comuns aos pentecostais, jocosamente defendeu o voto dos “eleitores bíblicos” ao candidato do PT, pois, segundo ele, tanto a narrativa da multiplicação de pães quanto a quantidade dos filhos de Jacó somam o número 13. Paulo Marcelo terá um podcast do PT e explicou que usará a linguagem que os evangélicos entendem: “Bolsonaristas usam essa linguagem para manipular, então por que não podemos usá-la para libertar”, afirma o pastor.

Nessa guerra de narrativas e interesses a consciência e o coração evangélicos são colocados no mercado eleitoral. Não sabemos ainda quem melhor conseguirá dialogar e conquistar a maior fatia dessa população. Por enquanto, só uma coisa é possível afirmar: nada disso tem a ver com o Evangelho de Jesus!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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