Autor(a) Convidado(a)
É psicóloga e consultora corporativa

Investir em mulheres: como foi o maior fórum de equidade de gênero da ONU

Diante das demandas sensíveis sobre a situação da mulher no trabalho, devemos propor soluções que gerem recomendações para todos os governos

  • Gina Strozzi É psicóloga e consultora corporativa
Publicado em 01/04/2024 às 13h53

Participei em março em Nova York da CSW68, a 68ª sessão da Comissão sobre a Situação das Mulheres, o maior encontro da ONU sobre igualdade de gênero. Pude interagir com entusiastas da igualdade, entre autoridades de governos, líderes, cientistas, representantes da sociedade civil e técnicas provenientes de diversas nações do mundo todo, dedicadas à reflexão das questões de gênero. O sentimento após o evento é de esperança em relação ao nosso horizonte futuro.

A CSW (Commission on the Status of Women, em inglês) é uma das principais instâncias globais de negociação e monitoramento dos compromissos internacionais em prol dos direitos humanos das mulheres. A Comissão se dedica à avaliação do avanço da igualdade de gênero e à formulação de políticas para a independência das mulheres em escala global.

Durante a sua programação, a CSW sediou mais de 270 reuniões, sobre várias temáticas, e na condição de delegada brasileira pude participar de debates focados na pauta prioritária deste ano, que foi "Investir em Mulheres".

Vivemos um desafio crucial para a promoção da igualdade de gênero no mundo. Em todo o planeta, 10,3% das mulheres vivem em extrema pobreza hoje e são mais pobres que os homens. O progresso para acabar com essa pobreza precisa ser acelerado mais de 20 vezes para que possamos alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030.

Precisamos observar que governos e organizações devem mitigar e remediar os desafios enfrentados pelas mulheres no contexto laboral, considerando que elas desempenham um papel central como prestadoras principais de cuidados não remunerados.

Além disso, elas ainda encontram obstáculos no acesso à educação. São frequentemente empregadas em ocupações de menor prestígio, possuem salários menores que os homens, enfrentam recusas de financiamento, abandonam empregos remunerados devido a responsabilidades familiares, e enfrentam dificuldades no acesso a oportunidades de carreira, em especial para superar os obstáculos impostos pela maternidade, numa sociedade permeada por preconceitos de gênero. Esse é o panorama global.

Diante das demandas sensíveis sobre a situação da mulher no trabalho, devemos propor soluções que gerem recomendações para todos os governos, bem como estimular que as corporações expressem seu comprometimento e esforços na implementação de ações e políticas que visem apoiar e equacionar as dores femininas por meio da prevenção de sofrimentos e transtornos, com uma cultura do cuidado, da saúde e da segurança no espaço laboral.

O acesso e a permanência da mulher no trabalho dependem de esforços humanizados e éticos nos âmbitos coletivos sociais e organizacionais, que envolvem e carecem de ações de igualdade salarial e oportunidades de promoção justas. Carecem também de políticas de licença maternidade e paternidade equitativas; de flexibilidade no local de trabalho para acomodar responsabilidades familiares; programas de apoio à saúde mental e bem-estar de mulheres; treinamento e conscientização sobre questões de gênero e preconceitos no local de trabalho; e criação de ambientes de trabalho inclusivos e seguros psicologicamente, livres de discriminação e de ações de violência de gênero.

Nações Unidas
ONU. Crédito: Pixabay

O caminho é longo. A conquista da autonomia financeira e a participação ativa no mercado de trabalho são ferramentas essenciais para as mulheres se defenderem contra abusos de gênero e escaparem de situações de violência.

A autonomia financeira não apenas promove independência econômica, mas também gera autonomia emocional, tornando-se uma poderosa arma contra a opressão social e de gênero.

Uma mulher que trabalha e consegue prover seu sustento adquire independência psicológica, o que constitui a principal razão social, cultural e ética do trabalho como meio de libertação e empoderamento feminino.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.