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É diretor de Investimentos da Fundação de Previdência Complementar do Estado do Espírito Santo (Preves)

Investir é como navegar: só evita a tempestade quem não se arrisca

Crises econômicas são recorrentes e imprevisíveis, como as intempéries a que estão sujeitos os marinheiros. Contudo, manter os navios atracados significa a certeza de perder dinheiro

  • Tiago Roque É diretor de Investimentos da Fundação de Previdência Complementar do Estado do Espírito Santo (Preves)
Publicado em 01/08/2021 às 14h00
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Carteira de investimentos balanceada não significa o fim das perdas, mas proteção nos piores momentos. Crédito: Jcomp/Freepik

"Navigare necesse; vivere non est necesse", dizia o general romano Pompeu aos marinheiros amedrontados em viajar durante a guerra. Anos mais tarde, Fernando Pessoa pega para si o sentido da frase e eterniza "Navegar é preciso, viver não é preciso." Aventurar-se e engrandecer-se era uma necessidade, porém a vida segue seus caminhos erráticos e mesmo a navegação guiada por instrumentos precisos não garante o sucesso da jornada, nem o destino. Afinal, uma tempestade no meio do caminho pode mudar tudo.

A diversificação de carteira de investimentos foi pensada com instrumentos precisos, tal qual a navegação, a partir da Teoria do Portfólio de Harry Markowitz, pelo qual ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1990. O risco de na construção do portfólio, para um dado nível de retorno, poderia ser minimizado a partir de uma combinação ótima entre ativos. A redução do risco pela diversificação ocorre pela correlação entre os ativos, principalmente aqueles que se comportam de forma distinta em cada cenário.

Não obstante os méritos da abordagem de Markowitz, a modelagem de portfólio ótimo não pode ser utilizada ingenuamente, posto que sua precisão pode não sobreviver às tempestades dos mercados, quando a correlação entre os ativos muda abruptamente e a medida de risco outrora prevista pode divergir enormemente do verificado na prática. Dessa forma, os modelos quantitativos representam um ponto de partida para entender o relacionamento fundamental entre os ativos, principalmente quando analisados por períodos de tempos suficientemente longos e, assim, obtenha-se um balanceamento mais robusto para a carteira como um todo.

Uma carteira balanceada não significa o fim das perdas, mas proteção nos piores momentos para que se possa aproveitar os bons momentos. Por exemplo, no mês de setembro de 2020, ante uma queda de 4,8% do Ibovespa e 1,57% do IMA-B, principais vetores de rentabilidade da maioria dos investidores, o plano PREVES SE registrou uma rentabilidade de -1,21%, enquanto no mês de fevereiro de 2021, ante as quedas da mesma magnitude no Ibovespa e no IMA-B, a rentabilidade no mês foi de -0,73%.

Meses ruins são normais para os tomadores de risco, mas foram amenizados em quase 40% pelas constantes melhorias no balanceamento da carteira. Protegendo-se das quedas, a PREVES conseguiu tomar risco e proteger ganhos de quase três vezes superar o CDI (taxa de juros livre de risco) nos últimos 12 meses.

Para investidores de longo prazo, como as entidades de previdência complementar, a analogia entre navegar e investir não poderia ser mais pertinente. As crises econômicas são recorrentes e imprevisíveis, como as tempestades a que estão sujeitos os marinheiros durante a jornada e apenas evita as intempéries quem não se arrisca. Contudo, manter os navios atracados significa a certeza de perder dinheiro, no caso para a inflação. A diversificação, mesmo que não seja um instrumento preciso, é um instrumento poderoso para quem necessita de ganhos consistentes a longo prazo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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