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É coach de carreira e especialista em inovação e cultura organizacional

Excesso de tecnologia está deixando as pessoas mais carentes

O intuito não é demonizar a tecnologia, longe disso, afinal ela existe para facilitar o nosso dia a dia. O problema, como sempre, está no excesso, no mau uso e na falta de consciência sobre as consequências

  • Jean Paul Villacís É coach de carreira e especialista em inovação e cultura organizacional
Publicado em 23/03/2023 às 10h00

O smartphone, que usamos ao longo do dia e que nos acompanha aonde vamos, possui uma ferramenta chamada tempo de uso, por meio da qual podemos ter um diagnóstico sobre a nossa relação com a tecnologia.

Quantas pessoas, entretanto, param para refletir sobre quanto do dia, e da vida, estão dedicando ao dispositivo e ao mundo virtual ao qual ele dá acesso?

Podemos até não perceber, mas o excesso de tecnologia tem um impacto enorme sobre a saúde emocional. Quem se dispuser a pensar sobre isso não vai precisar de muito esforço para se dar conta de como essa afirmação é verdadeira.

Para começar, consideremos as nossas relações interpessoais. Com quem você se encontra pessoalmente e com quantas pessoas você só interage a distância? Quando você tem um encontro cara a cara, consegue estar ali integralmente, sem se render à tentação de pegar o celular? Vou além: já se deu conta de como, acostumados com o mundo das relações virtuais, perdemos a paciência para as relações reais?

Só com essa reflexão conseguimos compreender o quanto a tecnologia nos deixa ansiosos e impacientes, impactando sobre os nossos relacionamentos e podendo provocar uma série de outras consequências sobre o nosso bem-estar emocional.

Outro ponto importante: as redes sociais virtuais. Nelas, vemos, o tempo todo, pessoas felizes, casais que não brigam, profissionais sempre satisfeitos com o trabalho, famílias de comercial de margarina… Imagens que geram likes, mas que raramente se sustentam no dia a dia. O prejuízo é geral, tanto para quem tenta viver uma realidade paralela quanto para quem fica se comparando com essa ilusão. Vemos pessoas deprimidas, insatisfeitas e infelizes com o que têm, afinal, a grama do vizinho sempre parece ser mais verde.

Já que estamos falando em comparação, é interessante também falar de inspiração. Foi-se o tempo em que o modelo a ser seguido era o do pai honesto, esforçado e trabalhador. Hoje, as fontes de inspiração dos jovens são as subcelebridades de internet, influenciadores que contam histórias de sucesso, que com pouca idade acumulam fortunas, viajam o mundo…

Qual é o resultado disso? Gostaria de dizer que é uma geração de seguidores que decidem estudar, poupar, investir, para um dia conquistarem o mesmo, mas não é assim que acontece. O que vemos são pessoas em busca do caminho mais fácil e curto. Como são raros os casos em que essa fórmula gera sucesso, sobra gente frustrada, que está sempre desistindo de um projeto e iniciando outro, porque quer resultados imediatos e não tem paciência para esperar a maturação de um sonho.

A tecnologia também contribui bastante para formar a chamada sociedade do cansaço. O trabalho está sempre à mão, em qualquer lugar, a qualquer hora. Basta um celular para trabalhar de onde estiver e com quem estiver, no momento de lazer com a família, no jantar com os amigos ou em um programa a dois. Além de pressão, estresse e sobrecarga, sobram conflitos.

Todos esses cenários têm relação com o crescente aumento do índice de transtornos mentais, entre eles ansiedade, depressão, pânico e burnout. O intuito não é demonizar a tecnologia, longe disso, afinal, ela existe para facilitar o nosso dia a dia. O problema, como sempre, está no excesso, no mau uso e na falta de consciência sobre as consequências.

O excesso de tecnologia está deixando as pessoas mais carentes. Carentes de contato de verdade, carentes de relações duradouras, carentes de vida real.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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