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É professor de biologia há 30 anos e coordenador de Currículo Brasileiro no Ensino Médio da Escola Americana de Vitória e do Mendel Cursos

Ensino integral ou parcial, qual a melhor escola para seu filho?

Salvo raras exceções, a população dos países mais ricos e desenvolvidos não conhecem outro modelo que não seja escola de tempo integral. Aqui no Brasil estamos caminhando nesse sentido, mas ainda de forma lenta

  • Michel Batista É professor de biologia há 30 anos e coordenador de Currículo Brasileiro no Ensino Médio da Escola Americana de Vitória e do Mendel Cursos
Publicado em 26/03/2024 às 12h19

Se você tem mais de 40 anos e tem filho ou filha em idade escolar, assim como eu, certamente já passou pelo dilema... escolher uma escola de meio período ou uma de tempo integral? Essa é uma dúvida compreensível já que até o início deste século as famílias praticamente podiam optar apenas entre os turnos, normalmente matutino ou vespertino, pois no Brasil não temos a tradição de escolas de tempo integral.

Salvo raras exceções, a população dos países mais ricos e desenvolvidos não conhecem outro modelo que não seja escola de tempo integral. Aqui no Brasil estamos caminhando nesse sentido, mas ainda de forma lenta.

O Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela lei N° 13.005/2014, buscou estruturar uma política de Estado para a organização e funcionamento da educação básica e estabeleceu 20 metas fundamentais para a serem atingidas até 2024, dentre as quais a Meta 6 que estabelece como diretriz “Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos (as) alunos (as) da educação básica”.

O Censo Escolar de 2022 indicou que apenas cerca de 14,4% dos estudantes brasileiros frequentam escolas de tempo integral, bastante distante da meta 6. Se considerarmos que esse quantitativo corresponde majoritariamente aos alunos matriculados em creches (56,8%), os dados se mostram ainda piores. No ensino fundamental o contingente de estudante com 7 horas ou mais na escola não passa de 14%. No ensino médio é um pouco melhor e chega a 20,4%.

A fim de fomentar a criação de mais matrículas em tempo integral em todas as etapas e modalidades da educação básica, na perspectiva da educação integral, recentemente foi instituído o Programa Escola em Tempo Integral por meio da Lei n. 14.640, de 31 de julho de 2023.

De acordo com o documento “Ensino Médio Integral: recomendações de Ensino Médio Integral para os governos federal e estaduais”, publicado pela organização Todos pela Educação, nas escolas de ensino médio em tempo integral a evasão escolar é menor do que nas escolas regulares. Além disso, o rendimento acadêmico também é melhor nos alunos que estudam em escolas integrais, tanto em exames locais quanto em exames nacionais como o Enem.

Dados do Inep/MEC confirmam isso. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) das escolas de tempo integral supera o das escolas regulares e até mesmo a meta para o segmento. Estudos mostram ainda que alunos egressos do ensino médio integral têm maior probabilidade de ingressarem no ensino superior e de terem maior renda. Mas a diferença não para por aí. Em comunidades com escolas integrais os índices de violência diminuem, especialmente entre os jovens em idade escolar.

É premente estabelecermos uma a distinção conceitual importante: educação em tempo integral significa apenas a permanência do estudante na escola por, pelo menos, 7 horas diárias em atividades pedagógicas; Educação integral, por sua vez, corresponde a um conjunto de conhecimentos que serão básicos para que os alunos possam lidar com o seu dia a dia.

Um processo acadêmico baseado em uma educação integral levará em conta todos os tipos de conhecimentos e habilidades, incluindo questões técnicas, formação de valores, habilidades sociais, competências emocionais, entre outros.

Nas palavras do professor Miguel Arroyo, educação integral é uma concepção de que o ser humano é sujeito integral enquanto sujeito de conhecimento, de cultura, de valores, de ética, de memória, de imaginação. Portanto, a educação tem que dar conta de todas essas dimensões da formação de um ser humano.

A educação integral é uma perspectiva moderna que visa formar indivíduos críticos e responsáveis, reconhecendo a diversidade dos alunos e promovendo equidade por meio do acesso a oportunidades educativas diversas. É também uma abordagem que considera a importância da sustentabilidade ao unir teoria e prática nos métodos de ensino.

Uma questão a ser discutida é se é possível promover uma educação integral com apenas um turno diário? Talvez sim, mas é indiscutível que o aumento da permanência na escola associado a um modelo pedagógico capaz de desenvolver competências pessoais, sociais e cognitivas potencializa muito mais a formação do estudante no sentido de torná-lo um cidadão mais capaz de fazer escolhas, de superar desafios e trilhar um caminho de sucesso pessoal, social e profissional.

É fundamental que o tempo escolar seja utilizado para essa formação integral, não apenas para aumento das aulas tradicionais e sobrecarga cognitiva dos alunos. Atividades diversificadas que visem a ampliação do universo cultural do aluno e reforcem seu protagonismo no processo de ensino-aprendizagem, sem nunca perder de vista a importâncias das habilidades socioemocionais e a construção de um projeto de vida.

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Sala de aula. Crédito: Pixabay

À medida que avançamos na implementação da educação em tempo integral no Brasil, é essencial reconhecermos que sua eficácia vai além da extensão do tempo na escola. Embora evidências apontem para benefícios como a redução da evasão e melhorias no desempenho acadêmico, é fundamental compreender que a verdadeira essência da educação integral reside na promoção de uma formação holística, que abarca não apenas o desenvolvimento intelectual, mas também as dimensões emocionais, sociais e de vida dos estudantes.

Nesse contexto, é crucial que as escolas adotem abordagens pedagógicas inovadoras e inclusivas, que proporcionem a aprendizagem efetiva de línguas adicionais à materna e que estimulem a prática de esportes, garantindo, assim, que cada aluno tenha a oportunidade de explorar seu potencial pleno e se preparar para os desafios do mundo contemporâneo.

Assim, mais do que simplesmente prolongar o tempo na escola, a educação integral deve ser entendida como um compromisso com a construção de cidadãos críticos, criativos e capacitados para enfrentar os desafios do século XXI.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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