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É doutor em administração. diretor regional do Senac Espírito Santo

Educação a distância ou educação "sem distância"?

Atualmente, essa modalidade responde por mais de 60% do total de alunos matriculados em cursos superiores no Brasil, consolidando-se como a principal forma de ensino desde 2019, conforme dados do Censo da Educação Superior de 2022

  • Richardson Schmittel É doutor em administração. diretor regional do Senac Espírito Santo
Publicado em 29/02/2024 às 15h46

Recentemente, participei de um evento que explorou a Educação a Distância (EaD) e suas tecnologias associadas. Fiquei surpreso ao perceber que, mesmo após anos desde sua popularização no ensino superior, os especialistas ainda se veem obrigados a lidar com as mesmas questões que eram debatidas havia 15 anos, sobre essa modalidade de ensino.

Em meio a essas discussões, um dos palestrantes fez uma provocação que me fez refletir profundamente: ele propôs o uso do termo "Educação sem Distância" para descrever essa forma de ensino, e confesso que essa formulação fez todo sentido.

De fato, a Educação a Distância não é uma novidade no Brasil. Tecnologias como televisão, rádio e correspondências já foram empregadas para superar barreiras geográficas no ensino, contribuindo para um aumento de 474% no número de matrículas em cursos superiores ao longo de uma década, entre 2011 e 2021.

Atualmente, essa modalidade responde por mais de 60% do total de alunos matriculados em cursos superiores no Brasil, consolidando-se como a principal forma de ensino desde 2019, conforme dados do Censo da Educação Superior de 2022.

Num futuro próximo, e talvez até mesmo no presente, é provável que tenhamos mais alunos estudando por meio da EaD do que em cursos presenciais no Brasil. Isso evidencia como a EaD tem efetivamente diminuído a distância entre o desejo de cursar o ensino superior e sua efetiva realização.

Pesquisas indicam que essa modalidade é a preferida por profissionais inseridos no mercado de trabalho, por aqueles que já constituíram família ou que buscam uma segunda graduação, além de ser uma alternativa viável para pessoas que residem em regiões onde o acesso ao ensino presencial é limitado.

No entanto, mesmo diante de avanços significativos que possibilitaram o acesso de milhões de pessoas ao ensino superior, ainda nos deparamos com debates acerca da redução da oferta de cursos à distância e, em alguns casos, até mesmo sobre a proibição dessa modalidade em determinados cursos.

Muito se questiona a respeito da a taxa de retenção de alunos nessa modalidade, mas as estatísticas de desistência se assemelham às do ensino presencial.

Estamos vivenciando um momento singular de avanço tecnológico, com o uso de inteligência artificial, realidade aumentada, ciência de dados e outras tecnologias a serviço da Educação a Distância. Paralelamente, estamos progredindo significativamente na compreensão da neurociência e dos processos de aprendizagem.

No entanto, não podemos, neste momento, nos dar ao luxo de regredir em termos de políticas públicas ou em redução da oferta de cursos nessa modalidade. Reconheço que o debate sobre qualidade é imprescindível, mas é necessário que avancemos para uma agenda propositiva.

Assim, proponho uma agenda para profissionais da educação e pesquisadores envolvidos com a EaD:

Escute os alunos: não podemos discutir os problemas ou a qualidade do ensino sem ouvir os alunos. Muitas vezes, grandes investimentos são feitos em softwares, metodologias e conteúdo, mas simplesmente negligenciamos os feedbacks dos alunos por meio de pesquisas.

Compreenda os problemas em profundidade: em vez de apenas tratar os sintomas, devemos investigar profundamente as queixas dos alunos e compreender as causas raízes antes de propor soluções. Atribuir os problemas da EaD unicamente à tecnologia e à distância entre professores e alunos não é uma abordagem adequada, especialmente considerando que no ambiente profissional a tecnologia é frequentemente utilizada para resolver problemas e encurtar distâncias.

Invista em formação profissional: muitos profissionais que precisam se adaptar ao Ensino a Distância não são nativos digitais e carecem de habilidades tecnológicas básicas. Não podemos presumir que todos possuam o conhecimento necessário para a EaD.

Entre os segmentos pesquisados no Recall de Marcas 2021 está o de ensino a distância.
Ensino a distância. Crédito: Rawpixel/Freepik

Valorize estudos metodológicos: o avanço tecnológico e a rápida disseminação de informações exigem que as instituições de ensino e pesquisa continuamente avaliem e adaptem seus métodos de ensino.

Busque tecnologias adequadas para os métodos definidos: muitas das tecnologias usadas na EaD foram adaptadas de outros setores e nem sempre são as mais adequadas. Precisamos buscar soluções tecnológicas que atendam especificamente às necessidades da Educação a Distância.

Consulte os professores em todas as etapas: eles são essenciais para o processo educacional, presencial ou a distância.

Em suma, os desafios da EaD refletem os desafios do ambiente de trabalho: melhorar a conexão entre as pessoas, aprimorar o uso da tecnologia e facilitar a aprendizagem. Essa é a jornada em direção a uma verdadeira "Educação sem Distância".

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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