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É CEO da Yduqs e professor da Estácio

É preciso quebrar dúvidas e preconceitos em torno do ensino a distância

Se observado sob as mesmas lentes da inclusão, da qualidade e do potencial de transformação social, o EaD representa uma verdadeira revolução em andamento

  • Eduardo Parente É CEO da Yduqs e professor da Estácio
Publicado em 02/07/2021 às 14h00
Jovem assistindo aula no notebook - videoaula
Antes da pandemia, EaD já contemplava 2,3 milhões de brasileiros. Crédito: Ivan Samkov/ Pexels

Não faz muito tempo, seja por desconhecimento, seja por mero preconceito, falava-se sobre a importância e a contribuição das instituições privadas para o ensino superior com um certo constrangimento. Felizmente, isso são águas passadas. Os números falam por si: as particulares abrigam hoje 76% dos 8,6 milhões de universitários no país e permitiram que, pela primeira vez, tenhamos mais alunos das classes C, D e E no ensino superior do que os de famílias das classes A e B.

Além de escala e do perfil mais inclusivo do segmento privado, que tem 90% dos alunos oriundos das classes CDE, a tarefa de formar com qualidade também vem sendo realizada. Um dos balizadores mais importantes do setor, o Indicador de Diferença de Desempenho (IDD), mede justamente isto: a variação no desempenho acadêmico de um estudante ao fim do ensino médio (resultado no Enem) e no momento de sua graduação no nível superior (no Enade). De acordo com o censo mais recente do Inep (2019) as instituições privadas constituem 73% de todas com IDD considerado satisfatório (conceito 3 ou mais, numa escala de 1 a 5) e 72% das que possuem nota máxima.

Porém, se evoluímos em dar às instituições privadas seu devido peso e crédito, ainda persistem um certo nível de desconhecimento e um desconforto quando falamos do ensino a distância (ou ensino digital). Se observado sob as mesmas lentes da inclusão, da qualidade e do potencial de transformação social, o EaD representa uma verdadeira revolução em andamento, cujos benefícios vamos colher ao longo das próximas décadas.

Um primeiro mito que precisamos derrubar é o de que o EaD canibaliza o ensino presencial tradicional. Os dados do setor mostram claramente que isso não acontece. O número de alunos mensalistas do ensino presencial inclusive registrou leve aumento nos últimos cinco anos com os dados disponíveis, para a casa dos 3,6 milhões, em 2019. Amplamente reduzido – levando a uma busca pelas mensalidades mais baixas do EaD – foi o financiamento público ofertado. Em 2014, o Fies, principal programa desse tipo, mantinha quase 1,4 milhão de pessoas estudando. Em 2019, esse número era de 700 mil estudantes.

O crescimento do EaD se deve a três grandes grupos de alunos, com tamanhos semelhantes. O primeiro são os que perderam o financiamento público, logo a condição financeira para cursar o presencial. A esses somamos as pessoas que estão em municípios de pequeno porte, longe dos grandes centros, que não teriam condições de receber um campus, mas que comportam um polo EaD. Por último, temos uma massa de 18 milhões de pessoas que concluíram o ensino médio, mas que não ingressaram no ensino superior. Essas pessoas estão vendo colegas buscando, com sucesso, uma educação adicional em diferentes momentos da vida e estão voltando a estudar.

Para as pessoas que não têm dinheiro, tempo ou acesso físico, o EaD é uma alternativa excepcional – quando não a única opção. Para muitos de nós, que vivemos com padrão de renda, conforto e acesso que em nada deve ao de países ricos, é difícil manter em mente que para um morador do município de Carutapera – cidade com 24 mil habitantes a cerca de 345 Km de São Luís, com IDH de 0,556 e PIB per capita mensal de R$ 580 – o acesso a uma universidade é uma possibilidade apenas para uma parcela ínfima da população. Esse é o perfil típico e propício à instalação de um polo de ensino a distância – um exemplo entre milhares, literalmente, em todo o Brasil.

Nos bons EaD em geral os resultados do Enade são comparáveis ou melhores que os do presencial das mesmas instituições. O conteúdo a que esses alunos passam a ter acesso é produzido por professores das melhores universidades do país, privadas e públicas, complementado por palestras de ministros, esportistas, CEOs, educadores renomados e muitos outros. É a tecnologia levando conhecimento até outro dia restrito aos jovens da elite para todas as classes sociais, em todo o país e em todos os momentos da vida.

A metodologia de ensino é nativa digital, criada para o smartphone e para a internet de baixo desempenho, bastante comum em diversas regiões do país. O conteúdo é formatado pensando no engajamento dos jovens (de todas as idades), buscando sermos competitivos com a miríade de distrações que o mundo moderno proporciona – em especial as redes sociais e os jogos eletrônicos. São vídeos curtos, textos, pesquisas na internet, testes rápidos, resumos, podcasts, sempre atualizados e se alternando na velocidade do mundo atual. No presencial, o tempo de ensino é definido pelo professor, enquanto no EaD quem faz o tempo é o aluno.

Os polos têm um papel muito importante, muito além da função regulatória de monitorar as provas. Existem polos de todos os tipos, mas os que mais me fascinam são os do interior. São estruturas muito simples, em linha com os 40 ou 50 alunos que atendem. Estão lá para ser um ponto de contato e orientação, mas também oferecem algo que mais de 90% dos brasileiros não têm em casa: um ambiente de estudo adequado, com um canto tranquilo e silencioso e internet de qualidade. Nessas salinhas espartanas, com 30m2 ou 40m2 e mobília simples, as portas do ensino superior se escancaram.

E quem está engajado nesses polos do interior? Temos a professora autodidata, que já dá aula na escola municipal local, e que precisa de mais ferramentas para fortalecer a educação de base. Temos o mestre de obras que quer ser engenheiro e construir um prédio. O dono do mercado que quer expandir seu negócio, e o artesão que quer vender on-line para o mundo. Empreendedores, dos quais tanto dependemos como sociedade, e que agora, de forma simples, flexível, ampliam tremendamente seus horizontes. São pessoas que acessam uma universidade, via de regra, pela primeira vez na história de suas famílias.

Não tenhamos, portanto, constrangimentos, dúvidas ou preconceitos com relação ao EaD. As ferramentas digitais vieram para incluir e dar acesso. E a velocidade que estamos abraçando essas ferramentas é fantástica. Temos uma pequena revolução em andamento, que, no último censo (pré-pandemia), já contemplava 2,3 milhões de brasileiros. Número que vai, sem dúvida, seguir crescendo muito, abrindo uma imensa oportunidade para transformar o futuro do nosso país.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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