O Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, celebrado em 20 de fevereiro, é um momento de reflexão sobre um problema que impacta milhares de vidas no Brasil. Em 2024, novas pesquisas revelaram um cenário preocupante sobre o consumo de álcool e outras drogas, destacando desigualdades sociais e desafios no tratamento da dependência química.
A publicação “Álcool e a Saúde dos Brasileiros”, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), mostrou que o consumo abusivo de álcool cresceu no país, atingindo 20,8% da população em 2023, segundo a pesquisa Vigitel. Além disso, houve um aumento expressivo nas internações atribuíveis ao álcool entre pessoas com mais de 55 anos, que passaram de 22% para 35% do total entre 2010 e 2023. A pandemia de Covid-19 agravou o cenário, marcando os anos com as maiores taxas de óbitos por alcoolismo e doenças hepáticas alcoólicas - interrompendo a tendência de queda registrada entre 2014 e 2019.
Os efeitos do álcool são desigualmente distribuídos e repetem as desigualdades sociais estruturais que vivemos no Brasil. Estudos mostram que pessoas pretas e pardas apresentam as maiores taxas de óbitos atribuíveis ao álcool, principalmente por doenças hepáticas alcoólicas. Entre as mulheres, as pretas são as mais afetadas, evidenciando a sobreposição de desigualdades raciais e de gênero.
No que diz respeito ao uso de drogas, o III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, realizado pela Fiocruz, revelou que 66,4% da população de 12 a 65 anos já consumiu álcool, e 33,5% já fez uso de tabaco. Entre as drogas ilícitas, a maconha lidera com 7,7% da população relatando consumo, seguida pela cocaína (3,1%) e pelo crack (0,9%). O estudo também alertou para o aumento do uso não prescrito de medicamentos controlados, como benzodiazepínicos e opiáceos, evidenciando os riscos da automedicação.
No Espírito Santo, a Rede Abraço se tornou um exemplo de acolhimento, cuidado e prevenção. Lançado em 2013 e reformulado em 2019, o programa já realizou mais de 110 mil atendimentos, oferecendo apoio a mais de 22 mil pessoas. Atuando em prevenção, tratamento, reinserção social e pesquisas, o programa já implementou várias iniciativas inovadoras e se destaca no cenário nacional com uma política pública duradoura e continuada.
Em 2024, a Rede Abraço lançou um material didático inédito sobre prevenção ao uso de drogas nas escolas estaduais, capacitando professores para uma abordagem baseada em evidências científicas no campo da prevenção. Além disso, o programa também vem estimulando boas práticas de projetos desenvolvidos pelos professores, organizações sociais e profissionais da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), por meio de premiação financeira via editais.
Para 2025, a Rede Abraço planeja ampliar suas iniciativas, incluindo parcerias com o setor privado para atendimento odontológico de assistidos e o estímulo ao fortalecimento e a organização de conselhos municipais sobre drogas. O objetivo é fortalecer as políticas públicas e criar oportunidades para a reinserção social.
Outra inovação será a implementação de um projeto-piloto do Centro de Prevenção Comunitária, com foco em crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, na região conhecida como “Território do Bem”, em Vitória. Ainda nessa perspectiva, o “Projeto Horizontes” pretende, por meio de abordagens contextualizadas, disseminar informações e orientações sobre Drogas para grupos em situações de maior risco social.
O Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo não é apenas uma data simbólica. É um convite à ação coletiva, unindo governos, sociedade civil, escolas e famílias. O enfrentamento do uso abusivo de álcool e outras drogas exige políticas públicas integradas, com foco na prevenção, no cuidado humanizado e na redução de danos.
Para viabilizar essas políticas, uma alternativa é a destinação da taxação de tabaco e bebidas alcoólicas para o financiamento das ações. Em suma, mais do que discursos moralistas, é preciso acolher, educar, financiar uma política sistemática e oferecer novas perspectivas para um futuro mais saudável para todas as pessoas.
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