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É gerontóloga e especialista em Cuidados Humanizados

Do Enem à vida real: o envelhecimento entrou na pauta do Brasil

Envelhecimento deixa de ser um campo isolado e passa a ocupar espaço no imaginário coletivo, especialmente entre os jovens, justamente aqueles que irão lidar com um país onde o número de idosos cresce mais rápido do que a estrutura disponível

  • Lucyana Costa É gerontóloga e especialista em Cuidados Humanizados
Publicado em 18/11/2025 às 15h07

Nos últimos dias, uma notícia chamou a atenção de quem acompanha as transformações demográficas do país: o Enem 2025 escolheu como tema de redação “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”.

A escolha não é aleatória. É sintomática. O Brasil envelheceu antes de estar preparado, e agora o assunto finalmente chega ao centro do debate nacional. Mais surpreendente ainda é o dado divulgado junto ao anúncio: o número de pessoas idosas inscritas no Enem cresceu quase 190%.

Isso mostra que envelhecimento ativo não é discurso, é movimento real. São pessoas buscando formação, oportunidades e pertencimento, mesmo após décadas de vida.

O que esse movimento revela?

Durante muito tempo, o envelhecimento foi tratado como um tema “de nicho”, restrito a profissionais de saúde, cuidadores ou famílias diretamente envolvidas.

Hoje, deixa de ser um campo isolado e passa a ocupar espaço no imaginário coletivo, especialmente entre os jovens, justamente aqueles que irão lidar com um país onde o número de idosos cresce mais rápido do que a estrutura disponível.

O Enem apenas traduziu em pauta o que a sociedade já sente: o envelhecer virou assunto de todos.

Envelhecer é continuidade, não encerramento

O crescimento da participação de idosos no exame quebra paradigmas importantes. Envelhecer não é perder relevância, utilidade ou potência. Envelhecer é continuar:

  • aprendendo,
  • produzindo,
  • opinando,
  • participando da vida social.

Na prática profissional, tanto no cuidado domiciliar quanto nas consultorias familiares — observo isso diariamente. Quem envelhece hoje quer autonomia, qualidade de vida, estímulos, relação com o mundo. Não aceita mais a condição de “coadjuvante”.

Mas o desejo de continuidade esbarra em uma realidade delicada: diagnósticos tardios, rede de apoio insuficiente, famílias sobrecarregadas e um sistema de saúde que ainda reage devagar às novas demandas.

Por que o tema do Enem importa para profissionais, famílias e a Grande Vitória?

Porque escancara uma urgência: precisamos preparar o país para um envelhecimento que já começou.

mão de idoso terceira idade pessoa idosa
Cuidados com a pessoa idosa. Crédito: Ricardo Medeiros

E preparar significa:

  • desenvolver ambientes seguros e funcionais para idosos;
  • qualificar cuidadores com técnica e sensibilidade;
  • incentivar práticas de estimulação cognitiva;
  • capacitar famílias para lidar com perda de autonomia;
  • fortalecer serviços humanizados de cuidado;
  • oferecer suporte emocional aos cuidadores informais.

Na Grande Vitória, onde o número de idosos cresce anualmente, esse debate precisa ganhar força imediata. O cenário local exige políticas, serviços e iniciativas capazes de acompanhar essa transformação.

Não é futuro. É agora!

O envelhecimento bate à porta de todas as famílias brasileiras.

Preparo da sociedade.

Preparo da família.

Preparo dos profissionais.

E preparo dos próprios idosos.

O Brasil começa, enfim, a enxergar o envelhecimento como questão central. Nossa responsabilidade, como consultores, gerontólogos, cuidadores e cidadãos, é garantir que essa discussão gere mudança real e transforme vidas.

O envelhecimento está em pauta. E o melhor caminho para enfrentá-lo é falar sobre ele com ciência, sensibilidade e ação.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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