Nos últimos dias, uma notícia chamou a atenção de quem acompanha as transformações demográficas do país: o Enem 2025 escolheu como tema de redação “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”.
A escolha não é aleatória. É sintomática. O Brasil envelheceu antes de estar preparado, e agora o assunto finalmente chega ao centro do debate nacional. Mais surpreendente ainda é o dado divulgado junto ao anúncio: o número de pessoas idosas inscritas no Enem cresceu quase 190%.
Isso mostra que envelhecimento ativo não é discurso, é movimento real. São pessoas buscando formação, oportunidades e pertencimento, mesmo após décadas de vida.
O que esse movimento revela?
Durante muito tempo, o envelhecimento foi tratado como um tema “de nicho”, restrito a profissionais de saúde, cuidadores ou famílias diretamente envolvidas.
Hoje, deixa de ser um campo isolado e passa a ocupar espaço no imaginário coletivo, especialmente entre os jovens, justamente aqueles que irão lidar com um país onde o número de idosos cresce mais rápido do que a estrutura disponível.
O Enem apenas traduziu em pauta o que a sociedade já sente: o envelhecer virou assunto de todos.
Envelhecer é continuidade, não encerramento
O crescimento da participação de idosos no exame quebra paradigmas importantes. Envelhecer não é perder relevância, utilidade ou potência. Envelhecer é continuar:
- aprendendo,
- produzindo,
- opinando,
- participando da vida social.
Na prática profissional, tanto no cuidado domiciliar quanto nas consultorias familiares — observo isso diariamente. Quem envelhece hoje quer autonomia, qualidade de vida, estímulos, relação com o mundo. Não aceita mais a condição de “coadjuvante”.
Mas o desejo de continuidade esbarra em uma realidade delicada: diagnósticos tardios, rede de apoio insuficiente, famílias sobrecarregadas e um sistema de saúde que ainda reage devagar às novas demandas.
Por que o tema do Enem importa para profissionais, famílias e a Grande Vitória?
Porque escancara uma urgência: precisamos preparar o país para um envelhecimento que já começou.
E preparar significa:
- desenvolver ambientes seguros e funcionais para idosos;
- qualificar cuidadores com técnica e sensibilidade;
- incentivar práticas de estimulação cognitiva;
- capacitar famílias para lidar com perda de autonomia;
- fortalecer serviços humanizados de cuidado;
- oferecer suporte emocional aos cuidadores informais.
Na Grande Vitória, onde o número de idosos cresce anualmente, esse debate precisa ganhar força imediata. O cenário local exige políticas, serviços e iniciativas capazes de acompanhar essa transformação.
Não é futuro. É agora!
O envelhecimento bate à porta de todas as famílias brasileiras.
Preparo da sociedade.
Preparo da família.
Preparo dos profissionais.
E preparo dos próprios idosos.
O Brasil começa, enfim, a enxergar o envelhecimento como questão central. Nossa responsabilidade, como consultores, gerontólogos, cuidadores e cidadãos, é garantir que essa discussão gere mudança real e transforme vidas.
O envelhecimento está em pauta. E o melhor caminho para enfrentá-lo é falar sobre ele com ciência, sensibilidade e ação.
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