Uma transformação disruptiva promete reposicionar a televisão aberta no epicentro do consumo de mídia brasileiro. A TV 3.0, ou DTV+, como será comercialmente conhecida, representa muito mais que uma evolução tecnológica: é a resposta da radiodifusão à migração de audiência e verba publicitária para as plataformas digitais. O decreto presidencial assinado em 27 de agosto marca oficialmente essa revolução.
Dados do Cenp-Meios, sistema oficial de monitoramento dos investimentos publicitários do mercado brasileiro, mostram que a TV aberta perdeu 8,2 pontos percentuais de participação no bolo publicitário entre 2019 e 2025 - caindo de 54,7% para 46,5% - enquanto a internet saltou de 19,1% para 36,5% no mesmo período.
Nesse contexto, a chegada da DTV+ surge como uma oportunidade de reconquista. Paradoxalmente, os dados mostram que os brasileiros consomem 5h38min diárias de televisão por pessoa, mais que o dobro do tempo gasto em smartphones, tablets e desktops somados.
A tecnologia adotada pelo Brasil integra transmissão terrestre com recursos de internet, criando um ambiente híbrido que mantém a gratuidade da TV aberta, mas oferece funcionalidades antes exclusivas do ambiente digital. É a televisão transformando-se em "um grande smartphone na casa do brasileiro".
Para profissionais como nós, que produzimos jornalismo, a DTV+ representa uma revolução na forma de engajar a audiência. Encontraremos no novo modelo as ferramentas interativas que as plataformas digitais já oferecem.
Votações em tempo real, enquetes durante telejornais, chats em programas ao vivo e conteúdo personalizado transformarão cada telespectador em participante ativo. Haverá uma entrega customizada de conteúdo. O telespectador terá acesso, por exemplo, a serviços de previsão do tempo, situação do trânsito ou transporte público específicos para o local onde mora.
Assistir a uma partida de futebol vai se tornar uma experiência ainda mais prazerosa. O telespectador poderá ouvir apenas a narração do jogo, ter acesso a um canal de áudio exclusivo para ouvir a torcida cantando o hino do seu time ou então saber o que disse o técnico num determinado momento. O mesmo ocorrerá com shows e apresentações artísticas. A tela da televisão vai oferecer canais para você ouvir apenas o cantor; ou separar os instrumentos e ter acesso apenas ao som do violão, da bateria, do teclado. É um novo mundo que se apresenta.
Os investimentos para a transição - estimados entre R$ 9 e 11 bilhões ao longo de 15 anos - sinalizam a confiança do setor. O cronograma prevê o início das transmissões comerciais já na Copa do Mundo de 2026, começando pelas grandes capitais.
A perspectiva de recuperar parte relevante da verba publicitária migrada para as plataformas digitais motiva essa aposta. Uma das principais inovações está na capacidade de conhecer profundamente os hábitos de consumo de cada pessoa. Grandes ou pequenas empresas poderão criar campanhas publicitárias sob medida para diferentes perfis de consumidores, oferecendo produtos e serviços que realmente interessam a cada telespectador específico.
Pessoas estarão assistindo ao mesmo programa, mas verão anúncios completamente diferentes, cada um adaptado aos seus interesses pessoais e histórico de compras. A televisão vai ganhar a mesma inteligência dos algoritmos das plataformas digitais, mas o alcance massivo que só a da TV aberta tem.
A mudança mais estrutural está na interface baseada em aplicativos. Os canais deixam de ser números para se tornarem ícones em um catálogo, similar aos serviços de streaming. Essa arquitetura devolve visibilidade à TV aberta nos receptores, que hoje relegam os canais abertos a posições secundárias, priorizando plataformas pagas.
A DTV+ é muito mais que tecnologia: é estratégia de sobrevivência e crescimento. Em um país onde 99,54% da população foi exposta a conteúdo em vídeo no último ano e a TV aberta mantém 70% do tempo total consumido, essa revolução pode ser o diferencial que manterá a televisão brasileira relevante por décadas.
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