O início de 1985 trazia novos ventos para a política nacional. Em janeiro daquele ano, Tancredo Neves foi eleito presidente da República pelo Colégio Eleitoral, tendo como vice José Sarney. Após 21 anos e cinco generais presidentes (Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo), um civil voltaria a ocupar o mais alto posto da República.
Por uma fatalidade, Tancredo morreu antes de tomar posse. Coube, então, a Sarney o papel de comandar o país. A eleição de Tancredo, embora indireta, refletia os anseios de nós, brasileiros, por mudanças – ele derrotou o candidato alinhado ao regime, Paulo Maluf. A campanha das Diretas Já, entre 1983 e 1984, com manifestações nas ruas, inclusive em Vitória, já tinha dado o recado sobre o que o País exigia: votar para presidente.
Embora a chamada “Emenda Dante de Oliveira”, que reestabelecia a eleição direta para o cargo, não tivesse sido aprovada pelo Congresso Nacional, o movimento por esse direito era irreversível. O regime militar dava sinais de esgotamento, embora a linha-dura das Forças Armadas estivesse sempre à espreita.
A liderança serena de Tancredo conduziu o país em sua volta à normalidade. Ele foi um dos signatários do “Compromisso com a nação”, um documento que se comprometia com o restabelecimento imediato das eleições diretas, livres e com o sufrágio universal.
Sarney deu continuidade ao compromisso firmado com a Nação e, em julho de 1985, enviou ao Congresso Nacional a proposta de convocação da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), que estendeu os seus trabalhos de 1987 a 1988. Ao fim desse processo, o Brasil tinha uma nova constituição, a “Constituição Cidadã”. Foi na sessão de promulgação da nova Carta que Ulysses Guimarães, presidente da ANC, disse a frase que entrou para a história: “Temos ódio e nojo da ditadura”.
Em 1989, o país pôde, enfim, escolher o seu presidente. Sinal do anseio da sociedade brasileira em participar da política nacional, as eleições daquele ano tiveram 22 candidatos a presidente, das mais variadas correntes políticas. Fernando Collor de Mello saiu vencedor do pleito. Desde então, tivemos eleições regulares, com ampla participação e envolvimento da população. As eleições municipais de 1996 foram as primeiras a contar com a urna eletrônica, um notório sinal do aperfeiçoamento do nosso sistema e justiça eleitorais.
Evidentemente, nossas instituições democráticas não são perfeitas e demandam constante aprimoramento. No entanto, não devemos perder de vista o que nós, brasileiros, conquistamos. Quarenta anos depois daquele longínquo 1985, fica ainda mais cristalino o valor sagrado da democracia.
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