As bandeiras de "esquerda" e "direita", hoje, no Brasil, apenas geram confusão e colaboram para o atraso do país. Parece algo encomendado de fora para dar errado. Na verdade, esquerda e direita são ambas essenciais: direitos iguais, solidariedade e tolerância (esquerda) são fundamentais para qualquer sociedade; disciplina, ordem e excelência (direita) também são indispensáveis ao país. Em vez de se perderem em brigas tribais em torno dessas bandeiras, os brasileiros deveriam focar suas energias nos interesses comuns e brigar pelo desenvolvimento do país.
A definição dos termos “direita” e “esquerda”, em teoria, é bastante estabelecida, tendo sido bem delineada pelo filósofo italiano Norberto Bobbio no ensaio “Direita e Esquerda”, de 1994. Bobbio mostra que as posições de esquerda estão associadas às noções de igualdade, tolerância e justiça, ao passo que as posições de direita se associam às noções de mérito, ordem e segurança. Bobbio esclarece algo fundamental: não existe nisso um lado bom e outro mal, ambos os lados possuem seus pontos fortes e fracos, segundo o contexto.
Essa perspectiva tem sido confirmada por pesquisas empíricas no campo da psicologia, como as trabalhadas pelo psicólogo norte-americano Jonathan Haidt, as quais têm confirmado que, de fato, os eleitores tendem a se dividir em dois grandes grupos com perfis que podem ser associados àquelas características de esquerda e de direita. Mais que isso: tais pesquisas revelam que esses perfis dos eleitores são traços naturais e até genéticos da sua personalidade, expressando tendências que se desenvolveram ao longo de séculos de evolução e que foram, ambas, importantes para a sobrevivência da nossa espécie.
Os países que crescem e se desenvolvem não escolhem entre “direita”, “esquerda”, “mais Estado” ou “menos Estado”. Eles equilibram Estado, mercado, esquerda e direita, conforme convém ao país e a sua população. Por exemplo, os Tigres Asiáticos e a China reduziram o Estado nas Plataformas de Exportação, para atrair investimento estrangeiro, mas, com o dinheiro obtido, colocaram mais Estado na indústria nacional, na infraestrutura, na educação e na tecnologia.
O Brasil, perdido em ideologias artificiais, faz exatamente o oposto: tem muito Estado para atrapalhar pequenos e médios empresários e investimentos estrangeiros; mas pouco Estado para investir no país. Tragédia encomendada ou coincidência infeliz?
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