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É arquiteta, urbanista e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU-ES)

Dia Mundial das Cidades: chamado urgente para pensar em urbanismo humano

Em meio à emergência climática e às desigualdades urbanas, o desafio é construir cidades que acolham, conectem e garantam dignidade a todos

  • Priscila Ceolin É arquiteta, urbanista e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU-ES)
Publicado em 31/10/2025 às 08h30

No dia 31 de outubro, o Dia Mundial das Cidades nos convida a uma reflexão urgente: o futuro da humanidade se desenha nas urbes. Com mais da metade da população global vivendo em cidades, e essa proporção em constante crescimento, discutir moradia digna, mobilidade, sustentabilidade e inclusão não é apenas uma pauta técnica, é uma necessidade social vital.

Nossas cidades, celeiros de oportunidades e inovação, infelizmente também concentram abismos de desigualdade. O mesmo território que impulsiona o desenvolvimento econômico, muitas vezes, exclui parcelas significativas de sua população, revelando a urgência de repensar o direito fundamental à cidade.

Teleférico em Medelín, na Colômbia
Medelín, na Colômbia: modelo de urbanismo social, com teleféricos para conectar comunidades marginalizadas. Crédito: Pixabay

A boa notícia é que o urbanismo tem o poder de ser um vetor de transformação social. Exemplo vivo dessa potência é Medellín, na Colômbia. De uma cidade estigmatizada, emergiu um modelo de urbanismo social, usando teleféricos para conectar comunidades marginalizadas, criando parques lineares e revitalizando encostas. Este case inspira ao provar que o desenho urbano, aliado a políticas públicas coordenadas, é um motor inegável de inclusão e segurança.

Diante da emergência climática, o papel do urbanismo torna-se ainda mais crucial. Com os automóveis como um dos maiores emissores de CO₂, investir maciçamente em mobilidade ativa (pedestres e bicicletas) e em transporte público de qualidade não é apenas uma escolha sustentável, mas uma garantia para a existência futura no planeta. Além disso, as Soluções Baseadas na Natureza (SBN) já são realidade em muitas cidades. A densificação planejada e inteligente, que respeita a ventilação e insolação dos imóveis, e a arborização estratégica são pilares para cidades mais resilientes e confortáveis.

É o momento de repensar estratégias: em vez de canalizar rios e córregos, deveríamos limpá-los e reintegrá-los à malha urbana. Estes cursos d'água podem se tornar espaços de lazer, biodiversidade e essenciais para a redução das ilhas de calor, respeitando seu fluxo natural. Há, ainda, uma forte conexão entre urbanismo e economia. Dados consistentes demonstram que regiões que priorizam a mobilidade de pedestres e oferecem espaços públicos vibrantes experimentam um maior desenvolvimento econômico, com comércio e serviços prosperando em ruas mais humanas.

O Dia Mundial das Cidades é, portanto, um chamado à ação. Conclamo a sociedade civil, gestores públicos e urbanistas a abraçarem um urbanismo humano, onde cada rua, praça e edifício seja reflexo de escolhas coletivas que priorizam a vida, a equidade e a sustentabilidade. A cidade que funciona para todos é aquela que se constrói com empatia, planejamento e acessibilidade.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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