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É educador há 30 anos e diretor da Escola Americana de Vitória

Como os pais podem ajudar os filhos a ter um bom desempenho na escola?

Ser o modelo para hábitos e valores que legitimamos adquire uma importância vital. As crianças aprendem muito mais por modelagem do que por discurso

  • Cristiano Carvalho É educador há 30 anos e diretor da Escola Americana de Vitória
Publicado em 23/01/2024 às 14h43

Assim como no ano passado, volto a escrever sobre um tema recorrente para pais com filhos em idade escolar: como podemos ajudar nossos filhos a ter um bom desempenho na escola neste ano? Embora não haja receitas universais para o sucesso acadêmico, há parâmetros e estratégias que oferecem um norte às famílias.

Primeiramente devemos considerar a volta à rotina escolar. Durante o período de férias, as crianças e jovens passam a ter uma rotina mais flexível, o que é muito bom. Nesta época do ano nos permitimos dormir e acordar mais tarde, ter horários e cardápios mais flexíveis para refeições, dentre outros privilégios típicos das férias de verão.

Por outro lado, nem sempre os hábitos adquiridos nesse descanso são saudáveis. Em muitos casos, adolescentes fazem uso abusivo de telas e trocam o dia pela noite. Reajustar essa rotina demanda energia e tempo.

Por isso, uma das primeiras medidas a serem tomadas é voltar a dormir e acordar nos horários regulares do ano letivo, respeitando a quantidade de horas de sono recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

Por exemplo, sabendo que um adolescente precisa de uma média de 9 a 10 horas de sono, a família precisa usar esse parâmetro para reorganizar a rotina de sono do jovem. Não é fácil, mas é necessário para um bom retorno às aulas.

Escola e família são (ou deveriam ser) parceiras na educação das crianças e adolescentes. Como em toda parceria, cada um tem seus papéis específicos em prol de um objetivo comum. Pensando em educação como um tema amplo e considerando os avanços e mudanças características do mundo contemporâneo, criar condições para que uma criança se mantenha um aprendiz por toda a vida (lifelong learning é o termo em inglês) é uma das principais funções do educador, seja ele família, seja professor.

Nesse quesito, ser o modelo para hábitos e valores que legitimamos adquire uma importância vital. As crianças aprendem muito mais por modelagem do que por discurso. Sendo assim, leia com frequência e seu filho terá maiores chances de ser um leitor competente. Valorize a curiosidade, as perguntas, a exploração de temas de interesse de cada faixa etária, converse com os filhos sobre o que eles estão estudando e teremos um terreno fértil para o desenvolvimento de um aprendiz por toda a sua vida.

A Unesco considera o lifelong learning uma habilidade fundamental para enfrentarmos os desafios globais e alcançarmos os objetivos de desenvolvimento sustentável para todo o planeta. O sucesso na escola abre caminho para o sucesso cidadão.

Em educação existe um termo chamado “terceiro educador”, que se refere ao espaço em que se aprende. Escolas internacionais de ponta, por exemplo, investem alto na arquitetura dos espaços para que os alunos estejam expostos aos objetos de estudo, às suas produções e aos idiomas usados, uma vez que o espaço organizado para a aprendizagem potencializa sua aquisição.

Em casa, as famílias devem estar atentas aos espaços onde os filhos estudam. Temperatura e luminosidade estão adequadas? Os cômodos são silenciosos? Os filhos dispõem dos recursos que necessitam? Quando tratamos de recursos, nos referimos tanto aos analógicos (livros, lápis, caneta, caderno, mesa, cadeira adequada) quanto aos virtuais (computador, tablet, internet com velocidade compatível à demanda). Aprende-se melhor e de forma mais prazerosa em lugares que sejam preparados para o estudo.

Por fim e não menos importante, contemple e acolha as frustrações. Muitas famílias, com muito amor e as melhores intenções, fazem de tudo para eliminar o desapontamento da vida dos filhos. Embora o sucesso seja o alvo para os objetivos pessoais de cada um de nós, não podemos atingi-lo na ausência dos riscos e percalços inerentes ao processo.

Professor em sala de aula
Professor em sala de aula. Crédito: Taylor Wilcox/Unsplash

As grandes conquistas individuais bem como as da humanidade foram acompanhadas de momentos em que o ser humano teve que se superar. Por isso, ao enfrentar uma dificuldade em uma área específica ou ao ter um resultado abaixo do esperado em uma prova, devemos acolher o aluno e ajudá-lo a encarar essa situação como um desafio a ser superado. Identificar áreas de melhoria, lembrar das forças (muitas escolas e famílias acabam focando somente as dificuldades) que cada um possui e traçar estratégias para evoluir favorecem uma mentalidade de crescimento.

Michael Jordan nos inspira quando diz, “Eu errei mais de 9 mil arremessos na minha carreira. Perdi quase 300 jogos. Em 26 oportunidades, confiaram em mim para fazer o arremesso da vitória e eu errei. Eu falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E é por isso que tenho sucesso.”

Um novo começo se avizinha na arquitetura humana que é um calendário. Alguns desafios são perenes, enquanto outros se apresentarão pela primeira vez para cada aluno, professor, família. Disciplina, engajamento mútuo para uma aprendizagem contínua, espaços adequados e acolhimento aos riscos e frustrações são poderosas ferramentas que podemos tirar de uma caixa para potencializar o desempenho escolar de nossos filhos e alunos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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