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É oncologista clínica

Como combater o câncer de pulmão em um país com mais fumantes?

É urgente que a comunidade médica, os governos e os formuladores de políticas públicas unam esforços para implementar estratégias de conscientização que considerem o papel da internet na formação de opinião e no comportamento dos jovens

  • Juliana Alvarenga É oncologista clínica
Publicado em 04/08/2025 às 14h01

O Brasil obteve grande êxito, ao longo das décadas de 1990 e 2000, com campanhas de conscientização e ações legais que desestimularam o consumo de cigarros. Desde peças publicitárias de forte impacto até a proibição de propagandas nos meios de comunicação e o veto ao fumo em ambientes fechados, em algum momento dos últimos 30 anos o país passou a considerar o tabagismo não apenas um risco à saúde, mas também um hábito ultrapassado.

No entanto, o cenário recente revela uma rápida mudança nesse entendimento. Uma novidade, apontada por diversos especialistas como responsável por esse ponto de virada, é a popularização dos cigarros eletrônicos, os chamados vapes. Com eles, o consumo de nicotina voltou a crescer, embalado pela falsa sensação de que esses dispositivos, coloridos, aromatizados e com sabores agradáveis, seriam inofensivos à saúde.

Neste Agosto Branco, mês de conscientização e combate ao câncer de pulmão, é urgente que o país retome o debate sobre os riscos do tabagismo, especialmente entre os mais jovens. Precisamos discutir planos e alternativas para promover, novamente, a conscientização da nossa juventude sobre os danos causados tanto pelo cigarro tradicional quanto pelos cigarros eletrônicos. A tarefa, no entanto, é mais complexa em tempos de comunicação descentralizada e redes sociais.

Os cigarros eletrônicos podem conter até 120 vezes mais nicotina do que os cigarros convencionais, além de metais pesados em sua composição, o que eleva significativamente o risco de câncer de pulmão e de outras neoplasias. Segundo o último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), a prevalência do uso de vapes entre adolescentes de 14 a 17 anos é de 8,7% - superior à observada entre adultos, que é de 5,4%.

O dado mais alarmante, porém, não é apenas o número. É constatar que, mesmo com a proibição da comercialização desses dispositivos no Brasil, uma nova geração está sendo formada considerando natural o uso dos cigarros eletrônicos.

A realidade escancara importantes lacunas tanto na capacidade de conscientização quanto na fiscalização da venda desses produtos em nosso país. Mas a preocupação da comunidade médica não se restringe aos vapes. Dados do Ministério da Saúde revelam que o número geral de fumantes no Brasil cresceu 25% em 2024 , fazendo o país retroceder a níveis semelhantes aos de 2012.

O tabagismo é o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão, o tipo que mais mata homens e o segundo que mais causa mortes entre mulheres no Brasil. Diante do crescimento do número de fumantes, é inevitável a preocupação com o impacto futuro sobre os índices da doença.

Mulher quebra cigarro
Mulher quebra cigarro. Crédito: Freepik

É urgente que a comunidade médica, os governos e os formuladores de políticas públicas unam esforços para implementar estratégias de conscientização que considerem o papel da internet na formação de opinião e no comportamento da juventude brasileira.

Sabemos que, muitas vezes, o hábito de fumar surge associado a uma falsa sensação de glamour ou como resposta a momentos de ansiedade e sofrimento emocional. Por isso, também é essencial fortalecer as redes de apoio à saúde mental, para que o Brasil reencontre o caminho da redução do número de tabagistas, em todas as faixas etárias.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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