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É vice-governador e secretário de Estado de Desenvolvimento, apresenta neste espaço temas e reflexões sobre os setores que contribuem para o desenvolvimento social e econômico das pessoas e do Espírito Santo

Combustíveis fósseis ainda têm um papel a cumprir

Utilizar os recursos provenientes dos royalties de petróleo é uma das formas nas quais os combustíveis fósseis podem ajudar na transição energética. Mas há outras, como o aumento da utilização do gás natural em diversa aplicações

  • Ricardo de Rezende Ferraço É vice-governador e secretário de Estado de Desenvolvimento, apresenta neste espaço temas e reflexões sobre os setores que contribuem para o desenvolvimento social e econômico das pessoas e do Espírito Santo
Publicado em 13/04/2024 às 02h00

Na última segunda-feira, o jornal Estado de São Paulo iniciou a publicação de uma série de reportagens especiais sobre as oportunidades na chamada economia verde. Na primeira, o assunto foi a transição energética e alguns dados chamam a atenção.

O primeiro deles é que o Brasil é o único emergente entre os 20 países mais bem colocados na corrida pela transição. Somos o 14º, logo atrás do Reino Unido e à frente de países como Portugal, Espanha, China, Hungria, Canadá e Luxemburgo. A reportagem indica também que os investimentos em energia limpa podem gerar até 6,4 milhões de empregos (o equivalente a 14,6% das vagas com carteira assinada) e aumentar o Produto Interno Bruto em R$ 100 bilhões (4,7% do valor atual).

Projeções detalhadas e por segmento da chamada economia verde podem ser encontradas no artigo: Um tesouro escondido – a oportunidade para o Brasil se tornar líder na nova economia verde.

O bom posicionamento do Brasil deriva do fato de 45% da nossa matriz energética ser proveniente de fontes renováveis, enquanto a média mundial é 15%. O que nos dá melhor posicionamento para atingir a chamada emissão zero de gases de efeito estufa e também a oportunidade de índices de “emissão negativa”, e desta forma faturar com créditos de carbono.

Podem ser significativos os impactos da transformação energética na economia país. Há, no entanto, a percepção de que a velocidade poderia ser maior. Dados preliminares sobre 2023 mostram que os investimentos realizados foram bem abaixo dos R$ 165 bilhões anuais necessários.

Rafael Dubeux, secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda e recentemente indicado para compor o conselho da Petrobras, em entrevista à Folha de São Paulo (5 abr. 2024) defendeu: “Agora, não há dúvida de que parte da transição precisa ser viabilizada pelos combustíveis fósseis, que ainda têm um papel a cumprir por vários anos e, de alguma maneira, auxiliam a transição”.

Um dos pontos principais dos acordos firmados na COP 28, realizada no fim de 2023 em Dubai, diz respeito à transição energética e ao uso dos combustíveis fósseis. Segundo o texto da resolução, é preciso “fazer a transição dos combustíveis fósseis nos sistemas de energia, de maneira justa, ordenada e equitativa, acelerando a ação nesta década crítica, de modo a atingir o zero líquido até 2050, de acordo com a ciência".

É nessa linha que estamos trabalhando. A emissão de gases de efeito estufa no Espírito Santo tem uma característica peculiar. As emissões derivadas de processos industriais correspondem a 36,5% do total, contra 5% no Brasil e 10,7% na região sudeste.

A principal fonte são os processos siderúrgicos. A energia vem em segundo lugar, com 32,2%, especialmente devido ao uso de combustíveis fósseis no segmento de transporte. Na sequência temos a agricultura, florestas e uso do solo, com 24,3%, e os resíduos,  com 7%.

Bandes está desenvolvendo junto com o BNDES uma proposta de criação de um fundo alinhado com as propostas do Plano de Descarbonização do Espírito Santo, com recursos compartilhados do Fundo Soberano do Estado do Espírito Santo (Funses) e do BNDES, voltados para o financiamento da economia verde e de baixo carbono, em condições operacionais mais vantajosas em consonância com a finalidade do Funses.

Indústria, metalúrgica, siderúrgica, fábrica
Indústria. Crédito: Miguel Ângelo/CNI

O Bandes também está contratando estudo para identificação de novos projetos alinhados ao Plano de Descarbonização e a carteira que já está em análise dá uma dimensão do potencial dessa linha de atuação. São cerca de R$ 323,1 milhões em projetos de energia renovável. Projetos de produção de biometano a partir de aterros sanitários, de usina de biomassa, de aproveitamento de rejeitos na extração mineral, de redução da emissão de CO2 e rejeitos na indústria de cimento, de usinas de geração fotovoltaica e de geração hidroelétrica. E isso é só o começo!

Utilizar os recursos provenientes dos royalties de petróleo é uma das formas nas quais os combustíveis fósseis podem ajudar na transição. Mas há outras, como o aumento da utilização do gás natural em diversa aplicações, como nos transportes, por exemplo. É importante afastar os preconceitos e acelerar a transição na linha aprovada na COP 28. Vamos usar a nosso favor, a favor do planeta e das próximas gerações, os recursos que temos a dádiva de possuir e acelerar o passo na transição energética.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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