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É empresária e presidente da CDL Jovem Vitória

Carga tributária no Brasil: por que pagamos tanto e recebemos tão pouco?

Para chamar a atenção da população para esse desequilíbrio, neste dia 29 de maio será realizado o Dia Livre de Impostos. A ação, promovida em todo o país, busca conscientizar a sociedade sobre o impacto da carga tributária no consumo e nos serviços

  • Daiani Lavino É empresária e presidente da CDL Jovem Vitória
Publicado em 29/05/2025 às 09h00

Você já parou para calcular quanto do seu salário vai embora em impostos? No Brasil, essa é uma conta difícil de fazer, não só porque pagamos muito, mas também porque grande parte da tributação está escondida nos preços dos produtos e serviços. O mais frustrante é que, mesmo com uma carga tributária elevada, a percepção geral é de que recebemos muito pouco em troca.

A carga tributária brasileira gira em torno de 33% do Produto Interno Bruto (PIB), patamar semelhante ao de países como Alemanha e Reino Unido. A diferença é que, nesses países, os contribuintes têm em contrapartida serviços públicos eficientes, com acesso universal e de qualidade à saúde, educação, transporte e segurança. No Brasil, apesar de pagarmos proporcionalmente o mesmo, o retorno é muito inferior: escolas públicas com estruturas precárias, filas no SUS, transporte público ineficiente e altos índices de violência.

Além disso, o sistema tributário brasileiro é um dos mais complexos do mundo. São dezenas de tributos cobrados por diferentes entes federativos, com regras que mudam com frequência e que impõem custos altíssimos para empresas de todos os portes, principalmente as micro e pequenas. Um estudo do Banco Mundial mostrou que uma empresa no Brasil gasta, em média, mais de 1.500 horas por ano apenas para lidar com obrigações fiscais, enquanto na Estônia esse número é inferior a 50 horas. Esse excesso de burocracia reduz a produtividade, desestimula investimentos e contribui para a informalidade.

Outro ponto crítico é o modelo de arrecadação, fortemente baseado no consumo. No Brasil, a maior parte dos tributos incide sobre produtos e serviços, o que significa que ricos e pobres pagam os mesmos valores de imposto ao comprar um pão, um remédio ou abastecer o carro.

Isso torna o sistema regressivo, pois os mais pobres comprometem uma parcela muito maior da sua renda com tributos. Em países desenvolvidos, a lógica é inversa: tributa-se mais a renda e o patrimônio, o que ajuda a reduzir desigualdades sociais.

Para chamar a atenção da população sobre esse desequilíbrio, neste dia 29 de maio será realizado o Dia Livre de Impostos (DLI). A ação, promovida em todo o país, busca conscientizar a sociedade sobre o impacto da carga tributária no consumo e nos serviços.

Motoristas fazem fila para abastecer carro no Dia Livre de Impostos
Motoristas fazem fila para abastecer carro no Dia Livre de Impostos em 2023. Crédito: Ricardo Medeiros

No Espírito Santo, o DLI será coordenado pela CDL Jovem Vitória, com a participação de farmácias, supermercados, lojas e postos de gasolina que venderão produtos sem a incidência de impostos. A proposta é simples e direta: mostrar, na prática, o quanto o consumidor paga em tributos e provocar uma reflexão sobre os baixos retornos oferecidos pelo Estado.

Nesse cenário, a reforma tributária surge como uma tentativa de reorganizar esse sistema. Entre os principais pontos está a criação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que substituirá diversos tributos sobre o consumo e promete simplificar a cobrança, aumentar a transparência e reduzir distorções. No entanto, os efeitos práticos da reforma ainda são incertos. O sucesso da proposta dependerá de implementação eficaz, transição bem planejada e de um compromisso real com o uso eficiente dos recursos públicos.

Enquanto isso não acontece, é fundamental que cada brasileiro se informe e cobre melhorias. A conscientização é o primeiro passo para transformar esse sistema que pesa demais no bolso, com pouco retorno para a sociedade.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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