No Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado neste dia 9 de agosto, somos chamados a refletir sobre os muitos apagamentos que ainda persistem em nossa sociedade. Um deles, silencioso e pouco debatido, é a exclusão invisível dos indígenas com deficiência.
O tema foi amplamente debatido durante a 18ª Conferência dos Estados Partes da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (COSP18), que aconteceu em junho, na sede da ONU, em Nova York (EUA), e reuniu autoridades de todo o mundo para discutir os caminhos da inclusão e protagonismo das pessoas com deficiência.
A questão da deficiência entre os povos indígenas, mesmo dentro dos debates sobre direitos humanos e inclusão, ainda permanece à margem. No Espírito Santo, os dados do Censo de 2022 são reveladores e alarmantes. Enquanto 7,2% da população do Estado vivem com alguma deficiência, entre os indígenas esse índice salta para 11,4%. E o recorte da educação torna o quadro ainda mais preocupante: 24% das pessoas indígenas com deficiência são analfabetas, contra 19,5% na média estadual da população com deficiência.
Esses números não são apenas estatísticas. Eles denunciam o que chamamos de exclusão em camadas: ser indígena, ser pessoa com deficiência e estar afastado dos centros de decisão. Cada uma dessas condições carrega estigmas históricos e estruturais. Somadas, representam um apagamento social quase completo.
A COSP18 reforçou que não é possível falar em inclusão plena sem encarar essa realidade. A deficiência, nesse contexto, não é um marcador isolado. Ela se entrelaça com a cultura, o território, a língua, os saberes e as violências históricas vividas pelos povos originários.
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Se queremos um país que respeite a diversidade e fomente a inclusão, precisamos pensar em todos. É urgente escutar as lideranças indígenas, formar profissionais capacitados para lidar com diferentes cosmovisões, garantir acessibilidade linguística e cultural e reconhecer os modos de vida tradicionais como legítimos e dignos. A inclusão, nesse contexto, não pode ser genérica. Ela precisa ser situada, respeitosa e transformadora.
O Espírito Santo tem uma presença indígena viva, rica em cultura e tradição. É tempo de fazer ecoar as vozes que historicamente foram silenciadas. A luta pelos direitos das pessoas com deficiência também precisa ser uma luta contra o racismo, o colonialismo e o capacitismo. Porque nenhuma política será verdadeiramente inclusiva se continuar ignorando aqueles que sempre estiveram à margem das margens.
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