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É pesquisadora em gênero e raça pela Ufes. Também é advogada criminalista

2023: mais um ano difícil para ser mulher no Brasil

A violência pode ser compreendida enquanto ferramenta de controle sob a mulher. Entenda, não apenas seu corpo. Mas de suas escolhas, seus direitos, sua liberdade

  • Layla Freitas É pesquisadora em gênero e raça pela Ufes. Também é advogada criminalista
Publicado em 31/12/2023 às 14h00

Pensei muito sobre este texto. Segundo dados do IBGE, mais de 2,5 milhões de mulheres não trabalharam em 2022 para cuidar de parentes ou das tarefas domésticas. E o principal motivo que as tirou do mercado de trabalho foi o cuidado. Mais de 2 milhões disseram que não buscaram trabalho porque precisavam cuidar dos afazeres domésticos ou tomar conta de parentes.

Trago esses dados para pensarmos na importância da mulher e do tanto de espaços e conquistas que deixamos de lado por conta de sermos enxergadas, primordialmente, enquanto cuidadoras de outrem. Ainda, como esse papel da mulher, tanto em seu ambiente interno, quanto externo, são de extrema relevância para o desenvolvimento da nossa sociedade. E, assim mesmo, a mulher é renegada.

E não há problema nisso, se não resultados em discursos como: "não tem mulher interessada"; “abrimos vaga mas…”

Como ser tanto ao mesmo tempo? Como ser una?

Cada vez que me vejo cansada de uma rotina, sou pega em pensamentos de quantas mulheres são obrigadas a fazer/ser mais. Mais mães, mais irmãs, mais trabalhadoras. Mais e mais. E essa realidade é ainda mais avassaladora quando pensamos a partir do recorte de raça e orientação sexual.

A violência pode ser compreendida enquanto ferramenta de controle sob a mulher. Entenda, não apenas seu corpo. Mas de suas escolhas, seus direitos, sua liberdade. E ocorre de diversas formas. Como acima demonstrei, não apenas por meio de uma violência física.

Porém, não dá para deixar de retratar a realidade da mulher no Brasil neste ano quando nas situações desta violência.

No primeiro semestre de 2023, 722 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, com um crescimento de 2,6% comparado ao mesmo período do ano anterior, quando 704 mulheres foram assassinadas por razões de gênero.

Três dos quatro estados da região Sudeste apresentaram crescimento dos feminicídios: em São Paulo o crescimento foi de 33,7%, passando de 83 casos nos seis primeiros meses de 2022 para 111 casos em 2023; em Minas Gerais o aumento foi de 11%, passando de 82 casos em 2022 para 91 em 2023; e no Espírito Santo a variação foi de 20%, passando de 15 vítimas em 2022 para 18 vítimas em 2023. A maioria das vítimas são jovens e negras (lembrem do recorte!).

Mulheres com etnias diferentes: branca, asiática e negra
Mulheres . Crédito: shutterstock

Isso só demonstra que avançamos sim, mas a luta continua.

É preciso pensar em alternativas, políticas públicas com objetivo de alcançar uma sociedade que enxergue e reconheça as violências (diversas). Precisamos que as leis sejam eficazes não apenas na punição, mas também quando pensarmos na prevenção. Violência se combate com cultura, com educação. Com um atendimento humanizado e acolhedor, o que também passa por uma polícia e instituição renovadas nas questões apontadas acima. É preciso muito mais. Não do do Estado e das instituições mas da sociedade. Transformar.

Como diria Angela Davis: "Você tem que agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo."

E fazer isso o tempo todo é exaustivo. Como foi ser mulher em 2023? Eu diria que cansativo, mas seguiremos em busca até a realidade ser radicalmente transformada. Que venha 2024.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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