Administrador de Empresas (UERJ), pós-graduado em Engenharia Econômica (UERJ), certificado CFP® e Ancord. 21 anos de carreira no mercado financeiro, com passagens pelo atendimento Private, Alta Renda, Gestora de Recursos, Tesouraria e Educadoria Corporativa. Desde 2018, sócio da Pedra Azul Investimentos, escritório de assessoria de investimentos sediado em Vitória-ES.

Especulação não é vilã. Entenda quem é e o que faz um bom especulador

A especulação é vista com maus olhos pela maioria das pessoas, mas, olhando de perto, é uma atividade essencial para a saúde dos mercados

Vitória
Publicado em 03/03/2022 às 09h24

No mercado financeiro operam os mais diversos agentes, em busca de diferentes propósitos. Todos conhecemos alguém que investe seus recursos e, para isso, busca uma corretora de valores ou banco onde possa escolher produtos ou ativos financeiros que lhe deem o retorno esperado. Um trabalhador que aplica em previdência, uma senhora que deposita na poupança, um jovem que compra ações ou uma empresa que precisa remunerar sua liquidez.

Entre mocinhos e bandidos, entretanto, paira uma figura obscura, desconhecida, raramente denominada por nome e sobrenome, cujo passado e futuro ninguém conhece. Um sujeito muitas vezes visto como alguém vil, cruel e sem coração, que entra no mercado apenas para prejudicá-lo e obter vantagens para si em detrimentos de outros: o especulador. No imaginário popular, o especulador sempre vence, sabe de tudo antes de todo mundo, e opera com vantagens sobre os outros, principalmente no acesso à informação privilegiada.

No mundo real, especulação é algo bem diferente disso. Especular, em palavras simples, é tomar risco de mercado para obter ganhos. Assim, o especulador evita investimentos conservadores e, em lugar disso, opera aceitando risco nas suas operações, o que muitas vezes excede o risco normal de, por exemplo, comprar ações.

Estratégia e especulação
Estratégia e especulação. Crédito: Freepik

O primeiro ponto a se desmistificar é que qualquer um pode ser um especulador, mesmo que seja por um instante. Comprar risco, principalmente em renda variável, nos coloca na ponta de especulação de certa maneira. É fato que existem pequenos e grandes especuladores, bem como os amadores e profissionais, pessoas físicas ou institucionais. Mas desde que você esteja assumindo risco direto, de alguma maneira podemos dizer que você está exercendo esse papel especulativo.

Os grandes especuladores também podem ser, por exemplo, instituições financeiras que atuam provendo liquidez para diversas operações de risco dos seus clientes ou do mercado e, neste caso, precisam desenvolver conhecimento e expertise para controlar o seu risco total e operar de forma científica. O especulador, portanto, não é simplesmente uma pessoa, mas todo aquele que assume um determinado comportamento de tomar risco de mercado, incluindo você mesmo.

O segundo ponto é que a chance de ganhar ou de perder é a mesma, isso desconsiderando os custos de operação e o pagamento de impostos. É certo que o especulador exerce sua atividade em busca de ganhos, mas a primeira barreira que ele precisa superar é acertar mais do que errar, condição para que seu resultado seja positivo. E isso é difícil e complexo, demanda dedicação e estudo. Caso seja um grande especulador, precisa contratar equipe, estrutura, registros legais, compliance, desenvolver processos e boas práticas, e ter margem financeira robusta. É um longo caminho.

O terceiro ponto e mais importante dos três é que sem o especulador o mercado financeiro não existiria. Se você puder acompanhar as negociações na Bolsa, verá que os preços oscilam a todo momento, ao sabor dos números e das notícias. Se não houvesse especulação, as negociações em tempo real não existiriam.

No caso de agentes que precisam de proteção, como um produtor de milho que quer vender sua produção, um exportador que precisa cobrir sua posição em dólar ou uma empresa que quer trocar a indexação de sua dívida de pré para pós fixado, ou de dólar para real, tudo isso só é possível porque existe um especulador na outra ponta, mesmo que em última instância, esse risco seja “descarregado” em Bolsa, onde outros especuladores atuam livremente, e onde acabam por prover liquidez, saúde e fluidez aos mercados.

Não devemos confundir especulação com manipulação, onde agentes podem usar sua força ou (des)informação para alterar o curso do mercado de forma artificial. Nem confundir com insider trading, onde alguém pode operar através de informação privilegiada obtida e utilizada de forma ilegal, prática condenada por lei no Brasil e no exterior. O bom especulador atua dentro dos limites legais, comprando o risco que muitos de nós não podemos ou não queremos comprar. E fornecendo ao mercado as condições básicas para que ele simplesmente exista.

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