Publicado em 16 de outubro de 2025 às 17:13
Após a cirurgia e ainda no período de recuperação da lesão no joelho esquerdo, com rompimento de tendão que ocorreu durante a atração “Dança dos Famosos”, Gracyanne Barbosa apareceu nas redes sociais treinando a perna direita e precisou se justificar. "Para a galera que está preocupada porque ficarei com uma perna mais fina que a outra, agora a estética não é importante (treinando ou não ficarei). O objetivo é manter força muscular e a função neuromotora, acelerar o retorno funcional, preservar o condicionamento físico e minimizar a perda de massa muscular", explicou Gracy. >
Mas essa estratégia realmente faz sentido? “Como ortopedista e especialista em medicina esportiva, posso afirmar que a estratégia de treinar o membro contralateral (o lado não lesionado) durante a imobilização ou recuperação de um membro lesionado é não apenas válida, mas altamente recomendada com base em sólidas evidências científicas. Esse fenômeno é conhecido como ‘Efeito Cruzado’ ou ‘Cross-Education’”, explica o ortopedista Fernando Jorge. >
De acordo com o médico, a ciência, através de inúmeros estudos de neurofisiologia e biomecânica, comprova que o treinamento de força unilateral (de um lado só) gera adaptações neurológicas que se transferem, em parte, para o membro contralateral não treinado. >
“Quando você realiza um exercício intenso com o braço esquerdo, por exemplo, o cérebro e a medula espinhal enviam comandos motores para ativar as fibras musculares. Uma parte desses comandos ‘vaza’ ou é espalhada para a área que controla o braço oposto no córtex motor primário e em outras estruturas do sistema nervoso central. Esse estímulo ajuda a manter a ‘programação’ do movimento e a capacidade de recrutamento de unidades motoras no membro lesionado”, explica o ortopedista.>
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Os benefícios vão além do óbvio (manter o condicionamento do membro), de acordo com o ortopedista. “Com esse tipo de estratégia, conseguimos a preservação de força no membro lesionado. Estudos mostram que essa prática pode reduzir a perda de força no membro imobilizado em até 50%, comparado à imobilização completa sem nenhum treino. Além disso, o sistema nervoso continua recebendo os estímulos específicos do exercício, o que acelera a readaptação e o retorno aos treinos após a liberação médica”, diz o médico. >
Há também benefícios psicológicos: “É fundamental para a saúde mental do atleta ou paciente ativo, pois o treino permite que ele mantenha parte da sua rotina, senso de produtividade e controle sobre a recuperação, combatendo a frustração e a ansiedade. O exercício unilateral ainda eleva a frequência cardíaca e promove liberação de hormônios benéficos, ajudando a preservar o condicionamento cardiovascular e o metabolismo”, completa o médico.>
Apesar do risco de ficar “assimétrico” ser uma preocupação válida, o médico diz que isso é gerenciável. “Durante o período de imobilização/reabilitação inicial, é inevitável que haja uma certa assimetria, pois o membro lesionado estará em processo de reparo tecidual. No entanto, o treino contralateral minimiza essa assimetria, não a causa”, explica. “Há um efeito direto e benéfico no membro lesionado, principalmente de origem neural”, explica. “É importante notar que o efeito é predominantemente neural, e não hipertrófico (aumento significativo de massa muscular). Ou seja, o paciente não vai ‘ganhar músculo’ no braço imobilizado treinando o outro, mas vai evitar que ele perca tanto a força e a ‘conexão’ com o cérebro”, destaca.>
De acordo com Fernando, após a liberação para treinar o membro lesionado, a reeducação muscular e o fortalecimento são extremamente mais rápidos naquele que se beneficiou do efeito cruzado. “A fase de ‘recuperar o tempo perdido’ é significativamente encurtada”, diz. A estratégia requer cuidados, como respeitar a prescrição de carga, evitar movimentos compensatórios, ter foco no músculo-alvo e não suspender a fisioterapia. “A segurança do membro lesionado é a prioridade absoluta. Um profissional de Educação Física é essencial para isso”, destaca. >
A carga e as repetições devem ser adaptadas, mas não necessariamente diminuídas de forma drástica para o membro são. "O ideal é usar uma carga que permita uma execução perfeita e controlada, dentro de uma zona de repetições que promova um estímulo eficaz. Não precisa ‘pegar leve’. Pode manter o membro não lesionado forte e estimulado. A chave é a qualidade do movimento, não a quantidade absoluta de peso. O fisiologista do exercício ou profissional de Educação Física pode prescrever a carga e as repetições ideais para o caso específico”, completa. “Mas é importante pontuar que toda lesão é única. É fundamental que um ortopedista ou médico do esporte avalie o caso e libere essa prática, que deve ser supervisionada por um bom profissional de Educação Física”, finaliza.>
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