Publicado em 2 de março de 2024 às 09:00
O caso confirmado de febre oropouche no Rio de Janeiro soou o alerta de que é preciso redobrar a atenção e a prevenção contra mosquitos. Vetores das chamadas arboviroses, eles podem ser facilmente eliminados com atenção aos criadouros (locais de água parada ou úmidos nos quais suas larvas proliferam) e uso de repelentes e telas.>
No caso da oropouche, a transmissão acontece pelo Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim. Segundo especialistas, não há indícios de transmissão pelo Aedes aegypti, mosquito estritamente urbano que tem provocado surtos intensos de dengue e chikungunya no país este ano.>
A circulação da febre costuma ficar concentrada na região amazônica, mas é preciso estar atento aos sintomas para buscar ajuda médica se necessário - veja abaixo mais sobre a doença.>
A febre de oropouche é uma zoonose causada pelo vírus oropouche, que foi diagnosticado no Brasil na década de 1960. Trata-se de uma doença já conhecida, que tem circulado na região amazônica nos últimos dez anos.>
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É transmitida aos seres humanos principalmente pela picada do mosquito Culicoides paraensis, inseto que tem um ciclo silvestre e um ciclo urbano.>
O vírus que infecta os mosquitos circula entre hospedeiros mamíferos, como macaco, bicho preguiça e seres humanos. "O ciclo se mantém na floresta, basicamente na região amazônica. O que aconteceu agora no Rio de Janeiro já ocorreu em São Paulo, e é bom entender que isso não significa transmissão fora da região amazônica", reforça o médico epidemiologista André Ribas Freitas, professor da faculdade São Leopoldo Mandic, de Campinas.>
Ele lembra que existem diversos arbovírus na Amazônia com o mesmo padrão de transmissão e que o cuidado precisa ser redobrado para quem viajar para esta região. "Tem outro que é muito importante também que é a febre do Mayaro, com o ciclo predominantemente entre é primatas e que pode dar também quadro de febre e mialgia", diz Freitas.>
O epidemiologista acredita que a identificação deste caso no Rio de Janeiro tem o lado positivo de mostrar que a análise laboratorial no Brasil tem sido cada vez mais eficaz. "A gente tem hoje uma disponibilidade muito melhor de exames, que são de biologia molecular de PCR [proteína C reativa, que indica infecções no corpo] e isto favorece e facilita o diagnóstico", avalia.>
O quadro clínico de febre oropouche é muito parecido com o da dengue e o da chikungunya. Incluem febre, dor no corpo, cabeça, artralgia (dor nas articulações), mialgia (dor muscular), calafrios e, às vezes, náuseas e vômitos - que podem durar até uma semana, segundo o médico infectologista Ralcyon Teixeira, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.>
Uma pequena parte dos pacientes pode apresentar complicações neurológicas, como inflamação do cérebro (encefalite) ou da membrana que o envolve, a meninge (meningite). "Não são complicações tão frequentes, mas são as formas mais graves da doença", afirma Freitas.>
Para os pacientes com casos suspeitos, além dos cuidados gerais de repouso e hidratação, é recomendado usar repelente e ficar em ambiente climatizado com ar condicionado para evitar serem picados por outros mosquitos no período de viremia (circulação do vírus no corpo).>
De acordo com Teixeira, esse cuidado evita que novos mosquitos sejam infectados e sigam o ciclo da transmissão, principalmente fora dos locais onde a doença já está instalada.>
Quem vive fora de zonas de floresta (sobretudo da região amazônica) não deve ficar preocupado com a oropouche, segundo os especialistas em saúde. O maior problema visto pelos estudiosos é o de que o vírus se adapte a outros vetores mais urbanos que o maruim, como o Aedes aegypti, responsável pela circulação de zika, dengue e chikungunya -os dois últimos com surtos muito intensos no país neste começo de 2024.>
"O risco é muito baixo neste momento, mas depende muito da adaptação do vírus aos mosquitos transmissores", afirma Teixeira.>
A recomendação é que todos que tenham recentemente retornado de viagem de alguma área com risco de transmissão do vírus oropouche (região amazônica e, neste momento, mais especificamente no estado do Amazonas) e apresente febre e demais sintomas que pareçam dengue, que busquem logo atendimento médico.>
"Alertem da viagem a equipe de saúde ao serem atendidos para que seja avaliada a possibilidade de se tratar da febre de Oropouche", diz Teixeira.>
O infectologista diz que essas informações agilizam o diagnóstico e são essenciais para conter a difusão da febre. "A vigilância epidemiológica segue sendo importante para entender a dinâmica da transmissão da doença", reforça o médico.>
Freitas diz que a situação seria totalmente diferente se o vírus oropouche se adaptasse a um vetor urbano, como é o caso do Aedes aegypti. "Mudaria totalmente de figura e trataria-se de uma grande preocupação. Mas até agora não há evidência nenhuma da transmissão do oropouche pelo Aedes, e é muito importante esclarecer isso", afirma o epidemiologista.>
Para Freitas, os surtos de dengue e de chikungunya hoje são mais perigosos para a população devido ao seu alcance nacional.>
"Reitero a importância da epidemia de chikungunya que está ocorrendo neste ano. Está matando muito mais gente do que a dengue e tem sido pouco divulgada. É um vírus urbano e mais grave com taxa de letalidade quase 10 vezes maior que a da dengue e precisa estar no radar de médicos e pacientes", lembra o epidemiologista.>
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