Publicado em 16 de abril de 2024 às 19:19
Durante essa semana, o caso da brasileira Claudia de Albuquerque Celada, de 23 anos, ganhou repercussão devido ao diagnóstico de botulismo, uma condição neuroparalítica grave e pouco comum, durante a realização de um intercâmbio em Aspen, Colorado, nos Estados Unidos. >
O caso chama a atenção por causa da rápida progressão da doença, que deixou Claudia com o corpo paralisado e com a respiração comprometida. Sua irmã, Luísa Albuquerque, usou as redes sociais para detalhar o caso. De acordo com ela, Claudia começou a se sentir mal no final de fevereiro, após sair do trabalho.>
"Ela tomou banho, jantou e foi tentar dormir, mas começou a sentir falta de ar, visão embaçada e tontura. Ela enviou mensagens para algumas amigas irem ao apartamento dela, mas, infelizmente, por causa do horário, só viram as mensagens na manhã seguinte", relatou Luísa. "Quando elas chegaram, a dificuldade de respirar já era muito maior e já havia um início de paralisação facial. Ela foi levada para o hospital e, pouco depois, já estava com 100% do corpo paralisado", acrescentou.>
Após dois meses desde o diagnóstico, a família de Claudia, que é de São Caetano do Sul (SP), está promovendo uma campanha de arrecadação online para custear o transporte dela dos EUA para o Brasil, a fim de continuar o tratamento. O transporte por UTI aérea tem um custo estimado em cerca de US$ 200 mil, equivalente a mais de R$1 milhão na cotação atual. Até o momento, a campanha, iniciada há seis dias, alcançou 2241 apoiadores e quase R$137 mil reais.>
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Conforme explica o infectologista Julio Henrique Onita, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, o botulismo é uma doença infecciosa provocada pela bactéria Clostridium botulinum. Na realidade, não é a bactéria em si que causa a doença, mas, sim, uma toxina produzida por esse micro-organismo. "É essa toxina que gera todas as manifestações clínicas do botulismo", explica.>
Conforme a Mayo Clinic, nos Estados Unidos, os primeiros sinais mais evidentes do botulismo incluem fraqueza muscular, pálpebras caídas, voz fraca, vertigem, secura na boca e visão turva.>
Contudo, a principal manifestação clínica do botulismo é uma neuropatia aguda flácida, que se caracteriza por uma paralisia súbita. Segundo Onita, isso acontece devido ao bloqueio de certos nervos na placa neuromuscular, responsável pelo controle dos músculos, o que resulta na perda de movimentos. "Também é conhecida como 'flácida' devido à falta de rigidez muscular. Os músculos ficam moles e fracos", explica o médico.>
Em geral, nos casos de contaminação alimentar, essa paralisia é simétrica, afetando ambos os lados do corpo, como ambos os braços e as pernas, enquanto o estado de consciência da pessoa permanece intacto. "É importante observar que, embora possa haver diminuição dos batimentos cardíacos, a pressão arterial tende a permanecer normal. Outro aspecto interessante é a ausência de febre. Raramente, ou quase nunca, a infecção causa febre", acrescenta Onita.>
A suspeita acontece geralmente com base na apresentação clínica, que inclui as paralisias características. Se a pessoa apresenta essas paralisias juntamente com fatores de risco ambientais, como consumo de alimentos específicos ou exposição a feridas contaminadas, a suspeita é reforçada.>
Também existem testes disponíveis para confirmar o diagnóstico, que detectam a presença da toxina produzida pela bactéria. Nesse caso, os testes são feitos por meio de amostras clínicas (sangue, fezes ou lavagem gástrica) e por análise das sobras dos alimentos e das feridas, em caso de suspeita de botulismo alimentar ou por ferimento.>
Apesar de ser possível contar com essas formas de diagnóstico, o fato de ser uma doença rara acaba dificultando o processo de detecção por parte dos médicos. Geralmente, muitos outros exames são realizados antes do botulismo ser considerado, justamente por não ser tão comum. "Além da paralisia, a doença pode evoluir para uma eventual parada respiratória. Tudo isso colabora para que seja caracterizada como uma doença grave", ressalta Onita.>
Segundo Onita, as opções de tratamento incluem medicações específicas, porém pouco utilizadas devido à baixa incidência da doença. Esses medicamentos incluem a antitoxina e a imunoglobulina, que consistem em uma quantidade de anticorpos específicos direcionados contra a toxina produzida pela bactéria C. botulinum. É importante ressaltar que esses medicamentos são administrados apenas quando há suspeita da doença, visando reduzir as complicações, embora não possam reverter os danos já causados.>
Nos casos mais graves, o tratamento do botulismo é principalmente de suporte. Devido à paralisia muscular, há o risco de comprometimento da musculatura respiratória, levando à asfixia ou insuficiência respiratória. Portanto, uma assistência médica de qualidade é muito importante.>
Quanto à reversão da doença, Onita explica que isso depende do grau de gravidade. Nos casos mais leves, há maior potencial, enquanto nos casos mais graves, a assistência inicial é crucial. "Embora a mortalidade seja superior nos casos graves, uma assistência adequada pode colaborar, sim, com a reversão da paralisia, embora isso dependa de reabilitação e leve um tempo significativo", destaca o médico.>
Conforme o Ministério da Saúde, as melhores formas de prevenir o botulismo são:>
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