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“Areia” nos olhos? Veja por que sua visão piorou nos últimos meses

“Areia” nos olhos? Veja por que sua visão piorou nos últimos meses

Para fugir do coronavírus, se isolar em casa passou a ser uma realidade e, com isso, computadores, tablets e celulares tem sido usados para trabalhar, estudar e se entreter

Publicado em 20 de maio de 2021 às 19:41

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 O uso de telas veio se intensificando nos últimos anos, mas com a pandemia da Covid-19 os problemas nos olhos aumentaram.
O uso de telas veio se intensificando nos últimos anos, mas com a pandemia da Covid-19 os problemas nos olhos aumentaram. (Javier Sánchez Mingorance/Freepik)

Para fugir do coronavírus, as pessoas precisaram se isolar em casa e se viram obrigadas, de uma hora para a outra, a manter contato com o mundo lá fora por meio das telas. Computadores, tablets e celulares são usados para trabalhar, estudar, se entreter, falar com amigos e parentes e até mesmo comprar remédios e comidas. Muitos ficaram vidrados nas telas quase que 24 horas por dia. E a consequência disso foi uma piora da visão neste período. Os olhos estão mais cansados, coçando, ardendo e enxergando mal.

O oftalmologista César Ronaldo Filho, do Hospital de Olhos de Vitória, observa que nossa relação com as telas veio se intensificando nos últimos anos, mas o convívio extremamente próximo na pandemia de Covid-19 vem trazendo mais problemas para a saúde ocular.

“Sem dúvida, nas últimas décadas houve uma mudança radical na maneira como usamos nossos olhos, e a pandemia intensificou de forma dramática essa mudança que já vinha ocorrendo. Hoje, hábitos que até o final do século passado eram até então muito pouco frequentes se tornaram corriqueiros e massificados. Por exemplo: há 40 anos, os computadores eram raros nas repartições públicas e escritórios. Nas residências, então, praticamente não existiam, sendo a TV da sala a única tela a ser dividida por toda a família, restrita apenas às nossas horas de lazer na sala de casa”, lembra o médico.

Atualmente, diz ele, com smartphones e tablets massificados, há quem use essa tecnologia por 10, 12 e até 16 horas por dia.

Durante o trabalho ou o estudo, é importante fazer uma pausa e olhar para o horizonte.
Durante o trabalho ou o estudo, é importante fazer uma pausa e olhar para o horizonte. (Freepik)

Ele cita um estudo da consultoria International Data Corporation (IDC) com o Facebook, de 2019, que mostrou que 79% das pessoas que têm smartphones usam o aparelho nos primeiros 15 minutos após acordar, 62% usam imediatamente após acordar e 44% usam mesmo antes de acordar, programando o telefone como relógio despertador. Entre as pessoas até 24 anos esse número sobe para 89%, 74% e 54% respectivamente.

“Essa mudança na maneira como usamos os olhos e a nossa visão, sem dúvida, tem trazido problemas relacionados à superfície do olho, como olho seco; a dificuldade de acomodação, que é a maneira que o olho tem de focalizar as imagens em diferentes distâncias; e a outros fatores mais abrangentes, que vão de alterações psicológicas e até ortopédicas, como as hérnias cervicais, causadas pela maneira como olhamos para o celular”, cita.

De acordo com o oftalmologista Ronaldo César Filho, o olho seco e seus sintomas estão entre as principais queixas dos pacientes que procuram os consultórios durante a pandemia.
De acordo com o oftalmologista César Ronaldo Filho, o olho seco e seus sintomas estão entre as principais queixas dos pacientes que procuram os consultórios durante a pandemia. (Hospital de Olhos de Vitória/Divulgação)

OLHO SECO

O olho seco é um dos vilões da saúde ocular na pandemia. Muito comum neste período em que as pessoas ficam com os olhos diante de telas por muito mais horas do que antes, quase sem piscar.

“O olho seco e seus sintomas estão entre as principais queixas dos pacientes que nos procuram em nossos consultórios. O tratamento deve ser individualizado e consiste basicamente em três pilares: no aumento da lubrificação da superfície ocular; no diagnóstico e tratamentos de possíveis causas externas ao olho, como infecções palpebrais e alterações reumatológicas que podem levar a alterações na lágrima e na superfície do olho; e na mudança de hábitos”, explica o especialista.

A mudança de hábitos, segundo o médico, é a forma mais fácil de se prevenir e tratar a maior parte da população no que se refere ao olho seco. “A maioria dos pacientes não têm nem falta de lágrima nem doenças relacionadas ao olho seco. Por isso, muitas vezes uma simples pausa durante o período de trabalho ou uma diminuição no tempo total de exposição às telas pode trazer o restabelecimento da lubrificação normal da superfície ocular. Mas lembramos que todo paciente com tais sintomas deve ser avaliado e tratado individualmente por um oftalmologista, uma vez que sinais parecidos podem ter causas muito diversas”, observa César Ronaldo Filho.

Mesmo na pandemia, pessoas que têm glaucoma, alterações de retina ou outras doenças oculares não devem deixar de lado o seu tratamento.
Mesmo na pandemia, pessoas que têm glaucoma, alterações de retina ou outras doenças oculares não devem deixar de lado o seu tratamento. (Freepik)

Fazer pausas das telas é uma das principais recomendações dos médicos. “A exposição exagerada às telas, sem o devido tempo de descanso para os olhos, faz com que todo o sistema visual seja submetido ao estresse e pode gerar efeitos adversos. Portanto, se pudesse dar dicas para os pacientes seria: moderação no uso da tecnologia, com pausas programadas durante o período de trabalho; nas horas de lazer buscar atividades ao ar livre que não utilizem a visão de perto e telas; e visitar regularmente o seu médico oftalmologista”, orienta ele.

MIOPIA

A miopia, outro problema agravado desde que o coronavírus confinou as pessoas em casa, não tem volta, embora, de acordo com o oftalmologista do Hospital de Olhos de Vitória, haja tratamentos novos promissores.

“Via de regra sim, a miopia é irreversível. Porém existem alguns casos muito específicos como os espasmos de acomodação que podem levar ao quadro de miopia transitória, que regride assim que o quadro é resolvido. Quanto à miopia tradicional, existem tratamentos propostos com uso de medicamentos, na sua maioria colírios, que vêm apresentando resultados promissores. Esses tratamentos visam a diminuir ou até mesmo barrar a progressão da miopia uma vez que quadro se inicia. Por se tratar de uma terapia que não foi oficialmente aprovada, ainda não temos suas indicações e prognósticos totalmente estabelecidos, e apesar de ser um tratamento bastante seguro, ele tem alguns efeitos colaterais e os seus resultados podem variar bastante entre indivíduos”, ressalta.

No momento, segundo César Ronaldo Filho, o único tratamento para reverter a miopia ainda é a cirurgia refrativa que “apesar de não ser indicado para todos os pacientes, trata-se de um procedimento bastante seguro e eficaz.”

Segundo o oftalmologista Ronaldo César Filho, o único tratamento para reverter a miopia ainda é a cirurgia refrativa, que não é recomendada para todos os pacientes.
Segundo o oftalmologista César Ronaldo Filho, o único tratamento para reverter a miopia ainda é a cirurgia refrativa, que não é recomendada para todos os pacientes. (Freepik)

CATARATA

Por causa da pandemia, muita gente deixou de ir ao médico. César Ronaldo Filho afirma que houve uma diminuição de volume de cirurgias de catarata desde o ano passado.

“A catarata é uma doença progressiva que leva à perda gradativa da visão. Depois que ela se estabelece, o único tratamento é a cirurgia. Percebemos sim que existe uma demanda reprimida para a cirurgia, porém, via de regra, não se trata de uma cirurgia de urgência, podendo-se programar a cirurgia para o período mais cômodo para o paciente.”

Mesmo assim, o problema não pode esperar por muito tempo. “O que devemos evitar é que o paciente demore demasiadamente para realizar a cirurgia, fazendo com que o quadro evolua para as formas mais avançadas de catarata, quando o cristalino do olho endurece podendo levar a outras complicações e fazendo com que o resultado da cirurgia possa ser comprometido. A cirurgia de catarata é a cirurgia eletiva mais realizada do mundo, tratando-se de um procedimento rápido, seguro e eficaz. Ela restabelece a visão e isso traz um ganho de qualidade de vida enorme ao paciente que se submete ao procedimento”, pontua ele.

O exame oftalmológico está indicado a partir dos 6 meses de idade para toda criança, repetindo a cada 6 meses até completar 2 anos de idade, e depois anualmente, se tudo estiver estabilizado.
O exame oftalmológico está indicado a partir dos 6 meses de idade para toda criança, repetindo a cada 6 meses até completar 2 anos de idade, e depois anualmente, se tudo estiver estabilizado. . (Freepik)

O médico lembra que pessoas que têm glaucoma, alterações de retina e outras doenças oculares também não devem deixar de lado o seu tratamento. “O sucesso desse tratamento se deve ao controle adequado da doença, para se evitar um agravamento do quadro”, finaliza o especialista.

VEJA 7 DICAS PARA SUA SAÚDE OCULAR

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  • 01

    Pisque

    A ordem é piscar. As pálpebras funcionam como um limpador de para-brisa, retirando a poeira e a sujeira, lavando os olhos com fluido lacrimal.

  • 02

    Saia das telas

    Em alguns momentos do dia, por mais ocupado que seja, arrume um tempo para se desligar das telas. Faça um exercício físico, separe uns minutos para um hobby. No caso das crianças, ofereça alternativas para elas se entreterem, brincadeiras diferentes. Se for possível, saia com elas para uma atividade ao ar livre, como caminhar no calçadão, brincar na areia da praia, jogar bola no campo, pedalar. Faça combinados, estipule horários e, o mais importante, dê exemplo você também.

  • 03

    Olhe para longe

    Faça pausas nos estudos, no trabalho e afaste o olhar das telas a cada hora. Neste momento, feche os olhos por um ou dois minutos. Depois, vá para a janela e direcione seu olhar para um ponto distante no horizonte.

  • 04

    Mantenha telas mais distante

    Evite ficar com o rosto colado na tela. Prefira computador e tablet ao celular, que possibilita manter uma distância maior dessa tela. A recomendação é que ela fique a um braço dos seus olhos

  • 05

    Ajuste a altura da tela

    As telas devem ficar na altura dos olhos ou ligeiramente abaixo deles. Se estiverem mal posicionadas, podem gerar fadiga ocular, além de dores no ombro e no pescoço.

  • 06

    Aumente a fonte

    Evite letras muito miúdas. Use uma fonte que seja mais confortável, que não exija que você fique apertando os olhos para ler. Ajuste também o brilho da tela.

  • 07

    Vá ao oftalmologista

    Faça consultas anuais com um especialista em olhos. Exames podem detectar doenças ou um problema que esteja impedindo você de enxergar melhor. O exame oftalmológico está indicado a partir dos 6 meses de idade para toda criança, repetindo a cada 6 meses até completar 2 anos de idade, e depois anualmente, se tudo estiver estabilizado. Mesmo com a pandemia, busque um médico rapidamente se houver algum sintoma. As consultas estão sendo realizadas respeitando todas as normas de segurança.

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