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Adultos com chupeta: especialistas apontam os riscos da tendência que viralizou

Adultos com chupeta: especialistas apontam os riscos da tendência que viralizou

A nova moda já ganhou adeptos no Brasil, gerando uma espécie de infantilização dos adultos. O ator Ary Fontoura ironizou a nova "febre" entre os jovens

Julia Galter

Estagiária / [email protected]

Publicado em 14 de agosto de 2025 às 15:06

Adulto usando chupeta
Adultos tem recorrido ao uso de chupetas para aliviar diversos sintomas Crédito: Shutterstock/ AJR_photo

Iniciada na China, uma nova trend tem ganhado espaço nas redes sociais e adeptos ao redor do mundo. Nela, adultos recorrem ao uso de chupetas para aliviar diversos sintomas com uma ideia simples: obter a sensação de conforto com um objeto associado à infância. Mas, até que ponto essa prática é saudável?

De acordo com o South China Morning Post, as chupetas são vendidas sob a premissa de melhorar a qualidade do sono, aliviar o estresse diário e até mesmo, auxiliar no processo de abstinência do fumo. Porém, segundo especialistas, a prática pode representar prejuízos psicológicos e para os dentes.

O ator Ary Fontoura apareceu usando o acessório. No Instagram, o ator ironizou a moda e fez piada com o conceito. "Não é uma loucura, gente? Usar chupeta para tirar o estresse. É a criança virando adulto, é o adulto virando criança. Onde é que vai parar isso? Alexa, dispara um meteoro na Terra!", brincou. Rafael Cardoso, Fernanda Lima e Neymar já apareceram com o acessório em registros que circularam online.

A psicóloga Aline Canavese explica que o ato da sucção provoca a liberação de neurotransmissores como dopamina e serotonina, gerando a sensação de prazer e relaxamento. "Mas quando esse comportamento se mantém na vida adulta, ele pode se tornar problemático, pois os adultos já possuem recursos congnitivos e emocionais mais complexos e, embora haja alívio momentâneo, a prática não aborda a causa real do desconforto e pode impedir o desenvolvimento de formas mais eficazes de autorregulação". 

Utilizar chupeta é uma estratégia primitiva e paliativa, embora pareça uma ação inofensiva

Aline Canavese

Psicóloga e Neuropsicóloga

Segundo o psiquiatra João Paulo Cirqueira essa prática se associa à uma espécie de regressão adaptativa. "Esse pode ser um retorno temporário a comportamentos que trazem conforto. Isso não é necessariamente negativo, desde que o recurso não se torne a única forma de lidar com o estresse", frisou. Para ele, é importante avaliar o contexto.

Mas se engana quem acha que os prejuízos só se limitam à mente. Dentistas alertam para mudanças na mastigação, deglutição e até entortamento dos dentes.

Para a dentista Eliza Amorim, muitas são as alterações que podem surgir a partir dessa prática. "O uso de chupeta pode causar alterações ósseas e dentárias, empurrando os dentes para frente, abrindo espaços e causando mordida aberta ou cruzada, por exemplo". 

Ainda segundo ela, o fenômeno pode causar uma deglutição atípica, que é quando língua altera sua posição na presença da chupeta. "Isso pode interferir na pronúncia das palavras por conta da falta de selamento labial", explicou.

Outros riscos

  • Infecções, já que a chupeta pode acumular bactérias e fungos, provocando pequenas feridas a boca e facilitando o surgimento de aftas, candidíase oral e mau hálito.

  • Alterações na mastigação, já que uma mordida que não se encaixa corretamente pode acelerar o desgaste dos dentes e sobrecarregar o sistema digestivo

O Chewelry como opção

O nome vem da junção das palavras "chew", que significa mastigar, e "jewelry", tradução de joia. Este é basicamente um objeto de silicone ou outro material semelhante, que pode ser encontrando em forma de colar, pulseira ou pingente, com design que permita mastigação repetida e de forma segura. Segundo João, o chewelry é utilizado como recurso de regulação sensorial e emocional, sendo comum em crianças e adultos com necessidades sensoriais específicas.

"Existem semelhanças entre o chewelry e a chupeta na busca por conforto oral, porém, o chewelry é um acessório pensado especialmente para mastigação".

Enquanto alguns internautas defendem a prática como inofensiva, para os especialistas, o recado é direto: modas como essa podem até parecer inofensivas, mas escondem riscos físicos e emocionais que não devem ser ignorados. Em um cenário em que a saúde mental já é um desafio para grande parte da população, recorrer a soluções rápidas e sem comprovação científica pode atrasar que a verdadeira causa do problema seja identificada e tratada.

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