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Um guia para aproveitar Santa Teresa durante o inverno

Um guia para aproveitar Santa Teresa durante o inverno

A cidade encanta os visitantes com boa gastronomia, hospedagem de luxo e produção de vinhos que estão entre os melhores do Brasil

Publicado em 5 de julho de 2019 às 19:50

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Conhecida pelo cultivo do café, o Vale do Tabocas, em Santa Teresa, agora vive o apogeu da sua cultura enológica. Um exemplo é que os vinhos produzidos por Vinicius Corbellini já brilham na taça de sommeliers, donos de restaurante e entusiastas. E figuram entre os melhores no Concurso Wines of Brazil Awards 2019. O Tabocas Cabernet Sauvignon 2014, por exemplo, conquistou o selo azul, com 85,2 pontos. E o Tabocas Cabernet Sauvignon Oaked 2014, 86,8 pontos.

“Foi uma surpresa. Um admirador que inscreveu, sem a gente saber. Sabíamos do potencial dos vinhos produzidos aqui, mas não esperávamos”, diz Vinícius, que explica ainda que o concurso para vinhos nacionais reuniu 156 vinícolas de todas as regiões produtoras do Brasil. Um júri formado por 12 membros, entre sommeliers, enófilos e jornalistas especializados degustaram às cegas as centenas de amostras inscritas.

Vinho produzido no Vale do Tabacas é . (Guilherme Sillva)

As videiras de uvas cabernet sauvignon, também conhecidas como a “Rainha das uvas tintas”, já estão carregadas. “É uma uva de adaptação muito versátil e tem as suas características próprias”. E Vinicius conta que a próxima colheita será feita a partir do mês que vem. Os vinhos da propriedade são chamados “de inverno”, porque a colheita é feita na estação – em outras regiões, a vindima costuma ser no início do ano. “Não pegamos chuva durante a colheita. E a amplitude térmica também contribui, de noite chega a 8 graus e de dia, a 31. Tudo isso contribui para enriquecer em cor e estrutura, gerando vinhos com estabilidade e teor de açúcar, o que garante elegância à bebida”, explica.

Vinicius aprendeu a gostar de vinho com os avós que tinham plantações de videiras. Se apaixonou pela viticultura e transformou a paixão em negócio. Estagiou em empresas de Santa Catarina e, depois, foi estudar na Itália, no renomado Istituto Duca Degli Abruzzi. “Lá, aprendi tudo o que se fazia de mais moderno na viticultura”. De volta ao Brasil, resolveu apostar na região de Santa Teresa. Acertou. Dali saem vinhos com características específicas, com boa estrutura, equilibrado e de persistência alta. Por ano são produzidas apenas 4 mil garrafas. “Agora comecei com uma plantação de malbec. O clima da região também favorece e daqui a dois anos estarei com novos vinhos prontos”, conta, entusiasmado.

CAFÉ ESPECIAL

Se o vinho tem feito sucesso, o café produzido na região também começa a entrar para uma lista seleta. Até poucos anos atrás a região do Vale do Tabocas era conhecida pela produção de café volume. Agora os cafés especiais também começam a atrair os olhares dos apaixonados pela bebida.

Uma das responsáveis pelo feito é a barista Joici Rasseli, que produz um café considerado superespecial. “A safra de 2018, que era apenas de amostra, foi avaliada pelo Edvaldo Costalonga, que garimpa os melhores cafés no Estado, e conquistou 87 pontos, o que o deixou supervalorizado no mercado”, conta.

Café é reconhecido no Vale do Tabocas. (Bernardo Bracony)

Joici cresceu entre os pés de cafezal de folhas verdes, no sítio da família. Ali aprendeu que quando o fruto está vermelho como uma cereja, é hora de colher. “A renda da família sempre veio do café. Nos anos 90, teve uma crise grande, e precisamos encontrar outra fonte de renda. Mas nunca paramos de produzir café. Há quatro anos resolvemos voltar os olhos para a produção novamente”, conta. A capixaba estudou no Coffee Lab - laboratório de torra, degustação e preparo de cafés de qualidade, focado em micro lotes com características singulares, responsabilidade eco-social e rastreabilidade do pé ao pacote - com Isabela Raposeiras, uma das pioneiras no segmento de baristas especializados em café e conceituada mestre de torra.

Joici conta que o café, assim como o vinho, carrega características do terroir. “O café que produzo é mais achocolatado, com notas florais e é bem doce. É diferente dos cafés de outras regiões do Estado”, diz orgulhosa.

CERVEJA ARTESANAL

É na entrada da cidade que fica a Cervejaria Teresense, aberta desde fevereiro. A casa, que fabrica 60 mil litros da bebida mensalmente, produz cinco estilos de chope artesanal: Pilsen, Helles, IPA, Weiss e Stout, além de algumas sazonais como a Fruit Beer de Pêssego e a Nostra Birra, (chope de vinho criado para homenagear os 145 anos da primeira colônia italiana do Brasil, festa que aconteceu no último final de semana de junho). “São cervejas de fácil brincabilidade. Utilizando as melhores matérias-primas, como malte selecionado e ingredientes nobres que proporcionam um sabor incomparável”, explica Odirlei Demattê, gerente da casa.

A cervejaria tem decoração inspirada nos famosos restaurantes americanos chamados de steak house, com balcão de madeira, sofás e varanda. O cardápio é variado, com petiscos e cortes especiais de carne preparados na parrilla argentina. Destaque paras as entradas: polenta cremosa com ragu de rabada (R$ 14,90), pastel de rabada (R$ 19,90). Já entre os pratos feitos na parrilla, vale experimentar o cowboy steak (68,90) e o short ribs (R$ 78,90). As carnes podem ser acompanhadas de molho de cerveja e mostarda ou de cogumelos e cerveja. “Nos inspiramos em pratos alemães, incluindo a cerveja como ingrediente de diversas receitas”, conta Odirlei. O restaurante fica em frente a fábrica e é dividido por um vidro que permite a visualização de toda a produção por parte dos clientes. A cervejaria possui ainda uma loja própria, onde são vendidos produtos personalizados da marca, como taças, bonés, camisas e chaveiro.

CIRCUITO DOS COLIBRIS

Não é apenas o Circuito do Caravaggio que atrai visitantes. O chamado Circuito dos Colibris tem tudo para se tornar um outro destino dos capixabas. É ali, em seu sítio, que a chef Flávia Siqueira abriu o restaurante A Dona da Casa, apostando nas alquimias e temperos típicos de Minas Gerais, cozidos no fogão a lenha. “A proposta é oferecer uma comida mineira da melhor qualidade, como a que sempre fiz para meus amigos. Comida da roça é a melhor que tem”, diz a capixaba que visitou restaurantes de Tiradentes, em Minas Gerais, para buscar inspiração.

Objetos de antiquário, suporte de pratos bordados e bibelôs decoram o espaço do restaurante. “Garimpamos peças em várias partes do país”, conta Flávia. Na vitrola sempre está tocando clássicos da moda de viola, como Renato Andrade, Almir Sater e Renato Teixeira. Da cozinha sai o prato mais famoso, chamado de Mexido com eira e beira - arroz, feijão, couve, ovos cozidos, passas, milho verde, linguiça suína, costelinha, torresmo e ovos fritos. “Ele faz um sucesso”, diz. Ela também destaca o frango caipira ensopado com ora-pro-nóbis - planta símbolo da cozinha mineira, servido com arroz, polenta com queijo e couve refogada. Para os glutões que quiserem descansar, curtindo a brisa de barriga cheia, o local tem uma varanda com redes de descanso. Só não vá embora sem experimentar o famoso bolo de fubá (receita da chef), e a ambrosia e o doce de leite, além da cachaça artesanal.

HOSPEDAGEM

A verdade é que nesse pedaço do Estado só passa perrengue quem estiver mesmo muito afim disso ou não esteja disposto a abrir a carteira. Há quase dois anos, Santa Teresa entrou no roteiro de capixabas que procuram ótimas pousadas para se hospedarem. Na superconfortável Vale dos Pássaros, tudo parece ser pensado para que o hóspede se sinta superespecial. “A proposta é receber casais que buscam sossego, desacelerar e relaxar”, explica a proprietária Carla Fanchioti.

Não é muito difícil relaxar numa mega cama com seis travesseiros. No quarto o hóspede também é mimado com roupão, pantufa, biscoitos caseiros e produtos de beleza da marca L'Occitane au Brésil. E se com tudo isso não desacelerar, é possível abrir alguns dos rótulos de vinhos selecionados para o quarto ou ir ao spa, que oferece sete tipos de serviços, como massagem relaxantes, bambuterapia e banho de imersão

É ainda tem o café da manhã, responsável por boa parte da fama que a pousada conquistou. Criado pela chef Kamila Zamprogno, a mesa principal conta com diversos tipos de queijos (gorgonzola, grana padano, defumado), pães doces e de sal, brownies, bolos de fubá, banana e cenoura (a cobertura de chocolate é decisão sua), cinco tipos geleias (como maracujá com manga ou de uva, por exemplo), chás e sucos de maracujá e amora. Além de frutas da estação. Mas as grandes atrações são as que chegam pela bandeja da garçonete. São os mimos que, em outras palavras, são verdadeiras gostosuras. Frutas frescas, coalhada, mel e cereal; mini bruschettas de queijo, parma e salmão; a fritada de ovos com creme de leite, tomatinho, muçarela de búfala, bacon e grana padano e o cogumelo confitado na manteiga e vinho branco. Tudo acompanhado com um espumante produzido na região. Um banquete.

Rua do Lazer é o point local

Há alguns anos Santa Teresa despontou como o novo polo gourmet da região de montanhas capixabas. E essa conquista se deve muito a Rua do Lazer, que concentra alguns dos melhores restaurantes da região. Agora a fama vai além. O visitante que circula pela rua mais charmosa da cidade também encontra opções para diversão.

Uma delas é o Red Rock Music Pub, instalado num sobrado de 140 anos. “Restauramos tudo, mas decidimos manter o piso original”, conta o empresário Aniceto Frizzera. A proposta da casa, segundo ele, oferecer o ambiente de um típico pub europeu, ao som de rock dos bons, com Beatles, Metálica e Black Sabbath, por exemplo. “Mas também tocamos jazz, blues, reggae e pop”, conta ele.

Se tem rock, tem cerveja. E assim como o som, a cerveja também é de qualidade. Ele aposta nas marcas Antuerpia, de Juiz de Fora, e Schornstein, de Santa Catarina, para agradar o público mesmo na temporada de frio. “São as cervejas artesanais mais premiadas do Brasil”, diz com orgulho. Já os drinques - são oito tipos - levam nomes de bandas ou artistas. Não deixe de experimentar o winehouse, homenagem a Amy Winehouse, que é feita de purê de morango, vodca, suco de laranja e hortelã. Foi em viagens pela Alemanha e pela França que Aniceto trouxe referências para o seu estabelecimento. Na parede, quadros de bandas fazem parte da decoração e grandes barris pretos se transformam em apoio para os corpos.

Se a casa estiver cheia (em dias de show, é comum alcançar a lotação máxima), basta atravessar a rua que você terá outra opção: O Santa Teresa Rock Bar. A casa, aberta em janeiro deste ano, tem a proposta de unir gastronomia com música. “É um estilo descolado, inspirado nas casas irlandesas. A proposta é a boa gastronomia com a música ao vivo, como rock e pop”, conta Wellington Lozer, proprietário da casa ao lado da mulher Virginia Lara Araújo.

Uma Kombi estilo retrô foi transformada em balcão por eles. É dali que saem os choppes artesanais produzidos na região serrana, além de drinques a base de gin e de cerveja. E da cozinha saem pratos como o risoto de camarão VG com tomate seco, escalope de filé mignon com ravióli de banana ao molho gorgonzola e tulipas de frango recheadas com provolone e bacon.

GASTRONOMIA DE PRIMEIRA

Há quase dez anos Fabrício Broseghini faz fama com o restaurante que leva o seu nome na Rua do Lazer. Apaixonado por gastronomia, ele aprendeu a cozinhar aos 14 anos com a nonna. “Sempre fiquei ‘debaixo’ da saia dela e a via cozinhando”, diz. Passou quatro anos na aeronáutica, onde cozinhava no rancho, até que foi se especializar em gastronomia, aos 22 anos, e decidiu abrir o restaurante no casarão que pertencia aos avós. “É uma cozinha contemporânea que se torna caseira. Os clientes valorizam muito o carinho com que faço a comida”, conta.

É do seu fogão de – inacreditáveis! – três bocas que saem pratos como o espaguete ao gorgonzola e nozes, o risoto de funghi com escalopes de filé mignon e o risoto negro com frutos do mar. “As massas são produzidas por mim”, diz. Mas o sucesso da casa são as bolinhas de queijo servidas na cestinha de parmesão.

A paixão do chef por pratos fica nítida assim que se chega ao restaurante. Uma parede é decorada com vários deles. “O primeiro que coloquei era o que comia quando criança. Depois fui comprando e ganhando até de clientes. Tem prato centenário e outros com valor sentimental. Sou um colecionador”, diz ele, que recentemente comprou 10 pratos, que estão à espera de serem expostos para o grande público.

CAFEZINHO + DOCES

Em dias de frio o movimento é grande no Café Zanoni, instalado em uma construção do século 19, logo na esquina da entrada da Rua do Lazer.

A vitrine exibe diversos sabores de bolos (chocolate, nozes, banana), quiches, queijadinhas, empadas, além de uma dezena de docinhos como brigadeiro, cajuzinho e palha italiana. “Meu marido que faz todos os bolos. Ele pega a receita tradicional e dá o toque que faz um diferencial”, conta Olga Zanoni.

Olga Zanoni é dona da cafeteria. (Bernardo Bracony)

A decoração também chama a atenção. Ela exibe uma invejosa coleção de bules e xícaras - algumas peças foram de sua avó - além de peças achadas em antiquários. Uma parede exibe fotos de sua família. Ali é para você sentar, comer sem pressa e conversar. E, se for visitar, não deixe de experimentar o quindim mais conhecido da região – firme, mas macio, com o coco concentrado na base, crocante, mas também cremoso. E sem gosto de ovo. “Uso ovo caipira e coco natural”. Esse é o segredo de Olga, que durante o inverno faz cerca 600 quindins por final de semana.

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