A pérola é a rainha das gemas. Fruto delicado de um processo puramente biológico - e que ocorre apenas com uma a cada 10 mil ostras - ela carrega esse rótulo justamente por ser a joia favorita das rainhas. Mas engana-se quem pensa que essas raridades encontradas no fundo do mar só ficam bem em looks clássicos. Nos últimos tempos elas ganharam ares supermodernos em peças descoladas criadas por vários designers, que propõem novas maneiras de se usar.
Apaixonada por pérolas desde criança, a designer Ivana Izoton conta que elas sempre chamaram a sua atenção por serem um símbolo de elegância, delicadeza e feminilidade. “Enquanto consumidora, não me agradava muito o design das joias de pérolas que encontrava, por serem muitas vezes tradicionais demais. Quando comecei a criar minhas, fiz questão de fazer desenhos mais modernos, justamente para contrapor essa referência tão clássica e tradicional que as pérolas têm no nosso imaginário”, conta. Tanto que suas primeiras peças foram um par de brincos e um colar com a gema. “Sempre gostei muito de pérolas, pela sua história e possibilidade de formas, tamanhos e cores. Hoje crio colares, anéis, pulseiras e, principalmente, brincos com elas, como os brincos Iva, feitos em ouro 18k e em diversas combinações”.
Ivana usa pérolas de todos os tipos, em formatos, cores e origens variadas, sendo tanto de água salgada como de água doce. As barrocas, de água doce por exemplo, são imperfeitas e nenhuma delas é igual a outra. “Essa diferença me atrai muito, principalmente para criar uma peça com movimento. Isso as torna ainda mais interessantes”. Já a rosa, de água doce, é redonda, lembrando uma pérola perfeita. E tem a akoya, um tipo cultivada no Japão e na China. “Com isso, dou charme às peças usando formas e linhas retas, texturas muito marcantes e evidenciando, no desenho, a pérola como elemento principal da joia. Me importam os detalhes e a simplicidade do traço. Gosto de poucas informações para valorizar de forma intensa os elementos que escolho na minhas criações”, conta Ivana que acaba de lançar uma linha de brincos em ouro nobre 18k, pérolas e gemas coloridas. São brincos pequenos e médios, com acabamento texturado bem rústico, contrapondo com a delicadeza das pedras preciosas e pérolas.
Diversidade
A designer de joias Carla Buaiz também acaba de lançar uma coleção inspirada nas pérolas, chamada de Singular. A capixaba optou pelas barrocas, que são únicas. “Cada uma recebeu da natureza uma forma exclusiva, e isso já permite um universo incrível de possibilidades. Como cada pérola é única, todas precisam de um tratamento especial, não aceitam um processo de linha de produção, exigem atenção individualizada. As que escolhi têm formas geométricas únicas. Não são esféricas e possuem formas e movimentos variados”.
Carla explica que as pérolas, assim como a grande maioria das gemas orgânicas, são extremamente sensíveis. “Ela deve ser tratada com toda a atenção. Além disso, em razão de suas características especiais, o projeto deve respeitar uma série de quesitos técnicos de ourivesaria e designer”, ressalta, acrescentando que, em função disso, hoje a pérola não é vista somente no tradicional colar de três voltas, carregando a aparência clássica. É possível inserí-la em anéis, brincos, passando pelos chokers e pulseiras. “Adoro diversificar o uso da pérola em minhas coleções e dar possibilidades de uso para ela. E as mulheres poderem escolher qual peça preferem. Também faço combinações com inúmeros materiais, de ouro a diamantes, ônix e outras pedras preciosas a madeira, por exemplo. Algo inusitado, mas em alta na joalheria”.
Carla costuma usar muito nesse mix as esmeraldas, granadas, diamantes e turmalinas Paraíba. “As pérolas permitem isso, e ao mesmo tempo exigem um tratamento especial. É uma relação complexa e maravilhosa”, explica a designer.
O joalheiro Ricardo Vieira sempre usou pérolas em suas criações. E, para ele, essa modernidade no uso dessa gema, considerada mais clássica, se deve à evolução da joalheria no Brasil. “As pérolas sempre foram usadas em joias, mas houve um tempo em que ficaram ‘sumidas’ porque a joalheria tradicional parou de usá-las. Mas vale ressaltar que os grandes designers sempre usaram pérolas”.
Ele conta que o processo de criação com as pérolas é igual ao realizado com as outras gemas. “Como sou apaixonado por elas, sempre faço experiências diversas e vou adequando as várias gemas. Eu diria que a criação de uma joia mais exuberante com pérolas sempre virá harmonizada com outras gemas e materiais”. Por isso, o joalheiro também costuma utilizar nas suas criações materiais inusitados, como palha de tribos indígenas, lâminas de tartaruga Carey, conchas fossilizadas (Amonita), e até conchas naturais com tratamento de pasta perolizada.
“A mistura de várias cores, qualidades (barroca, mabe e south sea) e formas pode resultar em efeitos belíssimos no desenho final”, destaca Ricardo. Em suas peças também é comum ver a mistura da gema orgânica com as minerais, como a água marinha, turmalina e safira. “São as chamadas gemas com cor, o que dá um contraste”.
Aliás, engana-se quem pensa que a pérola só existe na cor branca. Ricardo explica que elas, tanto as naturais como as cultivadas, são formadas quando o molusco produz camadas de nácar, devido a algum tipo de irritação que é causada dentro da concha. “Cerca de 99% são cultivadas. A pedra natural é encontrada no fundo do mar pelo mergulhador. E cada tipo de ostra tem um tipo de pigmentação. O continente asiático é o grande produtor”.
Brilho acetinado
Para a designer Paola Trindade, o grande diferencial em trabalhar com pérolas está na raridade do seu brilho acetinado e na variedade de tons e formas que se apresentam na natureza ou na produção cultivada. “A pérola demanda cuidados especiais para manter-se viva e hidratada, conservando sua beleza com o passar das décadas de uso. O processo criativo com ela é sempre uma grande descoberta nas combinações entre as possibilidades de cor branca, creme, dourada, champanhe, negra, azul, verde e rosa”.
As gemas que ela utiliza costumam vir da China, Japão, Taiti, Austrália e Filipinas. A designer costuma fazer misturas com diamantes champanhe, brancos e negros para as joias mais clássicas. “Para algo mais moderno, prefiro esmeraldas, rubelitas e safiras, que são as pedras de cor que melhor combinam com as pérolas. Já em peças mais despojadas, combino-as com kunzitas, ametistas, quartzo rosa e todas as cores de turmalinas e topázios”, conta Paola.
Um clássico que não sai de moda
As pérolas são eternas e não saem de moda. O duque Dmitri Pavlovich, descendente do império dos Romanov, mudou por acaso o rumo da história das pérolas no início da década de 1920. Para impressionar a amante, 11 anos mais velha, presenteou-a com uma joia de família - um colar de pérolas de seis voltas. O nome da eleita: Coco Chanel. A partir daí, as gemas ganharam a status de acessório fashion. Outra que deu fama às gemas foi Jacqueline Kennedy Onassis, uma das grandes personalidades do século XX, que fez das pérolas sua marca registrada. Ícone de elegância, ela usava quase sempre o famoso um colar de três voltas (ou de uma) e um par de brincos solitários de pérolas.
E não dá para esquecer um dos figurinos mais cultuados da história do cinema. Hubert de Givenchy, em 1961, vestiu Holly Golightly, personagem de Audrey Hepburn em “Bonequinha de Luxo”, com um longo preto e poderosas voltas de pérolas no pescoço. A consultora de estilo e colunista da Revista.ag, Fernanda Trindade, conta que essas gemas são atemporais e que combinam com qualquer tipo de look, da praia à festa. “Elas podem ser usadas em diversos momentos, dos looks mais informais, como jeans e camiseta, até vestidos de festa. Minha dica é deixar o look o mais moderno, mesmo se a peça for clássica”.
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