Ele é casado, mas mantém um perfil naquele aplicativo famoso de namoro. Ela diz que ama o namorado, mas vive trocando mensagens com o ex pelo WhatsApp. As redes sociais podem ser muito tentadoras e transformar, em um simples clique, companheiros fiéis em traidores.
Eles podem (ainda) não ter consumado o ato da traição, carnalmente falando. Mas estão perto disso. Enquanto não chegam lá, vão cometendo o que especialistas estão chamando de microtraições.
O assunto coloca uma pulga atrás da orelha de qualquer pessoa em um relacionamento sério com alguém. Afinal, como fica a fidelidade no mundo virtual?
Para o psicólogo e psicoterapeuta Thalles Contão, é mais fácil trair nas redes sociais. Escolher trair a mulher concretamente implica uma série de riscos dos que o homem, por exemplo, não quer comungar. Então, o meio virtual abre caminho para realização de desejos dos quais ele não quer se responsabilizar na vida real.
A sexóloga e terapeuta sexual Sirleide Stinguel concorda. A traição sempre existiu, claro. Mas a Internet mexe muito com a fantasia das pessoas. Elas se relacionam com outras que não conhecem, com quem não convivem, e começam a fantasiar. Isso mexe com o desejo, comenta.
Para a maioria dos casais, quando uma terceira pessoa entra em cena, não há dúvida de que houve traição. Mas no meio virtual, essas provas não são tão claras. Vejo muitas relações abaladas por causa desse comportamento nas redes sociais. E os parceiros não sabem lidar com isso, que é algo novo, observa Sirleide.
Virgínia Pelles, sexóloga, também acha que as pessoas não estão sabendo como agir nas redes sociais. Já recebi no consultório, por exemplo, mulheres se queixando de que o marido posta elogios em fotos das colegas de trabalho no Facebook, mas que nunca fez o mesmo com as fotos da própria esposa.
Para os especialistas, esse caso de enquadra na tal microtraição. Um termo que a psicóloga Adriana Müller não concorda muito em usar. Não existe isso de traição micro ou traição macro. Traição é traição. Não tem tamanho.
O problema aí, diz Adriana, está em definir o que seria essa pequena traição. Antes, os sinais de que estava havendo traição eram coisas mais concretas, como a mancha de batom na roupa, bilhetinhos, uma foto, o recibo de restaurante ou motel... Hoje em dia, isso ficou mais abstrato por causa das redes sociais, onde todo mundo conversa com todo mundo. Aí, a pessoa diz só estou conversando ou só curti uma foto, como se isso minimizasse o ato, como se não tivesse problema.
Em algumas situações, continua ela, é só isso mesmo, alguém curtindo fotos, interagindo socialmente. Só que isso pode abrir espaço para comportamentos de sedução, para uma interação mais próxima que gera o ambiente para a traição acontecer.
Quando a pessoa cruza a linha, emocional ou física, é quando surge o drama. A traição é isso, um comportamento que fere um conceito moral de fidelidade, de confiança, de construção de uma vida a dois,de manutenção de um relacionamento estável, um compromisso que inclui e requer reciprocidade, diz Adriana.
Vale refletir sobre a intenção de cada ato no ambiente virtual. O que está motivando a curtir postagem, enviar mensagem, se aproximar de determinada pessoa na internet? A pessoa tem que ser honesta consigo mesma. Para ela, cabe a cada casal definir as regras. O que para um não é traição, para o outro pode ser. Pode mandar nude? Pode curtir fotos? Tem que encontrar um ponto de equilíbrio.
O casal de empresários Edilane Neves, 34 anos, e Fernando Gasparini, 49 anos, acredita que a fidelidade é para ser levada a sério, inclusive no meio virtual. Tem gente que não sabe usar as redes sociais, posta foto seminua, por exemplo. Nós dois temos redes sociais, mas somos bem discretos. Um respeita o outro, diz Edilane.
Análise
Não é uma brincadeira inocente
Thalles Contão
psicólogo e psicoterapeuta
A virtualidade recém-criada na história da humanidade por meio da revolução digital e todos os seus desdobramentos (principalmente a internet), proporciona ao indivíduo um cenário perfeito à fantasia e, claro, na liberdade desta, um convite a não se responsabilizar pelo que se quer. Então nasce todo tipo de manifestação parcial, entre as mais comuns: a traição virtual ou micro-traição. Esta nova modalidade de uma antiga prática - o adultério - vem atenuada sob a desculpa de que não há realidade no ato, porque não há conjunção carnal. Mas um clique, curtida ou uma zapeada em perfis ou mesmo aplicativos próprios para relacionamento podem ser mais que mera curiosidade. De fato, os corpos não se tocam, mas há muita realidade nesta modalidade: o desejo. Há toda forma possível de interpretar as consequências de tal prática num relacionamento, mas o que devia ser levado em consideração é que se o indivíduo faz isso sob a máscara da virtualidade para gozar sem a responsabilidade de assumir seu desejo de trair não está participando de uma brincadeira inocente, mas sim alimentando sua incapacidade de lidar com a realidade e suas neuroses. Cabe então aos envolvidos lidar com sua liberdade primordial e escolher o que aceitam e não aceitam neste tipo de fenômeno.
Saiba mais
Pequenos sinais de perigo
Segredos
O(a) parceiro(a) costuma levar o celular para o banheiro, não deixa o aparelho sozinho perto do outro, pode indicar que ele(a) esteja escondendo algo, como uma troca de mensagens com outra pessoa em segredo
Muitas curtidas
Curtir fotos de pessoas do sexo oposto não é nenhum problema. Mas com qual frequência isso acontece? Qual o nível dos elogios? Isso gera um incômodo no cônjuge? Curtir demais ou postar comentários de elogios em fotos mais ousadas pode soar como cantada ou tentativa de seduzir alguém
Ex continua presente
Trocar mensagens com o(a) ex-namorado(a) também é estranho, a menos que o(a) companheiro(a) atual tenha conhecimento disso, saiba do que se trata e não veja problemas nisso. Afinal, se o relacionamento acabou, para quê manter contato on-line?
App de paquera
Mesmo estando em um relacionamento sério com alguém, a pessoa se mantém ativa no aplicativo de namoro, que costuma acessar de vez em quando... Sinal de alerta ligado!
Como lidar
Chamando para a conversa
Sabe a história do combinado não sai caro? Serve para o comportamento no mundo virtual também. Se um está curtindo sempre as fotos da mesma pessoa no Facebook ou no Instagram e isso gera ciúmes no outro, por exemplo vale uma conversa sincera para não abalar a relação. Deixar bem definido um limite do que é aceitável ou não para a relação e deixar claras as regras do que pode e o que não pode naquele meio não machuca ninguém
Reais intenções
Está construindo uma amizade colorida com alguém via Facebook? Quer enviar nudes para um(a) amigo(a) virtual? Não está conseguindo resistir a investidas de algum contato na rede social? Hora de ser honesto consigo mesmo e analisar suas intenções com esse comportamento. Jogue limpo com você e com seu(a) parceiro(a)
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta