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Coronavírus: termômetro infravermelho não é prejudicial ao cérebro

Coronavírus: termômetro infravermelho não é prejudicial ao cérebro

Alguns estabelecimentos passaram a medir a temperatura das pessoas no punho, e não na testa, em função de boatos dizendo que os termômetros poderiam danificar a glândula pineal.  Neurologistas dizem que informação não procede

Publicado em 16 de setembro de 2020 às 17:39

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Termômetro infravermelho
Não há evidência científica que sustente o fato do termômetro infravermelho causar dano cerebral. (Freepik)

Nas últimas semanas circula nas redes sociais e em aplicativos de mensagens e vídeos, informações alertando para os perigos do uso dos termômetros infravermelhos. De acordo com o texto, os aparelhos emitem radiação infravermelha, que quando apontadas em direção ao centro da testa, causariam danos à glândula pineal. Essa glândula é a responsável por produzir a melatonina, hormônio que regula o ciclo circadiano, mais conhecido como “relógio biológico” – quando é necessário dormir e acordar. A solução seria medir a temperatura no punho, porque, além de proteger a tal glândula, a medição seria mais precisa, já que a testa é mais fria que o punho.

Apesar do apelo, o texto não tem nenhum embasamento científico. A neurologista Arielle Kirmse Baggieri, do Hospital MedSênior, ressalta que o uso de termômetros infravermelhos na testa não afeta a glândula pineal, que está localizada no centro do nosso cérebro, em uma região mais profunda. “Além do infravermelho emitido pelo termômetro não emitir radiação, anatomicamente, a luz incidida na testa não atinge a localização da glândula pineal”, explica. A médica complementa dizendo que não há evidências científicas de que esse tipo de aparelho cause qualquer problema intracraniano. “Não há evidência científica que sustente o fato do termômetro infravermelho causar dano cerebral”. 

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Além do infravermelho emitido pelo termômetro não emitir radiação, anatomicamente, a luz incidida na testa não atinge a localização da glândula pineal

Arielle Kirmse Baggieri
Neurologista
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O neurologista Fábio Fieni, do São Bernardo Apart Hospital, também reforça que essas notícias são falsas. “Não há absolutamente nenhuma evidência científica de que o termômetro infravermelho produza qualquer dano ao cérebro ou estruturas intracranianas. O equipamento é inofensivo”, reforça.

Organização Mundial da Saúde (OMS) também nunca publicou nenhuma ressalva quanto ao uso do termômetro relacionado a qualquer problema no cérebro. O órgão só salienta que, por não identificar todos os estágios da doença, a medição pode ser "ineficaz" se usada isoladamente.

MEDIÇÃO NA TESTA OU NO PUNHO?

Outra dúvida gerada seria em relação ao local ideal que a temperatura deve ser medida. É na testa ou no punho? Arielle Kirmse Baggieri explica que o termômetro pode ser usado em qualquer superfície, tanto na testa quanto no pulso. Porém, para uma medida mais precisa, a recomendação é a de que a medição seja realizada na testa. “Por dois motivos, o primeiro que as extremidades, na maioria das vezes, são mais frias. E também porque esses termômetros são calibrados antes de comercializados, e geralmente se usa a testa como a área de calibração”.

Os médicos ressaltam que medir a temperatura na testa é realmente eficaz. Um estudo americano realizado em 2012 em uma população de crianças evidenciou que a sensibilidade e a especificidade do termômetro infravermelho são de 97%, com valor preditivo de 99%, o que é especialmente importante para excluir febre. "No entanto, mais estudos são necessários para comparar sua eficácia com dispositivos mais complexos", diz a neurologista.

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É importante compreender que esse é um método de triagem, não de diagnóstico. Serve como forma de alerta para possível infecção, mas não causa nenhum prejuízo

Fábio Fieni
Neurologista
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Fábio Fieni conta que na prática médica é utilizado as medidas axilar ou oral. "Mas como a ideia é avaliar um grande número de pessoas em curto período de tempo, a medida por infravermelho se torna mais prática e viável. No entanto, como o índice de erro na medida é maior, provavelmente é apenas parcialmente eficaz". Ele alerta ainda que é importante compreender que esse é um método de triagem, não de diagnóstico. "Serve como forma de alerta para possível infecção. Nesse sentido pode ajudar e, de fato, não causa nenhum prejuízo". 

PODE CAUSAR CÂNCER?

A notícia de que o termômetro infravermelho poderia causar câncer, também circulou entre as pessoas. A informação não procede. A oncologista Taynan Nunes Ribeiro, do Cecon/Oncoclínicas, ressalta a informação de que eles não causam a doença. "A radiação infravermelha é uma forma de radiação não ionizante, ou seja, sua energia é insuficiente para ionizar átomos e moléculas, não havendo nenhuma comprovação científica de que tenha capacidade de gerar dano ao DNA da célula, mecanismo associado ao aparecimento do câncer no caso das radiações ionizantes. O tempo de exposição ao infravermelho é muito curto durante o uso do termômetro, não sendo possível nenhum efeito biológico". 

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Não há  nenhuma comprovação científica de que tenha capacidade de gerar dano ao DNA da célula, mecanismo associado ao aparecimento do câncer no caso das radiações ionizantes

Taynan Nunes Ribeiro
Oncologista
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A médica explica que para aferir a temperatura corretamente o termômetro deve ser direcionado para o centro da testa e não para o pulso, já que no pulso a temperatura é mais baixa. "A distância para medir a temperatura também depende do aparelho, sendo em média de 5 cm, variando geralmente de 3 a 8 cm. Afastar demais o termômetro, além de aferir a temperatura abaixo do valor real, aumentará o campo de exposição à radiação, podendo atingir os olhos". 

Taynan Nunes ainda ressalta como o uso do termômetro é benéfico no combate à pandemia. "A população só tem a ganhar, já que é uma maneira rápida e segura de aferir temperatura sem contato entre as pessoas, sendo um instrumento útil durante a pandemia de covid-19, para detectar aqueles que estejam no início dos sintomas, pois nem todo mundo percebe quando está com a temperatura do corpo subfebril ou com febre baixa". 

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