> >
'Falar de acessibilidade é falar de vida'

"Falar de acessibilidade é falar de vida"

Há 27 anos vivendo sob uma cadeira de rodas, Mariana Reis fala sobre sua coluna, que será publicada todas as terças-feiras na edição digital da Revista.ag. Nesta entrevista, ela conta sobre seus desafios diários e suas superações, como aprender a andar de jetski

Publicado em 5 de outubro de 2019 às 09:28

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Mariana Reis é a nova colunista da Revista.ag digital. Ela vai escrever sobre acessibilidade. (Arquivo pessoal)

Mariana está experimentando, pela primeira vez, uma liberdade diferente em um lugar onde não precisa da cadeira de rodas. E vai para onde quer, mar adentro. Ela está prestes a tirar a carteira para pilotar um jetski. Um desafio e tanto! Mas ela dá conta disso e muito mais!

Aos 47 anos, sendo 27 deles sobre uma cadeira de rodas, Mariana Reis não para. Atualmente, ela se divide entre as palestras, seu trabalho como personal trainner e agora como colunista da Revista.ag, onde vai falar sobre os mais variados temas relacionados à acessibilidade.

"Ali, vou falar sobre direitos, saúde, amenidades, de tudo! Falar de acessibilidade é falar sbre vida", dispara.

Aspas de citação

Acima de tudo, quero abrir os caminhos para outros cadeirantes fazerem isso. Adoraria estar na academia treinando com outro cadeirante. Sinto falta de estar com meus pares!

Mariana Reis
personal trainner e palestrante 
Aspas de citação

Nesta entrevista, você vai conhecer um pouco mais da nossa nova colunista, da trajetória dela: uma mulher forte, determinada, inquieta e provocativa.

Este vídeo pode te interessar

  • Aspas de citação

    Porque ainda precisamos de uma mudança cultural. Não fomos preparados para poder enxergar as diferenças, não temos a política da acessibilidade no nosso cotidiano.

    Aspas de citação
  • Aspas de citação

    Sim! Temos que ampliar esse foco de visão. Não estamos falando de minorias. São 46 milhões de pessoas no Brasil com deficiência, que requerem algum tipo de acessibilidade. Mas se a acessibilidade for vista somente para pessoas com deficiência, essa cultura vai demorar a mudar. A acessibilidade tem que ser boa para todo mundo. Não é só para Mariana, mas para Paula, Maria, Joana. É boa para todos. Todo mundo se beneficia. Essa é a maior das minhas lutas.

    Aspas de citação
  • Aspas de citação

    A maior dificuldade é atitudinal. Claro que há ambientes que não são acessíveis. Mas muitas vezes existe a vaga de estacionamento para cadeirante, só que alguém sempre insiste em parar nela. São pessoas que ainda acreditam que não tem cadeirante dirigindo. Então, a questão não é só ter elevador, rampa, banheiros adaptados. Pensar numa cidade acessível é pensar em termos atitudinais, arquitetônicos, metodológicos, comunicacionais e programáticas. Tem que ter calçada adequada, mas as pessoas não podem parar o carro na frente da rampa.

    Aspas de citação
  • Aspas de citação

    Foi em 12 de janeiro de 1992. Estava indo para o Rio de Janeiro para aulas de balé de carro com familiares. Na época eu era bailarina e seguia para fazer alguns cursos de verão que fazia todos os anos. O carro em que eu estava capotou. E fui a única a se machucar de forma mais grave.

    Aspas de citação
  • Aspas de citação

    Sou uma pessoa muito disciplinada. Em função do balé, de todo meu histórico no esporte. Após o acidente, fui fazer tratamento no Hospital Sarah Kubitscheck, em Brasília. Foi uma espécie de colégio interno (risos). Nessa nova releitura da minha vida, foi crucial para mim. Tenho muita gratidão por ter passado por esse momento tão rígido de disciplina. Ali, não importa se a pessoa vai andar amanhã ou não. Importa o hoje. Então, lá você aprende desde arrumar sua cama, vestir sua própria roupa, todas as ações diárias. Pode ser fácil criar certa dependência não precisando. Ninguém é tão independente que não necessite do outro. A minha independência é graças à ajuda do outro.

    Aspas de citação
  • Aspas de citação

    Eu tinha uma vontade. Fui procurar para dar uma volta, e o dono da náutica me propôs tirar a carteira. Passou um tempo, uns meses, fiquei trabalhando aquilo e chegou o momento certo, que foi agora. A Marinha estabeleceu algumas regeras: por exemplo, que para eu tirar a licença, alguém teria que ir atrás de mim quando eu fosse pilotar o jet. Porque se eu fosse lançada na água, não conseguiria subir sozinha na embarcação. Eu entendo isso. Tamanha liberdade é ótimo, mas é arriscado. É preciso ter responsabilidade realmente.

    Aspas de citação
  • Aspas de citação

    É, eu não queria ter alguém na garupa, não queria ter essa observação na minha carteira. E aí tive várias. Meu instrutor foi comigo, e fiquei fazendo esse exercício: indo e voltando. Eu parava o jetski, pulava na água, e usava toda minha força bruta para subir sozinha de novo. Até que descobri uma maneira mais simples de subir. Passei no teste prático. Agora, só falta uma prova teórica.

    Aspas de citação
  • Aspas de citação

    É uma sensação maravilhosa. Isso só foi possível porque faço muito exercício. Faço fisioterapia até hoje. E já são 27 anos como cadeirante! Nada me convence de que o remédio principal é o movimento. Então, o exercício é minha dose diária.

    Aspas de citação
  • Aspas de citação

    Não faço nada que não vire um projeto. Acima de tudo, quero abrir os caminhos para outros cadeirantes fazerem isso. Sinto falta de ter outros cadeirantes fazendo isso! Adoraria estar na academia treinando com outro cadeirante. Sinto falta de estar com meus pares! Se não tiver esse sentido... Tem que ser uma superação coletiva! Nesse caso do jetski, não tive nenhum privilégio, nenhuma regalia, o desafio foi colocado.

    Aspas de citação
  • Aspas de citação

    Temas diversos. Já atuei cinco anos como colunista. E agora recebi o convite da Gazeta, o que me faz realmente me dispor a viver aquilo que escrevo. Vou falar sobre direitos, saúde, amenidades, de tudo! Falar de acessibilidade é falar sobre vida! Embora eu tenha uma impressão técnica, a maior dos meus textos tem minha impressão, vivo aquilo que escrevo. Se vou a algum show, vou falar sobre acessibilidade. Minha coluna não será jamais denuncista. Mas será bastante provocativa, porque é assim que a Mariana é.

    Aspas de citação

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais