Publicado em 9 de março de 2025 às 14:44
Em casa, ela é uma avó amorosa que adora brincar com os netos, mas no trabalho Mabel precisa assistir ao conteúdo "abominável", nas palavras dela, de abuso sexual infantil disponível na internet.>
Ela trabalha para uma das poucas organizações autorizadas a pesquisar ativamente conteúdo indecente online, no intuito de ajudar a polícia e empresas de tecnologia a remover as imagens.>
A Internet Watch Foundation (IWF) ajudou a tirar do ar um número recorde de quase 300 mil páginas da web no ano passado, incluindo imagens geradas por inteligência artificial (IA), cujo número quase quintuplicou em um ano.>
"O conteúdo é horrível, não deveria nem ter sido criado, para começar", diz Mabel, que é ex-policial.>
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"Você nunca se torna imune a isso, porque no fim das contas todas essas crianças são vítimas, é abominável.">
Mabel — nome fictício para proteger sua identidade — está exposta a algumas das imagens mais pervertidas e horríveis disponíveis online. Ela afirma que sua família é sua principal motivação para desempenhar esta função.>
Mabel, que é natural do País de Gales, se autodenomina uma "disruptora" — porque impede que gangues criminosas compartilhem vídeos e imagens de abuso para ganhar dinheiro.>
Os analistas da IWF trabalham em anonimato para que se sintam seguros e protegidos daqueles que se opõem ao seu trabalho, como as gangues criminosas.>
"Não há muitos empregos em que você vai trabalhar de manhã, e faz o bem o dia todo, além de irritar pessoas realmente mal-intencionadas, então eu tenho o melhor dos dois mundos", afirma Mabel.>
"Quando removo uma imagem, estou impedindo fisicamente que pessoas mal-intencionadas acessem essas imagens.">
"Tenho filhos e netos, e só quero tornar a internet um lugar mais seguro para eles", ela acrescenta.>
"Em uma escala mais ampla, colaboramos com as agências de aplicação da lei ao redor do mundo para que possam iniciar uma investigação, e talvez deter as gangues.">
O IWF, com sede em Cambridge, no Reino Unido, é uma das três únicas organizações do mundo com autorização para pesquisar ativamente conteúdo de abuso infantil online e, no ano passado, ajudou a tirar do ar 291.270 páginas da web, que podem conter milhares de imagens e vídeos.>
A fundação também informou que ajudou a remover quase cinco vezes mais imagens de abuso sexual infantil geradas por inteligência artificial no ano passado do que no ano anterior — foram 245 em 2024, contra 51 em 2023.>
No mês passado, o governo do Reino Unido anunciou quatro novas leis para combater as imagens geradas por inteligência artificial.>
O conteúdo não é fácil de ver. Tamsin McNally e sua equipe de 30 pessoas sabem bem disso. Mas também sabem que seu trabalho ajuda a proteger as crianças.>
"Fazemos a diferença, e é por isso que eu faço isso", diz a líder da equipe.>
"Na segunda-feira de manhã, entrei no canal de denúncias, e havia mais de 2 mil denúncias de membros do público afirmando que haviam se deparado com esse tipo de imagem. Recebemos centenas de denúncias todos os dias.">
"Espero realmente que todos vejam que isso é um problema, e que todos façam sua parte para impedir que isso aconteça.">
"Gostaria que meu trabalho não existisse, mas, infelizmente, enquanto houver espaços online, haverá a necessidade de trabalhos como o meu", ela avalia.>
"Quando conto às pessoas o que eu faço, muitas vezes elas não conseguem acreditar que esse tipo de trabalho existe. Depois, elas perguntam: por que você quer fazer isso?">
Muitos moderadores de empresas de tecnologia entraram com processos na Justiça contra as companhias, alegando que o trabalho havia destruído sua saúde mental — mas a fundação afirmou que seu dever de cuidado era "padrão ouro".>
Os analistas da instituição fazem terapia mensal obrigatória, reuniões de equipe semanais e contam com apoio regular ao bem-estar.>
"Há essas coisas formais, mas também informais — temos uma mesa de sinuca, jogos, quebra-cabeças, sou uma grande fã de quebra-cabeças —, onde podemos fazer uma pausa, se necessário", acrescenta Mabel.>
"Todas essas coisas combinadas ajudam a nos manter aqui.">
A IWF tem diretrizes rígidas que garantem que telefones pessoais não sejam permitidos no escritório ou que qualquer trabalho, inclusive e-mail, não seja levado para fora.>
Apesar de ter se candidatado para trabalhar lá, Manon — nome fictício para proteger sua identidade — não tinha certeza se era um trabalho que ela conseguiria fazer.>
"Eu não gosto nem de assistir a filmes de terror, então não tinha certeza se seria capaz de fazer o trabalho", conta Manon, que tem vinte e poucos anos.>
"Mas o apoio que você recebe é tão intenso e abrangente que é reconfortante", ela acrescenta.>
"De qualquer forma, você está tornando a internet um lugar melhor, e acho que não há muitos empregos em que você possa fazer isso todos os dias.">
Ela estudou linguística na universidade, o que incluiu trabalhos sobre linguagem online e aliciamento, e isso despertou seu interesse pelo trabalho da fundação.>
"Os criminosos podem ser descritos como tendo sua própria comunidade — e, como parte disso, eles têm sua própria linguagem ou código que usam para se esconder à vista de todos", explica Manon.>
"Poder aplicar o que aprendi na universidade em um cenário do mundo real, e conseguir encontrar imagens de abuso sexual de crianças, e impedir essa comunidade, é realmente satisfatório.">
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