Publicado em 1 de maio de 2025 às 06:38
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, declarou que seu país merece respeito dos Estados Unidos e só iniciará discussões sobre comércio e segurança com o presidente americano Donald Trump "nos nossos termos".>
Carney conversou com exclusividade com a BBC enquanto fechavam as urnas, nas eleições canadenses de segunda-feira (28/4). Ele afirmou que só visitará Washington quando for mantida "uma discussão séria", que respeite a soberania do Canadá.>
Trump e Carney já conversaram depois da entrevista. Eles concordaram em se reunir no futuro próximo, segundo o escritório do primeiro-ministro canadense.>
"Os líderes concordaram com a importância de um trabalho conjunto entre o Canadá e os Estados Unidos, como nações soberanas e independentes, para seu progresso mútuo", diz a declaração. Trump também teria felicitado Carney pela sua vitória eleitoral.>
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Desde a reeleição de Donald Trump para a Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos vem declarando repetidamente que deseja fazer do Canadá o "51º Estado" americano. E, na terça-feira (29/4), a Casa Branca reiterou esta intenção.>
"A eleição não afeta o plano do presidente Trump de fazer do Canadá o acalentado 51º Estado", afirmou a vice-porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly.>
Carney trouxe uma votação histórica para o seu Partido Liberal nas eleições antecipadas de segunda-feira no Canadá. Para ele, este cenário "nunca, nunca irá acontecer".>
"Sinceramente, não acho que isso irá acontecer algum dia em relação a qualquer outro [país]... seja no Panamá, na Groenlândia ou em qualquer outro lugar", destacou ele.>
Mas o primeiro-ministro afirmou que uma "possibilidade com ganhos certos" para o seu país seria firmar um acordo com os Estados Unidos e ampliar as relações comerciais com o Reino Unido e a União Europeia.>
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Os Estados Unidos são um grande mercado para as empresas canadenses. Cerca de 75% das exportações do Canadá atravessam a fronteira sul do país.>
Por outro lado, o Canadá representa um percentual muito menor das exportações americanas: 17%.>
O país também é o maior fornecedor estrangeiro de petróleo bruto para os Estados Unidos. O déficit comercial americano frente ao Canadá – estimado em US$ 45 bilhões (cerca de R$ 253 bilhões) – refere-se principalmente às importações de energia canadense pelos americanos.>
As relações entre os dois países ficaram tensas nos últimos meses, desde que começaram as declarações de Donald Trump sobre o "51º Estado".>
O presidente americano também se referiu ao primeiro-ministro anterior, Justin Trudeau, como "governador", que é o cargo ocupado pelos chefes de governo dos Estados americanos.>
Paralelamente, Trump também deu início a uma guerra comercial global — e o Canadá foi um dos primeiros países atingidos pelas suas tarifas de importação.>
O presidente americano impôs uma tarifa de 25% sobre vários produtos canadenses, mais 25% de impostos sobre a importação de aço e alumínio de todas as origens. Mas ele isentou produtos incluídos no acordo comercial existente entre os Estados Unidos, o Canadá e o México, conhecido pelas iniciais dos três países em inglês: USMCA.>
O Canadá retaliou com a imposição de tarifas de importação sobre produtos americanos, que representam um total de cerca de 60 bilhões de dólares canadenses (US$ 42 bilhões, ou cerca de R$ 236 bilhões).>
Carney declarou que as negociações com Trump se dariam "em nossos termos, não nos termos deles".>
Para o primeiro-ministro, "existe uma parceria a ser mantida, uma parceria econômica e de segurança. Será algo muito diferente do que tínhamos no passado.">
Carney destaca sua experiência adquirida enfrentando crises econômicas globais como forma de lidar com Trump sobre as tarifas.>
Antes de se tornar primeiro-ministro, no início de março, ele nunca havia ocupado cargos políticos.>
Carney é banqueiro por profissão. Ele chefiou o Banco do Canadá durante a crise financeira global de 2008 e foi o primeiro presidente não britânico do Banco da Inglaterra, entre 2013 e 2020.>
O primeiro-ministro afirma que o Canadá era "o maior cliente de mais de 40 Estados" americanos.>
"Lembre-se de que fornecemos [aos Estados Unidos] energia vital", declarou ele à BBC. "Lembre-se de que fornecemos aos seus agricultores praticamente todo o seu fertilizante.">
"Merecemos respeito. Esperamos respeito e tenho certeza de que iremos conseguir novamente no devido tempo. E, então, poderemos ter essas discussões.">
O Canadá e os Estados Unidos, ao lado do México, possuem economias profundamente integradas. Bilhões de dólares em produtos manufaturados cruzam as fronteiras diariamente. Um exemplo são as peças de automóveis.>
A imposição de tarifas de importação (impostos cobrados dos importadores sobre as mercadorias quando elas entram em um país) ameaça décadas de colaboração entre os três países.>
Trump defende que as tarifas irão incentivar os americanos a comprar produtos de fabricação doméstica, o que consequentemente incentivaria as indústrias dos Estados Unidos e a criação de novos empregos.>
O principal oponente dos Estados Unidos no conflito comercial global é a China. Mas a imposição das chamadas "tarifas recíprocas" generalizadas de Trump sobre o Reino Unido e outros países europeus levou seus aliados a buscar novos acordos, em resposta às novas barreiras comerciais com a maior economia do mundo.>
Carney apoiou a ministra da Economia britânica Rachel Reeves durante a última eleição geral do Reino Unido.>
O primeiro-ministro afirma "imaginar" que os dois países poderiam assinar um acordo de livre comércio que foi interrompido, para promover a diversificação do comércio. Mas ele destaca que cerca de 95% das mercadorias negociadas entre o Canadá e o Reino Unido já estão livres de tarifas de importação.>
"Poderíamos ampliar o nível de integração entre os nossos países, que mantêm ideias similares", destacou ele. "Podemos pensar em parcerias no setor de defesa e essas conversas apenas começaram, de forma que há muito que podemos fazer.">
Em uma declaração felicitando Carney pela vitória eleitoral, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, declarou: "Sei que continuaremos a trabalhar estreitamente em assuntos de defesa, segurança, comércio e investimentos.">
Para Carney, a cúpula do G7 a ser realizada no Canadá em junho será "muito importante" para decidir os caminhos futuros da guerra comercial global.>
Ele ressalta que a cúpula "colocaria em teste" se o grupo das sete economias mais avançadas do mundo (que inclui os Estados Unidos) continua a ser o conjunto dos "países com pensamentos mais similares dentre as nações com pensamentos similares".>
A cúpula irá ocorrer pouco antes do final do prazo de 90 dias de suspensão de algumas das tarifas de importação mais altas impostas por Donald Trump.>
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