Publicado em 14 de maio de 2025 às 23:38
Por unanimidade, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) a 10 anos de prisão em regime fechado, à perda do mandato e ao pagamento de indenização, por invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e por falsidade ideológica.>
O ministro Luiz Fux foi o último a votar, nesta quarta-feira (14/5), e completou o placar de 5 a 0 pela condenação. >
O relator do caso, Alexandre de Moraes, havia se manifestado na última quinta-feira (9), sendo acompanhado pelos ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia.>
Zambelli foi acusada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de planejar e comandar a invasão ao sistema do CNJ com o auxílio do hacker Walter Delgatti, no início de 2023. Delgatti recebeu pena de 8 anos e 3 meses.>
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A intenção, segundo a denúncia, era inserir alvarás de soltura falsos e até um mandado de prisão forjado contra o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.>
Em seu voto, Moraes afirmou que Zambelli atuou de forma premeditada, organizada e consciente, para desacreditar instituições do Estado democrático de Direito. >
"Como deputada federal, portanto representante do povo brasileiro e jurada a defender a Constituição, utilizou-se de seu mandato e prerrogativas para, deliberadamente, atentar contra a credibilidade do Poder Judiciário", escreveu Moraes, ao justificar a aplicação de uma pena mais severa.>
A pena imposta à deputada foi agravada, segundo Moraes, pelo comportamento social considerado "desajustado ao meio em que vive a acusada" e pelo "desrespeito às instituições e à democracia".>
O julgamento ocorre no plenário virtual do STF e termina oficialmente às 11h59 desta quinta-feira (15/5). Até lá, ainda que improvável, ministros podem mudar seus votos.>
Mesmo com a condenação já formada, a decisão ainda não é definitiva, já que cabem recursos.>
Após o fim do julgamento, o STF vai publicar o acórdão — o documento oficial que registra a decisão tomada pelos ministros. Só então começa a contar o prazo para apresentação de novos recursos.>
O principal recurso possível nessa fase são os chamados embargos de declaração, que servem apenas para pedir esclarecimentos sobre pontos da decisão que possam estar confusos, contraditórios ou incompletos.>
"Os embargos de declaração são um recurso apenas para esclarecimento. Não têm efeito suspensivo nem devolutivo, salvo exceções", explica o advogado Clóvis Alberto Bertolini, doutor em Direito do Estado pela UFPR e especialista em Direito Público.>
Esses embargos não mudam o resultado do julgamento, mas podem afetar detalhes, como a data de início da pena ou o cálculo final da condenação. >
No caso da deputada Carla Zambelli (PL-SP), Bertolini afirma que esse tipo de recurso pode ser apresentado, mas não há possibilidade de embargos de divergência, pois a decisão da Primeira Turma foi unânime. >
"Diferentemente do que ocorreu com o Fernando Collor, cuja decisão não foi unânime, a condenação da deputada foi unânime na Primeira Turma", explica.>
Zambelli só poderá ser presa e perder oficialmente o mandato depois do trânsito em julgado — ou seja, quando não houver mais chance de recorrer da decisão. Até lá, ela continua solta e com seu mandato de deputada federal, a menos que os deputados decidam antecipar a cassação por conta própria.>
A Constituição Federal determina, no artigo 55, que parlamentares condenados criminalmente em decisão definitiva devem perder o mandato. >
O texto também diz que essa perda deve ser votada pela Câmara dos Deputados, por maioria absoluta, depois de um pedido da Mesa Diretora ou de algum partido político. >
Mas há um impasse entre os poderes. "É uma discussão: a Câmara entende que deveria votar essa perda do mandato. Mas o STF já consolidou há muitos anos que essa perda é automática", afirma Bertolini. >
Segundo ele, o Supremo usa como base o artigo 15 da Constituição, que prevê a suspensão dos direitos políticos após uma condenação criminal definitiva.>
"O Supremo tem esse entendimento há tempos e já aplicou isso em outros casos, inclusive em um julgamento relatado pelo ministro Barroso", diz. >
Para o advogado, o provável é que o STF determine que Zambelli perca o mandato automaticamente, como fez em outras decisões semelhantes. "É muito provável que ela perca o mandato após o julgamento dos embargos de declaração", conclui.>
Da mesma forma, a inelegibilidade de oito anos, determinada pela condenação, só valerá quando não houver mais possibilidade de recurso. >
A defesa de Zambelli classificou a decisão do STF como injusta. Em nota, o advogado Daniel Bialski afirmou que a Corte "desprezou argumentos que levariam à nulidade do processo" e que a deputada foi condenada sem provas "irrefutáveis e induvidosas".>
No X, a parlamentar afirmou ser alvo de perseguição política e disse que a condenação se baseia em acusações sem provas.>
"Não há qualquer prova que sustente essa condenação. O que existe é uma tentativa clara de silenciar uma deputada eleita pelo povo, que não se curva diante de abusos de poder", declarou na semana passada, quando o STF obteve maioria para condenação.>
Já Delgatti segue preso desde 2023 por outros crimes cibernéticos, incluindo a invasão de contas de autoridades no Telegram. >
Ele é conhecido por seu envolvimento na "Vaza Jato", quando invadiu contas de autoridades no Telegram, entre elas de integrantes da força-tarefa da Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro, e repassou as mensagens ao site The Intercept Brasil.>
No caso atual, ele também deverá pagar, com Zambelli, uma multa de R$ 2 milhões por danos morais e coletivos.>
É a segunda vez, em menos de dois meses, que o STF forma maioria para condenar Carla Zambelli. >
Em março, os ministros já haviam decidido pela pena de 5 anos e 3 meses de prisão em regime semiaberto, por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal, após o episódio em que a deputada perseguiu um homem armada pelas ruas de São Paulo, na véspera do segundo turno das eleições de 2022.>
Na ocasião, o julgamento foi interrompido por um pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques.>
Paralelamente, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) decidiu, em janeiro, cassá-la por desinformação eleitoral no contexto da eleição de 2022, mas a medida também aguarda o fim dos recursos.>
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