Publicado em 19 de junho de 2025 às 04:39
O Irã passou décadas apoiado pelo seu chamado "eixo da resistência", para neutralizar a influência dos Estados Unidos e de Israel no Oriente Médio e se transformar em uma potência regional.>
A aliança inclui grupos como o Hamas, na Faixa de Gaza; o Hezbollah, no Líbano; os houthis, no Iêmen; e outros no Iraque e na Síria — a maioria deles, considerados entidades terroristas por alguns países do Ocidente.>
O eixo da resistência iraniano se tornou uma dor de cabeça para a inteligência e para os governantes israelenses.>
Fora do Oriente Médio, Teerã também se dedicou a firmar alianças com países cujos governantes compartilhavam sua ideologia antiamericana, como o ex-presidente sírio Bashar al-Assad, o presidente russo Vladimir Putin e o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela.>
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Mas a cooperação com estes países sempre foi limitada.>
Atualmente, muitos aliados do Irã estão debilitados, enquanto outros caíram ou estão à beira do colapso.>
Bashar al-Assad foi obrigado a fugir do país depois de ser derrubado. O Hezbollah — por muito tempo, um dos inimigos mais temidos de Israel — foi reduzido após uma série de ataques israelenses contra suas instalações e seu alto comando.>
E o Hamas continua envolvido em uma intensa guerra na Faixa de Gaza, que pode causar a sua erradicação.>
Na semana passada, Israel deu início à maior onda de bombardeios aéreos dos últimos anos contra o Irã, com o objetivo declarado de prejudicar o programa nuclear da República Islâmica.>
Os ataques provocaram represálias por parte de Teerã e, desde então, os dois países vêm intensificando suas investidas.>
A possibilidade de uma guerra em grande escala entre o Irã e Israel preocupa a comunidade internacional. Muitos estimam que este conflito poderá ser devastador.>
Israel afirma já ter assumido o controle aéreo de Teerã e muitos moradores da capital iraniana começam a evacuar a cidade em massa.>
A BBC analisa as opções disponíveis para o Irã e seus aliados restantes no Oriente Médio e no resto do mundo.>
Enquanto os grupos apoiados pelo Irã no Oriente Médio se debilitam (como o Hamas e o Hezbollah), o Irã e a Rússia aprofundaram seus laços militares e econômicos nos últimos anos.>
Os EUA, o Reino Unido e outros países do Ocidente acusaram o Irã de fornecer drones e mísseis para a Rússia, em apoio à sua invasão da Ucrânia. Mas Teerã defende que o fornecimento de drones ocorreu antes do início da guerra.>
Em abril, a Rússia ratificou um acordo de associação estratégica com o Irã, incluindo disposições para que os dois países neutralizem ameaças comuns.>
Mas o tratado não cria nenhum tipo de aliança militar entre os dois países. E analistas indicam que este ponto revela os limites da associação entre Moscou e Teerã.>
"A assinatura do tratado não significa o estabelecimento de uma aliança militar com o Irã, nem assistência militar mútua", detalhou na época o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Andrei Rudenko, em discurso na Duma, a câmara baixa do legislativo russo.>
Especialistas calculam que o mais provável, no caso de um conflito mais amplo, é que a Rússia procure mediação através de organismos internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).>
Embora Moscou mantenha boas relações com o Irã, que considera um "aliado" em certas ocasiões, o Kremlin também deseja cuidar dos seus laços com outros países importantes do Oriente Médio, como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e mesmo Israel, com quem Putin mantém relações cordiais.>
Apesar da sua aliança com os Estados Unidos, Israel permanece à margem do conflito na Ucrânia até o momento.>
Em resposta ao ataque israelense, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, declarou que seu país está "muito preocupado com os ataques de Israel contra o Irã e profundamente preocupado com possíveis consequências graves destas ações".>
Lin destacou que Pequim se opõe a "qualquer violação da soberania, segurança e integridade territorial do Irã", bem como a "ações que intensifiquem as tensões e ampliem o conflito".>
A China continua sendo o maior importador de petróleo do Irã, hoje sob sanções dos Estados Unidos.>
As sanções limitam o volume de comércio entre os dois países. Por isso, o Irã recebe menos investimentos chineses do que os países do Golfo Pérsico.>
Mas esta situação não impediu que Teerã continuasse se esforçando para estreitar seus laços com Pequim.>
Em 2023, o Irã passou a fazer parte da Organização de Cooperação de Xangai, para aprofundar os laços econômicos com Pequim. Mas a China é uma potência com interesses globais e evita que conflitos externos prejudiquem seus interesses.>
"A China tem muito cuidado ao equilibrar suas relações sem se aproximar muito do Irã, para não prejudicar seus vínculos com os rivais de Teerã", declarou em outubro à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) o professor Thomas Juneau, da Escola de Pós-Graduação de Relações Públicas e Internacionais da Universidade de Ottawa, no Canadá.>
"A China não quis desempenhar papel importante na política e segurança do Oriente Médio porque deseja se concentrar no lado comercial e não quer ser afetada por estas disputas", destacou ele.>
O professor emérito de Ciências Políticas Mansour Farhang, da Faculdade Bennington, de Vermont, nos Estados Unidos, é da mesma opinião.>
Para ele, "a China mantém ótimas relações comerciais com todos os países da região. Sua política externa no Oriente Médio é similar à de um empresário ou comerciante.">
Pyongyang e Teerã mantêm um histórico de intercâmbio de armas por petróleo que data da Guerra Irã-Iraque (1980-1988), quando a Coreia do Norte enviava armas e mísseis e o Irã enviava petróleo e fertilizantes.>
De fato, os especialistas acreditam que o míssil iraniano de médio alcance Shahab-3 seja uma versão desenvolvida por Teerã a partir do míssil norte-coreano No Dong 1, adquirido na década de 1990.>
A conexão entre os dois países se mantém até hoje, mas é limitada devido às fortes sanções a que estão submetidos os dois países.>
Os analistas indicam que a necessidade política e sua condição de "Estados párias" fizeram com que o Irã e a Coreia do Norte estabelecessem o maior nível de cooperação possível.>
Irã e Venezuela mantêm relações formais desde 1960, como fundadores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Mas foi apenas durante os governos de Hugo Chávez (1999-2013) e Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013) que os vínculos entre os dois países cresceram exponencialmente.>
Nos anos 2000, Caracas e Teerã estabeleceram uma aliança estratégica e assinaram mais de 180 acordos bilaterais em inúmeras áreas, no valor total de mais de US$ 17 bilhões (cerca de R$ 93,4 bilhões).>
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Muitos desses acordos ficaram no papel, enquanto outros foram cumpridos parcialmente e, depois, abandonados.>
Depois da morte de Chávez, a relação entre os dois países se debilitou, voltando a ganhar força quando os Estados Unidos impuseram sanções petrolíferas à Venezuela, em 2018.>
O Irã ajudou a Venezuela, fornecendo os componentes químicos necessários para produzir gasolina, em troca de ouro venezuelano.>
Caracas e Teerã também trocaram petróleo pesado venezuelano por petróleo iraniano, mais leve, para ajudar a produção de combustível na Venezuela.>
Depois do ataque de Israel ao Irã, na sexta-feira (13/6), o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ratificou seu apoio e solidariedade ao Irã.>
"Ratificamos de maneira firme nossa absoluta solidariedade com o povo da República Islâmica do Irã, com o povo palestino, com o povo sírio, com o povo do Líbano, com o povo do Iêmen e com todos os povos muçulmanos e os povos árabes", afirmou Maduro, durante um evento transmitido pela televisão.>
Além da retórica, os especialistas acreditam que o apoio da Venezuela ao Irã seja simbólico e de pouca utilidade para a nação islâmica.>
Na América Latina, o Irã mantinha antigas relações com Cuba, estabelecidas com base no Movimento de Países Não Alinhados.>
Mas os vínculos se estreitaram nos últimos anos, principalmente devido ao estabelecimento de uma estreita cooperação com a Venezuela e seus associados da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba). Eles incluem, além de Cuba, também a Nicarágua e a Bolívia.>
Estes países compartilham com Teerã sua forte rejeição aos Estados Unidos. Eles costumam se apoiar mutuamente no campo diplomático, coordenando suas posições no seio de diferentes organizações internacionais.>
Segundo Juneau, da mesma forma que acontece com a Venezuela, o apoio destes países ao Irã também é simbólico.>
"Os líderes iranianos e destes países adoram se reunir e dar entrevistas coletivas criticando os Estados Unidos", explica ele.>
"Eles dizem que são associados em oposição ao colonialismo, ao imperialismo etc., mas, na prática, do ponto de vista militar e de segurança, será que eles podem ajudar o Irã na sua luta atual contra Israel e os Estados Unidos? Acredito que a resposta, em grande parte, é não.">
Thomas Juneau explica que, na verdade, o Irã tem poucos aliados com quem pode contar.>
"Se deixarmos de lado seus associados não estatais, como o Hamas e a milícia libanesa Hezbollah, [o Irã] coopera com um pequeno número de Estados e, em todos os casos, essa cooperação é limitada", declarou ele à BBC News Mundo no final do ano passado.>
Enquanto o Hezbollah sofria uma onda de intensos ataques israelenses contra sua infraestrutura de guerra, o professor Mansour Farhang afirmava que o Irã é um dos países "mais isolados do mundo".>
"O Irã não tem nenhum Estado associado ou partidário que se identifique com sua posição ideológica ou com sua política expansionista na região", afirmou ele.>
Este isolamento do Irã não é novo, embora tenha se exacerbado com as políticas adotadas desde o triunfo da Revolução Islâmica, em 1979. Ele constitui um fenômeno denominado pelos especialistas em relações internacionais como "solidão estratégica".>
Em um artigo acadêmico publicado em 2014, Juneau explicava esta "solidão estratégica". Para ele, "o Irã está sozinho no mundo".>
"Sua grave solidão estratégica é principalmente o resultado de fatores estruturais inerentes à sua posição no sistema regional e internacional e, em grande parte, independe das ações de quem governa o país.">
"Sua postura internacional não impossibilita a cooperação com outros Estados, nem predetermina uma condição de conflito permanente com seus vizinhos. Mas a solidão estratégica explica por que o Irã tem interesses comuns muito limitados com seus vizinhos e é difícil e oneroso atingir a cooperação", prossegue o professor.>
Diversos fatores contribuem para o isolamento do Irã, incluindo o fato de que se trata do único Estado etnicamente persa do mundo.>
Além disso, embora se estime que existam meia centena de países com população majoritariamente muçulmana, apenas em alguns deles a maior parte dos habitantes é xiita, que é o ramo do Islamismo que inclui o Irã.>
O país também é prejudicado pela sua posição geográfica. Seus vizinhos são Estados fortes com grandes ambições, o que causou guerras e rivalidades significativas no passado.>
Os recentes combates entre Israel e os aliados do Irã (Hamas e Hezbollah) se originaram quando o grupo palestino atacou o território israelense em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1,2 mil pessoas e tomando outras 251 como reféns.>
O conflito deixou a República Islâmica do Irã mais isolada e desprotegida do que nunca.>
Com colaboração do jornalista Ángel Bermúdez, da BBC News Mundo.>
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