Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 09:44
Donald Trump ama um espetáculo e adora surpreender as pessoas.>
Agora que ele está de volta à Casa Branca, o mundo está esperando para ver se a versão Trump 2.0 será mais disciplinada e eficaz do que a primeira —- e caótica — encarnação.>
Mas a maior diferença entre agora e o começo de seu primeiro mandato oito anos atrás é simplesmente o quão confiante ele se sente. >
Ao falar com pessoas próximas a Trump, a confiança é inegável. Ele tem o Partido Republicano em sintonia, a comunidade empresarial doando dinheiro para sua posse e uma oposição cansada e, em grande parte, quieta.>
>
A eleição foi, na verdade, acirrada, mas você não vai perceber isso observando o mundo "Maga" (o acrônimo para o lema de Trump, "Make America Great Again" — ou "Faça a América Grande de Novo"). >
Os apoiadores se sentem vingados e querem agir rapidamente para realizar mudanças, enfrentar os inimigos do presidente recém-eleito e transformar os Estados Unidos. >
Eles acreditam que o país apoia o desprezo de Trump pela chamada agenda "woke", pela mídia tradicional e pelas elites globais.>
E sua agenda reflete isso. Desde a deportação em massa de migrantes e os perdões para os manifestantes que invadiram o Capitólio, até tarifas comerciais punitivas para os vizinhos dos EUA e o fim da cidadania por nascimento, há muitas mudanças fundamentais desde o dia 1.>
O efeito pode ser vertiginoso — e esse é exatamente o objetivo.>
A equipe que Trump leva para a Casa Branca reflete essa audácia. Já não é mais o presidente que parecia reverenciar as hierarquias e as credenciais do establishment — elite social, econômica e política do país.>
Basta olhar suas escolhas para o secretário de Defesa.>
Em 2016, Donald Trump escolheu Jim Mattis para liderar o Pentágono, quase idolatrando o general veterano "que todos amam".>
Ele elogiou Mattis como "um homem de caráter e integridade". (Dois anos depois, Mattis renunciou em meio a divergências públicas muito claras, e Trump passou a chamá-lo de "o general mais superestimado do mundo".)>
Avance para 2024, e Trump escolheu um secretário de Defesa bem diferente: Pete Hegseth, um apresentador de TV com histórico militar, mas sem experiência significativa em gestão. Ele sobreviveu às audiências de confirmação no Senado apesar de múltiplas acusações de abuso sexual e embriaguez.>
Desta vez, Trump não está tentando impressionar ninguém, e o Partido Republicano parece incapaz ou desinteressado em impor limites às suas decisões. >
Trump manteve Hegseth no cargo mesmo em meio a escândalos, o que pareceu ser um teste para os legisladores republicanos. Eles ousariam desafiar Trump? Não ousaram.>
Por enquanto, há unidade entre os republicanos — mas, abaixo da superfície, há menos harmonia e, com isso, a perspectiva de mais caos.>
O gabinete de Trump é formado por pessoas com visões surpreendentemente diferentes, que podem não trabalhar bem juntas.>
Sua escolha para liderar a área de saúde, Robert F. Kennedy Jr., é um ex-democrata pró-escolha da mulher, enquanto muitos legisladores republicanos querem restringir o acesso ao aborto.>
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, representa os valores econômicos tradicionais dos republicanos e vem de Wall Street, com um período de trabalho para o financista liberal George Soros.>
Mas o vice-presidente de Trump, J.D. Vance, é um populista que afirma: "Estamos cansados de agradar Wall Street.">
Há Elon Musk, com sua agenda de desregulamentação, trabalhando ao lado de um indicado para secretário do Trabalho que é pró-sindicatos e favorável a regulamentações de segurança para trabalhadores.>
A escolha de Trump para secretário de Estado, Marco Rubio, segue a linha republicana tradicional e agressiva. Ele já chamou o presidente russo Vladimir Putin de "bandido" e "gângster". >
Enquanto isso, a escolhida para diretora de inteligência nacional, Tulsi Gabbard, tem sido simpática a adversários dos EUA, incluindo a Rússia e o agora deposto líder da Síria, Bashar al-Assad. Um aliado de Trump a descreveu como uma pacifista, "o Jimmy Carter" do grupo.>
Aliados do presidente argumentam que essa mistura incomum de opiniões é o que torna Trump diferente e empolgante.>
Um ex-assessor de Trump me disse que a uniformidade de ideias nas administrações democratas anteriores era como "um bando de papagaios". O objetivo do segundo mandato de Trump, segundo esse assessor, é sacudir um sistema de governo estagnado.>
A historiadora Doris Kearns Goodwin creditou a Abraham Lincoln a criação de um gabinete composto por uma equipe cheia de seus rivais. >
No caso de Trump, esta administração que está por vir parece mais uma corte do que uma República. >
Os cortesãos têm suas visões divergentes e discordâncias entre si, mas precisam se aproximar o máximo possível do homem no centro de tudo para que suas agendas prevaleçam.>
Eles conhecem a reputação de Trump de concordar com a última pessoa com quem conversa, e, na Casa Branca do primeiro mandato, os assessores competiam para ser essa pessoa influente. >
Quando isso falhava, frequentemente vazavam informações para a imprensa na tentativa de fazer suas opiniões serem ouvidas.>
Com tantas opiniões conflitantes, pode haver ainda mais vazamentos desta vez, apesar dos melhores esforços da nova chefe de gabinete, Susie Wiles.>
E, assim, a grande questão para esta administração é se esse grupo surpreendentemente eclético será capaz de debater internamente e produzir os melhores resultados possíveis. Ou se o gabinete será como uma briga de escola, com alunos ansiosos se enfrentando e obstruindo uns aos outros, na tentativa de se tornarem o "favorito do professor", sem princípios claros para orientá-los.>
A falta de coesão já evidente deixa alguns analistas alarmados, especialmente em questões de segurança nacional. >
"Não há consenso na nova administração quando se trata de como a China é vista", diz Richard Haass, que trabalhou na administração Bush e agora é presidente emérito do Conselho de Relações Exteriores.>
"Podemos antecipar lutas contínuas sobre a política americana, mais do que uma pequena inconsistência.">
Por enquanto, os desejos de Trump reinam supremos. Mas o presidente sabe que, em apenas dois anos, os Estados Unidos realizarão as eleições legislativas de meio de mandato, e a conversa rapidamente mudará para o futuro. O trem republicano partirá da estação, e o presidente Trump será deixado na plataforma.>
Ainda assim, ele terá influência, e uma enorme quantidade de dinheiro que lhe dará algum poder sobre a sucessão, mas a conversa seguirá em frente, e os cortesãos estarão disputando para se tornarem os próximos governantes.>
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta