Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 18:45
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, já indicou ser contrário à proibição do TikTok no país, prevista para começar a valer a partir de domingo (19/1), e sinalizou que deve buscar uma maneira de revertê-la.>
Caso isso não se materialize, entretanto, seria apenas "uma questão de tempo" até que restrições semelhantes se espalhassem entre países aliados dos EUA, afirmam analistas ouvidos pela BBC.>
Em abril do ano passado, o Congresso americano aprovou uma lei para banir o aplicativo, sob o argumento de que ele representa um risco à segurança nacional devido aos vínculos de sua controladora, a ByteDance, com o governo chinês — vínculos que a empresa nega.>
Caso isso a proibição de fato seja implementada, os especialistas apontam para episódios anteriores envolvendo empresas de tecnologia chinesas e russas também banidas por motivos de segurança nacional como um possível precedente para a expansão da proibição do aplicativo em outros países.>
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"Há grandes paralelos entre o TikTok e o que aconteceu com a Huawei, da China, e a Kaspersky, da Rússia, o que indica que é apenas uma questão de tempo até que uma proibição gradual entre em vigor", afirma Emily Taylor, editora do Cyber Policy Journal.>
Em ambos os casos, essas empresas foram acusadas pelos EUA de serem uma ameaça à segurança nacional — mas nenhuma prova concreta foi apresentada pelas autoridades de cibersegurança.>
O mesmo está acontecendo com o TikTok.>
Sob a administração Trump, o software antivírus da Kaspersky foi banido de computadores civis e militares nos EUA após acusações em 2017 de que teria sido usado pelo Kremlin em um incidente de hacking que nunca foi comprovado.>
O Reino Unido acompanhou quase imediatamente a decisão e um a um, outros aliados dos EUA alinharam-se com restrições, alertas ou proibições.>
Depois de anos, a proibição em todo o território americano entrou em vigor no ano passado. Àquela altura, no entanto, ela já era praticamente redundante. A Kaspersky encerrou suas operações nos EUA e, na sequência, no Reino Unido, afirmando que não havia viabilidade comercial nesses mercados.>
A empresa sempre argumentou que o governo dos EUA baseou sua decisão no "clima geopolítico e em preocupações teóricas", em vez de verificar independentemente os riscos.>
De acordo com uma pesquisa da Bitsight, o declínio no uso da Kaspersky após a proibição foi significativo não apenas nos EUA, mas em pelo menos 25 outros países, inclusive naqueles sem políticas públicas ostensivas para banir o software.>
Quase a mesma coisa aconteceu com a gigante chinesa de telecomunicações Huawei.>
Em 2019, a Huawei foi considerada pelos EUA como a mais perigosa de uma lista de empresas chinesas de tecnologia, incluindo a ZTE, quando prisões de executivos da companhia trouxeram o problema à tona.>
O país acusou a Huawei de ter vínculos estreitos com o governo chinês e argumentou que os populares kits de 5G da empresa não deveriam ser usados na construção de redes de telecomunicações, pois poderiam ser utilizados para espionagem ou interrupção das comunicações.>
Um ex-funcionário da Huawei no Reino Unido afirmou que, uma vez que os EUA decidiram pela proibição, bloqueio ou restrição da Huawei, tornou-se quase inevitável que os aliados seguissem o mesmo caminho.>
"O Reino Unido e outros países falaram sobre chegar a suas próprias conclusões de forma independente sobre segurança, mas os EUA foram implacáveis em sua pressão nos bastidores. Eles alertaram sobre riscos à segurança nacional que nunca foram respaldados por evidências", disse o ex-funcionário, que preferiu não ser identificado.>
A intensa pressão dos EUA sobre aliados em questões de segurança é algo frequentemente observado em várias áreas da política cibernética.>
O movimento geralmente começa entre os países da aliança conhecida como "Five Eyes" ("cinco olhos", em inglês), um acordo de compartilhamento de inteligência envolve cinco países de língua inglesa: EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.>
Até agora, todos os membros proibiram o TikTok em dispositivos governamentais, e alguns emitiram alertas públicos. O Canadá ordenou o encerramento das operações do app no país, citando preocupações com a segurança nacional.>
O aplicativo já foi proibido em dispositivos de funcionários do governo, servidores civis ou militares em outros países, como Áustria, Bélgica, Estônia, França, Países Baixos, Noruega e Taiwan.>
Como visto com a Huawei e a Kaspersky, o efeito dominó dos Five Eyes pode ser considerável, e outros países influentes, como Alemanha e França, muitas vezes seguem o mesmo caminho.>
Ciaran Martin, que foi chefe do Centro Nacional de Cibersegurança do Reino Unido durante as proibições à Huawei e à Kaspersky, concorda que, geralmente, quando os EUA tomam uma decisão estratégica ou de segurança nacional sobre uma empresa, o Reino Unido e outros aliados eventualmente seguem o mesmo rumo.>
No entanto, como tudo relacionado ao TikTok, ele ressalta que há uma grande ressalva, representada pelo governo Trump que está por vir.>
"O que ainda não sabemos é se o TikTok será uma exceção, já que Trump disse ser contrário à proibição. Ele ordenará que os aliados repliquem a proibição? Ainda não sabemos.">
A posição do presidente Trump sobre o TikTok mudou drasticamente desde sua primeira presidência, quando tentou bani-lo. Desde então, ele se tornou um apoiador após sua campanha de reeleição ter ganhado força com vídeos no TikTok.>
Emily Taylor concorda que esse fator desconhecido pode tornar o TikTok diferente da Huawei e da Kaspersky.>
"Depende de quanta pressão o governo está disposto a exercer", disse ela à BBC.>
"Se a agenda de política externa estiver cheia, forçar outros aliados a seguir a proibição pode cair na lista de prioridades e permitir que os países ganhem tempo.">
Outro aspecto a se considerar sobre o futuro do TikTok após a proibição nos EUA é se o aplicativo pode continuar a prosperar sem uma base de clientes norte-americanos.>
Qualquer aplicativo que perca 170 milhões de inscritos sofreria, mas os usuários dos EUA, em particular, são valiosos para criadores, anunciantes e gastos diretos no TikTok Shop.>
Se o resto do Ocidente seguir, isso reduzirá o fluxo de recursos para a empresa e dificultará o desenvolvimento de novos recursos, aprofundando ainda mais a dominância de plataformas americanas como Instagram Reels, YouTube Shorts e Snapchat.>
O TikTok já está proibido na Índia — outro mercado massivo — e não tem presença na China por causa de seu aplicativo-irmão, Douyin.>
São três mercados grandes e importantes dos quais ficará de fora.>
A Kaspersky e a Huawei conseguiram resistir às tempestades investindo para as bases de clientes locais e se voltando para regiões como África e Oriente Médio.>
Pode ser que o TikTok também construa suas bases de usuários nesses mercados, mas, se a proibição dos EUA se espalhar pelo mundo, ele provavelmente nunca será tão grande quanto é atualmente, e pode acabar desaparecendo lentamente.>
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