Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 15:44
Os ensaios clínicos mostraram que as pessoas que tomam injeções de medicamentos para emagrecer, como Wegovy (semaglutida, que também é o princípio ativo do Ozempic) e Mounjaro (tirzepatida), perdem entre 16% e 21% do peso corporal. Mas os medicamentos não funcionam para todo mundo quando o objetivo é emagrecimento.>
Nesses estudos, um grupo de participantes perdeu menos de 5% de seu peso corporal — a perda de peso de 5% ou mais é considerada "clinicamente significativa". Estes chamados não responsivos representavam de 10% a 15% dos participantes.>
Evidências baseadas em relatos, fornecidas por especialistas em obesidade à agência de notícias Associated Press, sugerem que, fora dos limites altamente controlados dos ensaios clínicos, até 20% das pessoas não respondem bem aos medicamentos. >
Mas por que isso pode acontecer?>
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Em primeiro lugar, é importante reconhecer que as causas da obesidade são multifacetadas. >
Nossa compreensão da base genética da obesidade cresceu significativamente na última década, revelando que, para muitas pessoas, as variações genéticas têm um efeito significativo sobre seu peso.>
Por exemplo, um estudo de 2021 descobriu que 0,3% da população do Reino Unido — o equivalente a mais de 200 mil pessoas — é portadora de uma mutação genética em parte do circuito cerebral que regula o apetite, o que leva a uma média de 17 kg de peso adicional aos 18 anos.>
Essa variabilidade genética nas causas subjacentes da obesidade pode ser uma das explicações para o fato de algumas pessoas apresentarem uma resposta atenuada a esses medicamentos.>
Também é importante reconhecer como estes novos medicamentos de combate à obesidade funcionam. Qualquer pessoa que tenha tentado perder peso por meio de dieta e exercício físico sabe que essas tentativas geralmente são acompanhadas de uma sensação crescente de fome e cansaço.>
Esta é a resposta normal do corpo à perda de peso. O objetivo é proteger o que o cérebro considera seu peso corporal "normal", que para alguns pode estar na faixa da obesidade.>
Os novos medicamentos para emagrecer funcionam desativando esta resposta fisiológica, facilitando a perda de peso por meio de mudanças na alimentação e exercícios.>
Nos ensaios clínicos, os participantes recebem apoio para praticar exercícios e acesso a nutricionistas e psicólogos. Esses especialistas oferecem aos participantes suporte individualizado sobre as mudanças de estilo de vida necessárias para maximizar os benefícios desses medicamentos.>
Este suporte raramente está disponível para as pessoas fora dos ensaios clínicos, e sua ausência pode limitar a eficácia dos medicamentos se as modificações necessárias no estilo de vida não forem apoiadas por especialistas.>
Vários estudos tentaram identificar que fatores podem prever as respostas de perda de peso às injeções para emagrecer. Um fator comum para a perda de peso clinicamente significativa é um peso corporal inicial mais alto.>
Desde que foram lançadas, o "hype" da mídia em torno das novas injeções para emagrecer fez com que a demanda aumentasse entre aqueles para os quais os medicamentos foram desenvolvidos (pessoas com obesidade) e aqueles que não são obesos, mas querem perder alguns quilos.>
No Reino Unido, o Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Atendimento (Nice, na sigla em inglês) estabelece diretrizes sobre que parâmetros clínicos são necessários para que um medicamento seja receitado. >
No caso do Wegovy e Mounjaro, a pessoa deve ser obesa e ter pelo menos um problema de saúde relacionado à obesidade, como apneia do sono ou hipertensão.>
Devido à falta de remédios alternativos eficazes para perda de peso e, provavelmente, devido à cobertura da mídia que esses medicamentos receberam, houve relatos de prescrição desses remédios para uso off-label (fora das indicações da bula) para pessoas que não atendem aos critérios do Nice.>
Uma consequência provável disso é que pessoas com peso corporal inferior ao estipulado pelas diretrizes estão injetando esses medicamentos para perda de peso e, portanto, estão perdendo menos peso do que os estudos clínicos demonstraram.>
Apesar da minoria de pessoas para as quais esses medicamentos não funcionam, sua introdução promete proporcionar benefícios significativos para a saúde de milhões de pessoas que antes tinham dificuldade para perder peso.>
*Simon Cork é professor de fisiologia na Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido.>
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).>
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