Publicado em 10 de agosto de 2020 às 09:22
A condenação a dois meses de prisão de uma ativista LGBT pelo governo polonês provocou protestos e novas prisões neste final de semana e levou deputados do Parlamento Europeu a pedir que a União Europeia imponha sanções à Polônia, "pelas violações generalizadas e persistentes do Estado de direito, dos direitos fundamentais e dos valores da UE". >
Conhecida como Margot, a ativista foi presa por pendurar bandeiras com as cores do arco-íris, um símbolo LGBT, em estátuas religiosas. Ela também é acusada de ter cortado os pneus de uma van com slogans homofóbicos de um entidade antiaborto e ter pintado o veículo e colocado faixas coloridas sobre ela.>
Durante a prisão de Margot, houve confronto entre ativistas e polícia, registradas em vídeos nas redes sociais. Alguns dos participantes foram espancados e outras 48 pessoas que tentavam impedir a prisão de Margot também foram levadas para a cadeia.>
Neste sábado (8), uma passeata de militantes de direita provocou novos conflitos em Varsóvia.>
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Participantes da Marcha da Revolta de Varsóvia carregavam cartazes com as palavras "fim do totalitarismo", "família normal - Polônia forte" e "movimento nacional", e cantavam slogans como: "Uma vez com uma foice, uma vez com um martelo, uma ralé vermelha", "Não é um arco-íris, não é vermelho, apenas a Polônia nacional".>
A confusão começou quando militantes de esquerda penduraram nas janelas da sede do partido faixas com os slogans "levante-se contra o fascismo" e "feminismo, não o fascismo" durante a passagem dos ativistas nacionalistas.>
Os manifestantes de direita atiraram garrafas contra o prédio e gritaram palavrões e ameaças. A polícia tentou entrar no escritório, acusando os ativistas de esquerda de "perturbar a ordem", mas foi impedida por parlamentares.>
"O ataque aos ativistas LGBTI lembra mais os protestos de grupos perseguidos na Rússia do que uma democracia europeia moderna", afirmou neste domingo (9) o eurodeputado Dacian Ciolos, presidente do Renew Europa, grupo de centro do Parlamento Europeu.>
Ciolos tem pressionado para que as instituições europeias adotem restrições mais efetivas ao repasse de verba para países que desrespeitam direitos civis.>
Na última semana, a Comissão Europeia havia cortado verbas de seis cidades polonesas que se declararam "zona livre de LGBT", um gesto mais simbólico que prático -os recursos são pequenos (25 mil euros) e há ao menos outras cem cidades no país manifestadamente hostis aos homossexuais.>
"As detenções são um excelente exemplo de como as violações dos direitos humanos andam de mãos dadas com a destruição da supervisão judicial independente no país", afirmou Michal Simecka, relator paralelo sobre a Polônia no Parlamento.>
O ministro da Justiça, Zbigniew Ziobro, porém, defendeu as prisões, dizendo que a polícia teve que agir para enfrentar ataques "ainda mais violentos" de ativistas.>
Em rede social, a comissária Dunja Mijatovic, do Conselho da Europa, entidade de defesa dos direitos humanos, pediu a libertação da ativista: "A ordem de prisão por dois meses envia um sinal assustador sobre a liberdade de expressão e os direitos LGBT na Polônia".>
Para a eurodeputada Sophie in 't Veld, vice-presidente do intergrupo LGBTI e coordenadora na Comissão das Liberdades Civis, os conflitos dos últimos dias mostram uma escalada do governo.>
"As autoridades polonesas passaram para o próximo nível de sua campanha homofóbica. Estamos passando rapidamente do discurso de ódio para realmente prender e intimidar as pessoas. Não se trata apenas do desmantelamento deliberado do regime democrático de lei, é também um ato de desafio à UE.">
O governo do partido conservador Lei e Justiça (PiS) tem tomado várias ações para limitar direitos homossexuais, como a proibição de adoção.>
Durante sua campanha para a reeleição, o presidente Andrzej Duda prometeu proibir o ensino de "questões de gênero" nas escolas e afirmou em discursos que os homossexuais eram "inimigos piores que os comunistas". Num deles, declarou: "Estão tentando nos convencer de que eles são gente, e isso é simplesmente ideologia".>
Na cerimônia de posse, na última quinta (6), deputados de esquerda usaram faixas arco-íris cobrindo suas bocas, como forma de protesto contra o que identificam como perseguição contra os LGBT.>
"A Polônia é para todos. Ainda existem muitos grupos na Polônia que precisam se esconder ou precisam fugir da repressão. O papel dos políticos não é lavar as mãos ", afirmou a parlamentar da esquerda Agnieszka Dziemianowicz-Bak.>
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