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Campanha homofóbica de aliado de Putin causa polêmica na Rússia

Campanha homofóbica de aliado de Putin causa polêmica na Rússia

Vídeo pede voto em mudança constitucional que define casamento como algo entre homem e mulher

Publicado em 3 de junho de 2020 às 12:37

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Militantes pedem paz e amor durante parada gay
Marchas de orgulho LGBT acontecem cada vez menos, já que desde 2012 são reprimidas em locais como a capital russa. (Divulgação)

Um vídeo de caráter homofóbico, pedindo voto para a mudança que entroniza na Constituição a definição de casamento como algo entre homem e mulher, está provocando críticas na Rússia.

A peça foi divulgada em redes sociais pelo grupo Patriota, uma ONG que tem Ievguêni Prigojin como principal nome. O empresário é um aliado próximo do presidente Vladimir Putin.

No vídeo, um rapaz chega a um orfanato em 2035 para adotar um garoto, deixando as assistentes sociais enlevadas. Quando todos saem do prédio, o menino pergunta "Onde está a mamãe".

"Aqui está sua nova mãe, não fique chateado", o pai responde. Aí, um outro homem, com roupas femininas, sai do carro e oferece um vestido para o garoto, deixando as assistentes em choque.

A alteração legal proposta por Putin no começo do ano, e aprovada pelo Parlamento, visa permitir ao presidente que volte a se candidatar ao cargo em 2024 e, se reeleito, em 2030, estendendo potencialmente seu reinado, iniciado há 20 anos, até 2036.

Em 1º de julho, apesar de a Rússia ser o terceiro país com mais casos de Covid-19 do mundo, um referendo irá decidir sobre a adoção da medida. Mas o russo colocou outros itens, inclusive um artigo que define casamento como uma instituição heterossexual, além de estabelecer a Rússia como um país temente a Deus.

O casamento gay já é proibido na Rússia. Em 2018, um casal de homens conseguiu registro em Moscou a partir de uma brecha legal, validando sua certidão obtida na Dinamarca. Marchas de orgulho LGBT acontecem cada vez menos, já que desde 2012 são reprimidas em locais como a capital russa.

Isso tudo faz parte da guerra cultural que Putin, hoje em seu quarto mandato, acirrou a partir de sua volta ao Kremlin após um período como premiê de 2008 a 2012.

De lá para cá, a Rússia tornou-se muito mais assertiva no cenário internacional, como a anexação da Crimeia em 2014 mostra, e Putin buscar reforçar sua noção de identidade nacional.

Valores da Igreja Ortodoxa viraram questão de Estado, com a proximidade da hierarquia eclesiástica do Kremlin. Um dos pontos atacados por ambos é a homossexualidade, cuja promoção é tratada por Putin como um sinal da decadência ocidental.

Assim, em 2013 Putin fez passar leis criminalizando o que chama de "propaganda gay para menores", algo amplamente criticado no Ocidente. Enquanto há clubes LGBT mais ou menos disfarçados em grandes centros como Moscou, em regiões como a Tchetchênia a repressão é brutal.

O líder opositor Alexei Navalni postou uma crítica ácida à peça no Twitter, e a rede social VKontakte, o Facebook russo, está em polvorosa.

A pressão contra a união homossexual e a adoção de crianças por casais do mesmo sexo encontra bastante eco na sociedade russa.

Pequisa do Centro Levada, instituto de opinião pública independente e criticado pelo Kremlin, mostrou que em 2018 83% dos russos viam a homossexualidade como repreensível. Dez anos antes, eram 76% e, em 1998, 68%.

O porta-voz do Patriota, Nikolai Stoliartchuk, divulgou uma nota negando que haja homofobia no vídeo. Disse que apenas está defendendo a família segundo valores russos.

Prigojin, o patrono do grupo, é conhecido como o "chef de Putin", porque uma empresa sua fornecia refeições e banquetes no Kremlin.

Sua proximidade, contudo, é maior. Ele é acusado de fomentar o Grupo Wagner, organização militar que fornece mercenários para operações de Moscou em locais como a Síria e a Líbia. Ele nega tais laços, que o levaram a sofrer sanções econômicas e criminais dos EUA.

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