Publicado em 11 de maio de 2020 às 15:20
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou o início da suspensão das medidas de contenção do novo coronavírus no país a partir desta terça-feira (12). >
De acordo com Putin, o governo russo adotará programas de ajuda financeira a famílias cujos membros perderam o emprego ou tiveram que trabalhar de casa, e a empresas que precisaram fechar as portas temporariamente no país.>
A retomada deve ser gradual, respeitando as características de cada região. Em Moscou, por exemplo, as restrições devem permanecer em vigor até pelo menos 31 de maio.>
A iminência da reabertura, no entanto, não diminuiu o tom das críticas dos estudantes de medicina do país, que dizem estarem sendo forçados por autoridades russas a trabalhar no combate ao coronavírus, mesmo sem a experiência e os cuidados básicos necessários.>
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"Aqueles que não vão, não recebem diploma e correm o risco de serem expulsos", denuncia Svetlana, estudante de medicina do sexto ano em Moscou, à agência de notícias AFP.>
Dado o número de infecções, o sistema de saúde russo -enfraquecido pela falta de pessoal, anos de cortes no orçamento e reformas controversas- está sob pressão. A implantação de quase 100 mil leitos adicionais em todo o país está se mostrando insuficiente.>
Em 27 de abril, os Ministérios da Saúde e da Educação emitiram um decreto ordenando aos estudantes de medicina do quarto, quinto e sexto períodos a realização de "treinamento prático" em hospitais que tratam pacientes com Covid-19, a partir de 1º de maio.>
Somente aqueles com "contraindicações médicas" estão isentos.>
Segundo vários testemunhos coletados pela AFP, como o de Svetlana, alguns estudantes afirmam que estão sendo ameaçados de exclusão caso se recusem a participar. Eles pedem para permanecer anônimos por medo de retaliação.>
Também estão preocupados com a falta de equipamentos de proteção individual nos hospitais. As autoridades reconhecem que há dificuldades, mas minimizam o alcance.>
Alexandra, no quarto ano de medicina na Universidade de Setchenov, é franca: se "os médicos não têm os meios de proteção, duvido muito que exista o suficiente para nós".>
A jovem também afirma que não vão realocá-la e que não quer arriscar "infectar seus pais" que moram na mesma residência. Sem proteção e sem experiência, "não ajudaremos e espalharemos a infecção".>
Elena, em seu segundo ano em Setchenov e, portanto, isenta da mobilização, afirma que alguns colegas receberam ameaças.>
"Se você não aceitar, não terá diploma, ou especialização", disseram eles, segundo ela.>
Em um apelo anônimo publicado nas redes sociais, estudantes da Universidade de Pirogov pediram ao reitor, Sergey Lukianov, para estabelecer o "voluntariado" como um princípio.>
Nem essa universidade nem a Secretaria de Saúde de Moscou responderam aos pedidos de resposta da AFP.>
A vice-reitora da Universidade de Setchenov, Tatiana Litvinova, afirma que trabalhar em uma área que trata de pacientes com Covid-19 não é obrigatório.>
"Se um aluno não quiser, pode continuar seu treinamento em outro centro. Ninguém o está forçando", disse Litvinova, contrariando o texto do decreto, que afeta mil estudantes.>
Também promete que os estudantes que estiverem em contato com pacientes em Moscou receberão até 100 mil rublos (cerca de R$ 7.700) e terão "meios de proteção individual".>
Para Ivan Konovalov, do sindicato Alianças de Médicos, mobilizar estudantes não resolverá os problemas de falta crônica de pessoal, êxodo de médicos e contaminação entre profissionais da saúde.>
"Mesmo os [estudantes] do último ano não têm experiência em trabalhar nessas condições". Também explica que as autoridades estão mobilizando os estudantes devido a uma falta crônica de pessoal.>
Nesse contexto, os estudantes lançaram uma petição online, pedindo a anulação do decreto. Outro grupo organizou um protesto no Instagram contra o "trabalho forçado".>
A Rússia tem o quarto maior número de casos de Covid-19 no mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Espanha e Reino Unido. Até esta segunda (11), são mais de 221 mil casos e cerca de 2.009 mortes, de acordo com a universidade americana Johns Hopkins.>
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